Organizações pela transparência em Portugal elogiaram o congelamento das contas de Isabel dos Santos e de pessoas ligadas à empresária angolana: "Medida necessária, mas já devia ter sido tomada”.
Publicidade
Organizações da sociedade civil saudaram o congelamento dos bens de mais de 30 contas de Isabel dos Santos em bancos do país. O marido da empresária angolana, Sindika Dokolo, sua sócia, Paula Oliveria, e seus advogados, Mário Leite da Silva e Jorge Brito Pereira, também tiveram contas arrestadas. O montante em causa mantem-se em segredo de justiça.
A Transparência e Integridade – Associação Cívica (TIAC Portugal) considera que esta é "uma excelente notícia para Angola” e "uma boa notícia para a luta contra a corrupção em Portugal”. A diretora executiva da organização, Karina Carvalho, considera que a decisão indica que os "acordos de cooperação” entre Portugal e Angola "estão a dar frutos”.
Para Carvalho, são "sinais que essa cooperação está ativa e a funcionar, mas é importante que ela se estenda para além de Isabel dos Santos”. A integrante da TIAC Portugal acha que se trata de um "bom sinal”, a circunstância das contas estarem congeladas, mas é importante garantir que o proveito da venda das participações de Isabel dos Santos em Portugal não reverta para ela própria, que retorne a Angola e aos angolanos.
"Eu acho que é importante igualmente garantir que situações como esta não aconteçam no futuro, e que o Banco de Portugal - enquanto entidade de supervisão - consiga de uma forma definitiva estabilizar os mecanismos de controlo e de supervisão de forma a que pessoas politicamente expostas não possam continuar a roubar ilicitamente os fundos dos seus países”, disse.
Procedimentos imorais
Os prejuízos causados por Isabel dos Santos aos cofres do Estado angolano rondam 2 mil milhões de euros, segundo o Supremo Tribunal de Angola. O integrante da Plataforma de Reflexão Angola, Manuel Dias dos Santos, considera que se trata de uma decisão que deveria ter sido tomada há muito tempo.
Dias dos Santos acredita que é uma forma de prevenir que ativos sejam transferidos para fora do território português. "Um dos grandes dramas deste tipo de circunstâncias é a forma como os capitais podem facilmente fluir de um espaço geográfico para outro. Acho que esta medida é para todos os efeitos uma medida necessária e que, no meu ponto de vista e do ponto de vista da Plataforma de Reflexão, já devia ter sido tomada”, considera o ativista.
Dias dos Santos questiona os meios usados pelo Estado angolano para a recuperação dos capitais que, segundo ele, estariam a ser transferidos para o exterior de forma "imoral".
"Será a forma como institucionalmente o Estado angolano vai procurar chegar a esses recursos saídos do país que vai determinar aquilo que serão ações futuras ou não”, disse.
Entidades comemoram arresto de contas de Isabel dos Santos
Questões pendentes
Karina Carvalho acha que outras questões devem ser respondidas, por exemplo, quando faz alusão a um relatório do Banco de Portugal sobre o Eurobic retido na gaveta desde 2015. Carvalho adverte que é preciso perceber o que falhou na ação da supervisão relativamente à aplicação das medidas de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo.
"Europa e Portugal têm responsabilidades massivas em termos de branqueamentos de capitais e financiamento do terrorismo, mas também em termos de direitos humanos. É importante garantir que o dinheiro essencial para o desenvolvimento sustentável das nações mais pobres do mundo não cheguem à Europa desta forma”, disse.
A Transparência e Integridade Portugal, a Plataforma de Reflexão Angola e o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa promovem uma mesa redonda, nesta quarta-feira (12.02), para debater precisamente a dimensão do Luanda Leaks e o alcance da corrupção em Angola e Portugal.
O arresto ordenado pela justiça portuguesa envolve contas nos bancos EuroBic, BPI, Millennium BCP e Caixa Geral de Depósitos. A decisão judicial desta terça-feira surge três semanas após o encontro entre o Procurador-Geral da República de Angola, Hélder Pitta Grós, e sua homóloga portuguesa, Lucília Gago, em Lisboa.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.