Moçambique assinala hoje 45 anos de independência. A oposição analisa com tristeza o percurso do país, apontando a violência, a violação dos direitos humanos e a corrupção como setores que mancham o desenvolvimento.
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A oposição moçambicana não está convencida com os argumentos do Governo, que tem estado a afirmar que o pais registou avanços assinaláveis rumo ao desenvolvimento nos últimos 45 anos.
O Governo aponta para vários setores que registaram desenvolvimento como a indústria, educação, saúde, bem como a preservação da paz e da unidade nacional. Mas o porta-voz do maior partido da oposição, a RENAMO, José Manteigas, nega que o país se tenha desenvolvido.
"Um país que tem todos os recursos desde faunísticos, marítimos, minerais, como é possível que, num universo de quase 30 milhões de habitantes, 21 milhões sejam pobres? Então, isso é a consequência da má gestão da coisa pública", sublinha.
A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) considera que os moçambicanos, durante os últimos 45 anos, sentiram-se excluídos, oprimidos, colonizados pelo próprio libertador e viram os direitos humanos violados.
"Há violação sistemática dos direitos humanos, silenciar de todos aqueles que pensam de forma diferente, apesar de estarmos num Estado de direito democrático. Por isso assistimos às detenções arbitrárias de jornalistas, académicos, fazedores da opinião pública e a assassinatos", lembra o porta-voz da RENAMO.
Povo sem acesso a bens primários
O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) também sublinha que a população não tem acesso a bens primários. "Não faz sentido, 45 anos depois, aqui na capital do país temos crianças que se sentam no chão, enquanto vendemos a nossa madeira para a China", diz o delegado provincial do partido em Maputo, Augusto Pelembe.
"Temos na baixa da capital mais de 10 mil informais porque não há emprego. Aqui em Maputo, em Mapulanguene, as pessoas bebem água com bois e em Nicuali [província de Tete], as pessoas não têm água potável", critica.
Ainda de acordo com Augusto Pelembe, os níveis de corrupção em Moçambique aumentaram, sobretudo nos últimos vinte anos, o que resulta no desespero da população.
"Nós hipotecámos um país com mais de dois mil milhões de dólares. O que se fez com esse dinheiro em benefício da população? Se levássemos esse dinheiro para investir em Cabo Delgado, o que seria Cabo Delgado hoje? Será que a população seria vulnerável a aceitar qualquer aliciamento se tivesse futuro garantido? Acho que não", conclui.
Mais desigualdades sociais
Para João Massango, secretário-geral do Partido Ecologista, as desigualdades sociais aumentaram de forma dramática no país. "Nós estamos a notar o crescimento de ricos, mas que esses indivíduos são da linhagem da FRELIMO. É marginal aquele indivíduo que não coaduna com o sistema implantado pela FRELIMO", frisa.
O analista político Dércio Alfazema, do Instituto para a Democracia Multipartidária, Dércio Alfazema, nota que o país ainda não teve tempo para se olhar como nação, devido aos intervalos de violência que se registam. "Somos o país que se vai construindo com base na violência, conflitos e ameaças de paz. Isso reduz um pouco essa questão dos 45 anos. Mesmo num ambiente de paz e tranquilidade, não podemos afirmar que é tempo mais do que suficiente para resolvermos os problemas que herdámos do período colonial", afirma.
Dércio Alfazema realça ainda os desafios no combate à corrupção e à defesa dos direitos humanos que, a seu ver, impactuam negativamente a construção da nação moçambicana. "Um jornalista preso quando está a exercer a sua atividade, um ativista que é violentado porque deu uma opinião que um segmento da sociedade não concorda: a violência contra esses cidadãos traz um dano muito grande àquilo que queremos como nação", considera.
No início deste mês, numa mensagem de exortação proferida no dia 1 de junho, o Presidente Filipe Nyusi destacou que a independência, em 1975, abriu uma nova era em que os moçambicanos passaram a ser donos dos seus destinos.
Figuras socialistas e marxistas imortalizadas nas avenidas de Maputo
Várias avenidas de Maputo têm nomes de personalidades estrangeiras de ideologia socialista e marxista. Muitas apoiaram a luta da independência moçambicana. Os seus nomes são homenageados em vários locais da capital.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Julius Nyerere – o amigo da Tanzânia
Liga o sul, na zona de cimento, aos bairros periféricos do norte. Julius Nyerere foi presidente da Tanzânia entre 1961 a 1985. Em 1967, defendeu o socialismo, inspirado pela antiga União Soviética. Foi amigo de Moçambique e chegou a ceder o seu território à FRELIMO, durante a luta pela independência, o que lhe valeu a atribuição desta avenida.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Vladimir Lenine- inspiração marxista-leninista
Vai da baixa da capital até à Praça dos Combatentes, numa extensão de quase quatro quilómetros. Vladimir Lenine, Presidente da URSS, é um dos rostos da criação e disseminação do comunismo pelo mundo. Depois da independência, Moçambique adotou um socialismo de inspiração Marxista-Leninista e muitos moçambicanos viajaram para a URSS para formações de ideologia marxista-leninista.
