Assassinato de Amurane há dois anos continua por esclarecer
Sitoi Lutxeque (Nampula)
4 de outubro de 2019
No dia em que se assinalam dois anos da morte de Mahamudo Amurane, cidadãos de Nampula prestam homenagem ao edil. Ainda não há culpados e a investigação continua, depois de o caso ter sido devolvido à procuradoria.
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O dia 4 de outubro é uma data duplamente lembrada na província de Nampula, no norte de Moçambique. O primeiro motivo é a assinatura dos acordos gerais de paz em Roma, em 1992. O segundo é o assassinato do edil Mahamudo Amurane, em 2017.
As autoridades ainda não encontraram os culpados e também não houve responsabilização criminal. É uma situação que preocupa os cidadãos de Nampula. Amina Amade, vizinha de Amurane, pede o esclarecimento do caso. "Sinto muito. Eu não estou satisfeita [ com o ritmo de investigação], porque gostaria que fosse achado o assassino", disse à DW África.
Assassinato de Amurane há dois anos continua por esclarecer
Gamito dos Santos, antigo diretor de Mercados e Feiras na governação de Mahamudo Amurane, também critica a falta do esclarecimento do caso.
"Não podemos olhar só para as questões políticas. [O assassinato] também pode estar ligado a questões empresariais, porque havia pessoas que se sentiam pressionadas pela maneira de governar do presidente Amurane. Havia empresários que sentiam-se mal. Havia pessoas cujos negócios já estavam parados, porque o presidente Amurane era um presidente mão-de-ferro", conta.
Homenagem especial a Amurane
Para o dia não passar despercebido, esta sexta-feira (04.10) haverá uma homenagem especial a Mahamudo Amurane. "Vamos visitar o túmulo do falecido. E estamos a pensar em sentarmo-nos e refletirmos em torno dos projetos do presidente Amurane, sobre o que nós pensamos e como é que será a sua efetivação, uma vez o presidente já se foi", revelou Gamito dos Santos.
A 8 de agosto, a juíza da sexta secção do Tribunal Judicial da Província de Nampula mandou devolver o processo do '"caso Amurane" à Procuradoria Provincial, para mais investigação, por entender que não reuniam provas suficientes para levar a julgamento o antigo vereador Saíde Aly Abdulremane Abdala e o empresário da construção civil Zainal Abdina Abdul Satar - até agora os únicos dois arguidos acusados na investigação.
A DW África contactou a procuradoria provincial de Nampula para falar sobre o ponto de situação do "caso Amurane". A porta-voz, Hermínia Gustavo, disse que não podia prestar esclarecimentos por se encontra em "férias disciplinares".
Até o fecho desta reportagem, não foi possível obter mais reações na procuradoria de Nampula. Segundo avançou a secretária do procurador-chefe, a DW África seria "contactada oportunamente".
Mercados de Nampula são perigo à saúde pública
Mercados de Nampula são um perigo à saúde pública - alguns não possuem sanitários. Apesar dos esforços dos governantes em alguns locais, muitos vendedores enfrentam mau cheiro para garantir o seu sustento.
Foto: DW/S. Lutxeque
Hipotecar a saúde a favor da sobrevivência
Fátima Sualehe é vendedeira de hortícolas no mercado da Padaria Nampula. Ela desenvolve esta actividade há mais de dois anos, quando se separou do seu esposo. Aqui, ela enfrenta o cheiro ruim produzido pelas águas negras. Mas "é para garantir o sustento dos meus cinco filhos", disse a vendedeira de espinafre.
Foto: DW/S. Lutxeque
Espaço dos CFM transformados em mercado
Nos 18 bairros que a cidade de Nampula tem a apetência de vender, aliada ao desemprego, acarreta no aumento da actividade comercial. Isso faz com que mesmo lugares impróprios sejam ocupados pelos vendedores. Um desses lugares é o recinto dos "Caminhos de Ferro de Moçambique", onde está instalado o famoso "Mercado da Padaria Nampula".
