Analista ouvido pela DW acredita que a exoneração do ministro dos Transportes e Comunicações está relacionada com uma série de crises. Linhas Aéreas de Moçambique, empresa Tmcel e cartas de condução são alguns exemplos.
Publicidade
O Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, exonerou esta segunda-feira (13.06) o ministro dos Transportes e Comunicações, Janfar Abdul, e a sua vice, Manuela Ribeiro.
O governante não resistiu às muitas crises que foram parar à sua secretária. Uma delas tem que ver com os problemas na emissão de cartas de condução, que se prolongam há meses.
A 15 de fevereiro, o porta-voz do Conselho de Ministros, Inocêncio Impissa, já havia chamado a atenção para a necessidade do Instituto Nacional de Transportes Rodoviários (INATRO) tomar medidas sobre o problema das cartas de condução.
"Inclusive que o INATRO encontrasse imediatamente soluções para prestação de serviços aos cidadãos. O cidadão não pode e nem precisava saber que há problemas de contratação ou não com o provedor da carta", destacou na altura.
Mas, de acordo com o advogado Elvino Dias, a crise das cartas de condução terá sido a gota de água. A emissão das cartas ficou suspensa durante duas semanas, e o preço aumentou o equivalente a cerca de 8 euros para mais de 30 euros.
Desvios na Tmcel
Além disto, houve também problemas na operadora de telecomunicações estatal Tmcel.
Publicidade
Há dois meses, Mohamed Rafique Mohamed, o presidente do conselho de administração da Tmcel - tecnicamente falida devido a um suposto desvio de mais de 47 milhões de dólares -, veio a público anunciar uma reestruturação dos recursos humanos.
"Nós neste momento temos mais custos do que receitas e esta é uma fórmula para o fracasso. Temos de inverter este cenário urgentemente. Até 2022, temos de ter mil trabalhadores a menos", alertou então.
São dossiers que, aos olhos do advogado Elvino Dias, terão levado à exoneração do ministro Janfar Abdul.
Problemas na LAM
Sem contar com os problemas nos transportes públicos, que fazem com que muitos moçambicanos recorram a veículos de caixa aberta para se movimentar, os chamados "my love". E já para não falar da falência técnica das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM).
"Temos uma instituição de bandeira nacional que que veio publicamente declarar que está tecnicamente falida. Ora, se olharmos para estes dois vetores, por um lado a LAM e por outro o caos que se vive nestes "my love", concluímos claramente que o ministro não conseguiu responder às expetativas que o povo criou", diz Elvino Dias.
"O que não se justifica que um Estado que prima pelo chamado bem-estar social das pessoas. Estávamos perante um ministro que estava a ocupar uma pasta e nem se quer sabia o que estava a fazer naquela pasta", conclui o advogado.
Num outro despacho, divulgado esta segunda-feira (13.06), o Presidente Filipe Nyusi nomeou Mateus Magala como o novo ministro dos Transportes e Comunicações.
O drama dos transportes em Inhambane
Sobrelotados, danificados e sem condições mínimas de segurança: os transportes públicos da província de Inhambane, no sul de Moçambique, têm graves problemas.
Foto: DW/L. d. Conceição
Sem condições
Em Inhambane, passageiros vêem-se obrigados a viajar em veículos sobrelotados e sem as mínimas condições de segurança - muitas vezes ao lado de mercadorias. Da cidade de Maxixe, capital económica da província, saem muitas viaturas para os distritos do interior. Mas as vias de acesso estão muito degradadas, o que explica os danos nas viaturas, dizem os condutores.
Foto: DW/L. d. Conceição
Ir para a escola de "My Love"
Os alunos que estudam longe de casa enfrentam vários riscos para chegar à escola em viaturas de caixa aberta, conhecidas como "My Love", principalmente nos distritos de Maxixe, Morrumbene, Massinga, Homoíne, Jangamo, Panda e Vilankulo. O "transporte escolar" não respeita as normas de segurança e os acidentes são frequentes.
