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Jornalismo independente atacado em Moçambique

Amós Fernando (Tete)
2 de novembro de 2016

Em menos de uma semana, três órgãos de comunicação social na província de Tete, centro de Moçambique, foram alvo de vandalização, por desconhecidos. A polícia recuperou parte do material roubado.

Mosambik  Aparicio Nascimento
Aparício Nascimento, diretor do semanário MalachaFoto: DW/A. Zacarias

Na quinta-feira passada (27.10) a rádio comunitária de Cateme foi vítima de um assalto. Dois dias depois o semanário Malacha seria vandalizado e na madrugada da última segunda-feira  (31.10)  um grupo de cinco homens entraria na Rádio Dom Bosco sem no entanto concretizar o furto.

O semanário ficou sem todo o material informático, dois gravadores digitais, uma câmara fotográfica e o arquivo digital do jornal que remonta a 2011; já na rádio Cateme foram subtraídos material informático, microfones, um recetor profissional, consolas, uma câmara digital e uma motorizada.

Estes três órgãos de comunicação social são conhecidos pela sua imparcialidade na cobertura e abordagem de casos de corrupção e da atual crise político-militar para além de terem noticiado o caso dos refugiados moçambicanos no Malaui, no início do ano, quando as autoridades locais o negavam.

Refugiados moçambicanos em VanduziFoto: DW/B. Jequete

Em entrevista à DW África, Aparício Nascimento,  director do semanário Malacha, editado na vila de Moatize, contabiliza os prejuízos. " Perdemos tudo aquilo que tínhamos de arquivos de imagens, vídeos, gravações. Tudo que nós tínhamos de informação desde 2011 perdemos, praticamente temos que recomeçar”, lamenta Aparício.

O semanário Malacha é tido como um dos órgãos de maior influência, ao nível daquela vila. No entender de Aparício Nascimento, os assaltos aos media são uma ameaça à liberdade de imprensa.

Silenciar vozes incómodas

O núcleo provincial do MISA ( Instituto de Comunicação Social da África Austral) Moçambique em Tete diz-se muito preocupado com esta situação.
De acordo com o presidente daquela ONG de defesa da liberdade de imprensa, Egnácio Gamay, estes assaltos exigem da classe jornalística uma reflexão e união. "Se já vandalizam os nossos equipamentos de trabalho, o que se pode esperar amanhã se calhar é que o pior aconteça. Esta é altura de pensarmos onde estamos. Então precisamos de estar unidos”.

Gamay apela à polícia para maior celeridade no esclarecimento destes casos, lembrando que vezes são em que a polícia diz estar a investigar e parece não apresentar resultados. "Então queríamos pedir que a polícia fosse mais célere e eficiente e que trouxesse na verdade as pessoas que estão por detrás deste assunto”.

Polícia recupera parte do material roubado

Rádio comunitária de Catembe foi vítima de um assaltoFoto: DWA. Zacarias

Por seu turno a Polícia da República de Moçambique (PRM) em Tete, garante estar a investigar todos os assaltos. Segundo Lurdes Ferreira, porta-voz da PRM recuperou no último final de semana parte do material roubado na rádio comunitária de Cateme, quando estes estava a ser vendido na cidade de Tete.

"Conseguimos recuperar parte dos bens, mas infelizmente a pessoa responsável pela venda dos bens pôs-se em fuga”.

Para a polícia é prematuro dizer se é o mesmo grupo que assaltou os órgãos de comunicação em alusão. "Estamos a trabalhar no sentido de encontrar estes indivíduos e responsabilizá-los”, afirma Lurdes Ferreira, acrescentando que a PRM está preocupada com este fenómeno.

Egnacio Gamay, presidente do Núcleo Provincial do MISAFoto: DW/A. Zacarias

MISA pede aos jornalistas para não desistirem

Entretanto, o presidente do Núcleo Provincial do MISA Moçambique em Tete, solidariza-se com os órgãos afetados e encoraja-os a não desistirem.

"Se as pessoas fizeram isso com a intenção de quebrar as pernas para nos impedir de andar, acredito que este acontecimento não vai determinar o fim destes órgãos”, observa Gamay, sublinhando que "quando coisas do género acontecem é sinal de que estamos num bom caminho, que estamos a trazer informações credíveis para sociedade. Quero encorajar aos colegas para que sigamos em frente”.

Entretanto, o diretor do semanário Malacha, Aparício Nascimento garante que este assalto não vai mudar nada na forma que o seu jornal aborda os assuntos da atualidade moçambicana. "No dia que voltarmos a publicar, vamos estar no mesmo rítmo que tínhamos, para que as pessoas não percebam que houve uma rotura de padrão”.

02.11.2016 assaltos a órgãos de comunicação social - Tete - MP3-Mono

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