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ArteCabo Verde

Arte colonial africana na Europa: É tudo resultado de roubo?

3 de novembro de 2023

Germano Almeida considera "justa" a devolução dos objetos de arte africana trazidos para Portugal na era colonial. O escritor cabo-verdiano concorda que Portugal deve perder o complexo de descolonização dos seus museus.

Escritor cabo-verdiano Germano Almeida
Foto: Imago/GlobalImagens

O escritor cabo-verdiano, Prémio Camões 2018, diz, em entrevista à DW, que esta matéria deve ser tratada com bom senso pelas partes interessadas. 

Questionado sobre o que pensa da problemática questão da restituição aos países de origem das obras de arte trazidas para a Europa durante o período colonial, Germano Almeida responde: "Eu acho que tem de haver, sobretudo, bom senso nesta questão das devoluções. Há muitos países que já aceitam devolver. Não sei se aceitam devolver tudo".

O escritor cabo-verdiano, defensor da elevação a Património da Humanidade da Cidade Velha e do Campo de Concentração de Tarrafal, aconselha um "entendimento razoável" entre as partes sobre os procedimentos desta devolução "na medida em que não podem ser levados à força".

De Cabo Verde não terão saído peças de arte, recorda Germano Almeida, que reconhece a complexidade em se tomar uma posição sobre este processo, suscitado em 2018 pelo relatório encomendado pelo Presidente francês, Emannuel Macron.

"Pode-se tomar posição sobre isto. Podemos dizer: é justo que essas coisas sejam devolvidas. A mim parece-me justo que sejam devolvidas. Agora, em que condições? Foram roubadas, foram trazidas, foram conquistadas, foram o quê?", indaga.

Nem tudo foi roubo...

A questão prende-se com a devolução das obras roubadas, mas também com as coleções resultantes de missões científicas ou de doações da administração colonial. 

Tal como o próprio processo colonial, as sequelas desta necessidade de devolução do tesouro cultural patente nos museus portugueses serão também longas, reconhece Germano Almeida.

"Eu acho que acabará por acontecer essa devolução", admite, embora, para isso, Portugal tenha de perder o "complexo" de descolonizar os seus museus.

Recentemente, a França devolveu peças de arte africana Foto: Michel Euler/AP/dpa/picture alliance

"A descolonização não foi feita completamente, nunca será feita completamente, mas também seria uma forma de avançar com a descolonização", diz.

O escritor falou à DW à margem do lançamento, no Centro Cultural de Cabo Verde, do seu novo livro "Infortúnios de um Governador nos Trópicos", apresentado pelo diplomata Daniel Pereira.

Preservação é uma desculpa para não devolver?

O também historiador cabo-verdiano concorda com a "devolução imperiosa" desse património, mas questiona sobre a sua preservação nos países de onde foram retiradas as obras de arte durante o período colonial, de forma ilegítima.

"Depois, elas encontrarão nos países de origem condições para as ter como deve ser? Esse é o grande problema." Porém, o historiador afirma: "Julgo que deviam ser devolvidas peças valiosas que identificam a cultura do país de onde elas foram retiradas e [trazidas] para os países europeus."

A devolução, na opinião do historiador, não deve acontecer apenas em relação a África. Daniel Pereira dá o exemplo das peças das civilizações egípcia e grega, entre outras, que proliferam nalguns museus europeus. "Imagino que isso ainda dará azo a muita disputa", admite.

"É preciso debater muito mais essa questão, mas não sei se se vai conseguir esse desiderato", desconfia. 

Germano Almeida diz, por seu lado, nunca ter pensado neste tema a ponto de um dia retratar esta temática na sua obra, mas concorda que poderá ser "uma boa ideia se alguém pegar no assunto".

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