Foto: DW/L. d. Conceição
Longas distâncias de pé
Fazer vários quilómetros de pé nos transportes coletivos é rotina para muitas pessoas em Inhambane. Isto, porque alguns proprietários dos carros que fazem serviços de transporte proíbem os passageiros de se sentarem para poderem transportar um maior número de pessoas. Quando chegam ao destino - muitas vezes depois de percorrerem 50 quilómetros de pé - o corpo ressente-se.
Foto: DW/L. d. Conceição
A idade não é um posto
Os problemas afetam todos os passageiros - não há exceções para os idosos, que viajam também em más condições. O Governo tem vindo a prometer melhores condições para a terceira idade, mas a situação continua precária. E os preços dos transportes continuam elevados para todos, dos mais novos aos mais velhos.
Foto: DW/L. d. Conceição
Sem alternativas
Para quem tem carro próprio, as vias de acesso degradadas, que chegam a ficar intransitáveis quando chove, são um fator que pesa muito na decisão de conduzir até ao destino. E muitos outros não têm escolha: ou viajam de "My Love" ou ficam em terra. Entre os passageiros, idosos, mulheres grávidas ou com crianças de colo também têm muitas vezes mercadorias como companheiros de viagem.
Foto: DW/L. d. Conceição
Luxo…de passagem
Os autocarros com melhores condições saem da capital, Maputo, com destino a Inhambane, Vilankulo, Mambone, Massinga e Inhassoro. Não apanham passageiros pelo caminho, nas localidades mais pequenas. E, muitas vezes, já vêm sobrelotados de Maputo. A população pede às autoridades da província que melhorem os transportes entre distritos, para acabar com as viagens em carrinhas de caixa aberta.
Foto: DW/L. d. Conceição
150 quilómetros de desconforto
Esta viatura faz transporte público da cidade de Maxixe até ao distrito de Funhalouro, a mais de 150 quilómetros. As pessoas são obrigadas a viajar de pé e a partilhar o espaço com mercadorias. A agravar a situação está uma via de acesso em péssimas condições.
Foto: DW/L. d. Conceição
Viagem de risco para o interior
A história repete-se para muitos que vivem no interior da província. As deslocações entre os locais de residência e as cidades fazem-se em viaturas de caixa aberta, muitas vezes com material de construção, galinhas e produtos alimentares a dificultar uma viagem já em si perigosa.
Foto: DW/L. d. Conceição
De txopela nas zonas urbanas
Nas cidades e vilas, há alternativa aos "My Love". Aumenta o número das chamadas txopelas - motorizadas de três rodas - na maioria, provenientes da Índia, que acabam por tirar alguns jovens do desemprego. Mas nem todos os cidadãos têm dinheiro para andar de txopela nos centros urbanos: em média, uma viagem custa 150 meticais (cerca de 2 euros).
Foto: DW/L. d. Conceição
Só para estradas pavimentadas
Os mini-autocarros de 15 lugares são usados apenas em estradas pavimentadas ou alcatroadas, e a província de Inhambane só tem a Estrada Nacional. Muitas viaturas como estas não conseguem entrar em alguns distritos, como Funhalouro e Panda, devido ao estado das vias de acesso. Arriscar a entrada em estradas degradadas pode obrigar a uma visita ao mecânico.
Foto: DW/L. d. Conceição
Problemas também no transporte oficial
O Governo de Moçambique tem alocado todos os anos viaturas para o transporte de passageiros nas províncias. Mas, por falta de condições nas estradas, os veículos operam apenas em zonas urbanas. O Estado tem vindo a entregar a gestão destes transportes a terceiros, a título de empréstimo, mediante uma taxa mensal. Mesmo assim, os transportes públicos oficiais também estão sobrelotados.
Foto: DW/L. d. Conceição
Até quando?
Tal como os "My Love" demoram a chegar ao destino - devido também ao excesso de peso a diminuir a velocidade - a solução para os transportes públicos em Inhambane tarda igualmente em chegar. Ainda não há fim à vista para o transporte de passageiros em viaturas de caixa aberta. Até lá, veículos como este continuarão a ser adaptados para transportar passageiros e mercadorias.