Foto: DW/S. Lutxeque
Nas ruas da cidade
A cidade de Nampula está a ficar praticamente sem ruas e passeios. Nestes locais, vendedores encontram maior atrativo para a prática comercial. "Nos mercados não há muitos clientes, por isso a aproveitamos esses locais para vender nossos produtos e ganhar dinheiro", justificam quase todos os vendedores "assaltantes das ruas".
Foto: DW/S. Lutxeque
"Reciclar" consumíveis e vender
Todas as manhãs, mulheres e crianças escalam o mercado grossista do Waresta, o maior estabelecimento comercial de venda a grosso e a retalho. Nem todos vão para vender, muito menos comprar os produtos. Aproveitam-se da chegada e descarregamento dos camiões de grande tonelagem, transportando produtos, para selecionar os que não estão em decomposição e postereriormente colocá-los nas bancas.
Foto: DW/S. Lutxeque
Lixo e locomotivas
A luta pela sobrevivência de milhares dos moçambicanos, sobretudo os residentes na província mais populosas do país, já está a causar prejuízos e acidentes ferroviários. Os vendedores acumulam lixo e até chegam a embaraçar as locomotivas. As autoridades municipais falam em transferência dos vendedores, enquanto as empresas ferroviárias não param de sensibilizar os vendedores para o abandono.
Foto: DW/S. Lutxeque
Insuficiência de sanitários públicos
Muitos mercados da cidade de Nampula não tem sanitários públicos. Um dos maiores mercados é o da Padaria Nampula, no centro da cidade. Para atender as necessidades biológicas, os vendedores que ficam quase todo o dia a praticar a actividade comercial fazem as necessidades ao relento, mesmo no recinto dos estabelecimentos comerciais.
Foto: DW/S. Lutxeque
Sanitários em abandono
Enquanto muitos estabelecimentos comerciais não possuem sanitários públicos, no mercado grossista do Waresta existem dois desses melhorados, construídos pelas autoridades. Mas, de acordo com os gestores dos mesmos, os vendedores preferem fazer suas necessidades biológicas ao relento, distanciando de pagar uma taxa de 10 meticais por cada vez que necessitam.
Foto: DW/S. Lutxeque
Mercados a céu aberto
Apesar dos esforços da edilidade, reconhecido pelos munícipes, a cidade, que ainda ostenta o título da terceira maior de Moçambique, tem alguns dos seus mercados com aspetos rurais. Há muitos mercados e bancas a céu aberto, e outros de construção precária. Em tempos chuvosos, os vendedores vivem à deriva.
Foto: DW/S. Lutxeque
Partidarização dos mercados
Os partidos políticos na cidade de Nampula também procuram ganhar protagonismo através de propagandas baratas. Em quase todos os mercados da periferia existem bandeiras dos três partidos políticos com assento parlamentar (RENAMO, FRELIMO e MDM). A situação agudizou-se no período das campanhas eleitorais, mas até agora nenhum partido removeu os seus materiais de propaganda.
Foto: DW/S. Lutxeque
Esforços da Edilidade
O Conselho Municipal de Nampula, liderado por Paulo Vahanle, tem, apesar das dificuldades financeiras que herdou do antigo Governo (quando assumiu o poder depois das eleições intercalares) se esforçado para melhorar os mercados. Um deles é o mercado do Waresta, o maior da cidade, que está a beneficiar-se das obras de reabilitação.
Foto: DW/S. Lutxeque
Mercado Novo
O Mercado Novo, localizado no centro da cidade, é o primeiro e mais organizado. Aqui não existe lixo no chão, muito menos degradação. Há lojas organizadas e com sistema de escoamento de águas negras. Está localizado a pouco mais de 200 metros do edifício da edilidade, e a menos de cem metros do Mercado Central. Foi criado no Governo de Mahamudo Amurane, edil já falecido.