Foto: DW/R. Da Silva
Avenida Ho Chi Minh - "o que dá luz"
Começa na atual sede da Comissão Nacional de Eleições, na parte centro-este, e termina na escola Secundária Francisco Manyanga, na parte ocidental. Ho Chi Minh, que significa para os vietnamitas “o que dá a luz”, foi o nome que Nguyen Ai Quoc adotou. Também amigo de Moçambique, valeu-lhe atribuição desta avenida por ter inspirado a FRELIMO a adotar os ideais comunistas.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Kim Il Sung - apoio norte-coreano
Começa no Hospital Central de Maputo e termina perto da Embaixada da Alemanha, numa extensão de cerca de 1500 metros. Kim Il Sung é avô do atual presidente Kin Jung-un. O nome da avenida recorda o apoio da Coreia do Norte na luta pela independência moçambicana. Samora Machel visitou várias vezes a Coreia do Norte de Sung e ainda hoje Moçambique mantém boas relações políticas com o país.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Olof Palme - da Suécia para Moçambique
Localiza-se no bairro central, no centro da cidade de Maputo. Olof Palme é considerado uma das figuras maiores da social-democracia sueca. Justiça social, igualdade e paz eram seus ideais mais acalentados. Levou a Suécia para a arena internacional moderna, dedicando-se a temas como o socialismo, a paz e a solidariedade. É dos poucos governantes europeus que constam da lista das avenidas de Maputo.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Nkwame Nkrumah – primeiro presidente da África Negra
Localiza-se no centro da capital, na zona nobre de Maputo. Nkrumah foi Presidente do primeiro Estado independente da África Negra, o Gana. Em 1952, ainda no período da colonização, no seu primeiro discurso como primeiro-ministro, Nkrumah proclamou-se socialista, marxista e cristão. Não tardou a ter uma avenida em Maputo, pois a FRELIMO também era um partido de orientação socialista.
Foto: DW/R. da Silva, Getty Images/Express/T. Fincher
Avenida Salvador Allende - defensor do marxismo
Esta avenida tem localização central na zona nobre da capital e conta com um único sentido. Salvador Allende foi Presidente do Chile e o primeiro Presidente com ideais comunistas, eleito em eleições livres, a assumir o cargo num país latino-americano. Allende era marxista e atuou politicamente defendendo os valores característicos dessa ideologia.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Mao Tse Tung – símbolo de uma longa amizade
Mao Tse Tung defendia uma visão revolucionária do comunismo, em que todos os aspetos da sociedade, cultura, economia e política deveriam estar a serviço de causas ideológicas. Depois da independência, Moçambique inspirou-se nos ideais do Partido Comunista Chinês. Os dois países são amigos de longa data, tendo os chineses ajudado a FRELIMO na luta contra o colonialismo.
Foto: Dw/R. da Silva
Avenida Karl Marx – motor da mudança ideológica
É uma das avenidas mais frequentadas na capital. De nacionalidade alemã, Karl Marx foi um influente pensador na questão da luta de classes. Em 1977, o partido FRELIMO deixou de ser uma frente armada para ser um partido de ideologia marxista-leninista, com monopólio exclusivo do poder político e instaurando o partido único. Para imortalizar a influência de Marx, foi-lhe atribuída esta avenida.
Foto: picture alliance/Glasshouse Images, DW/R. da Silva
Avenida Friederich Engels – inspiração contra injustiças sociais
Nesta avenida, pode contemplar-se uma bela paisagem marítima. Engels, amigo próximo de Marx, desenvolveu a sua teoria sobre as classes trabalhadoras, ao observar a miséria e as condições dos operários que viviam dentro do regime capitalista. Em algumas das suas obras, denunciou as injustiças sociais. Inspirou Samora Machel e a FRELIMO a adotarem uma política em defesa das classes sociais.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Patrice Lumumba – o herói congolês
Patrice Lumumba lutou contra o imperialismo europeu. O seu partido, o Movimento Nacional Congolês (MNC), identificava-se como comunista. Após a independência do seu país, em 1960, Lumumba foi eleito primeiro-ministro. Um ano depois, foi preso, e, em janeiro de 1961, foi barbaramente assassinado. Como homenagem, a FRELIMO atribui o seu nome a uma avenida e a um bairro na Matola.