Assassinato de Gilles Cistac não "beliscou" relações
12 de março de 2015![](https://static.dw.com/image/18309811_800.webp)
Depois do assassinato do constitucionalista moçambicano de origem francesa Gilles Cistac, na última semana, como ficam as relações entre Moçambique e a França? A Embaixada francesa em Maputo, ao condenar o crime, pediu um inquérito policial rápido e que os culpados sejam detidos e levados à justiça.
Na altura, as autoridades moçambicanas realizaram um encontro com representantes da comunidade internacional e esta semana o ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação moçambicano, Oldemiro Balói está em Paris, onde esta quinta-feira (12.03) participou num encontro sobre oportunidades de investimentos em Moçambique, organizado pelo Senado e pela Business France, agência governamental francesa especializada em desenvolvimento internacional.
França determinada a ajudar
A agenda da visita do chefe da diplomacia moçambicana incluiu também, na tarde desta quinta-feira (12.03), uma reunião de trabalho com Laurent Fabius, ministro dos Negócios Estrangeiros e Desenvolvimento Internacional francês, durante a qual foi abordado o homicídio do constitucionalista moçambicano de origem francesa, Gilles Cistac.
As autoridades francesas dizem estar determinadas a ajudar no processo judicial que Moçambique deverá levar a cabo para a responsabilização dos autores do assassínio.
A DW África entrevistou Paulo Mateus Wache, investigador do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CEEI). O também chefe do Departamento de Relações Internacionais e Política Externa e docente de Geopolítica e Estudos de União Europeia no Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI) em Maputo garante que as relações entre as partes não ficaram “beliscadas”.
DW África: O assassinato de Gilles Cistac põe em perigo as relações entre Paris e Maputo?
Paulo Wache (PW): Poderiam estar em perigo se o Governo moçambicano não tivesse cooperado com as autoridades francesas. Mas a minha percepção é que, desde que ocorreu a morte de Cistac, o Governo tem estado a cooperar para que o caso seja esclarecido. Inclusive o chefe da diplomacia moçambicana viajou para a França para, entre outros temas, tratar deste assunto e, provavelmente, para solicitar às autoridades francesas mais cooperação no sentido de esclarecer o caso. Penso que há um maior interesse também do Governo em querer saber os mentores e os autores deste crime.
Olhando nessa perspetiva e olhando para a cooperação que está a acontecer entre os dois países, a forma como o Governo de Moçambique está a interagir com o Governo francês, do ponto de vista de quem observa de fora, acho que continuando neste ritmo não haverá nenhum problema nas relações entre a França e Moçambique.
DW África: O ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, Oldemiro Balói, está em Paris, onde participou num colóquio sobre oportunidades de investimentos em Moçambique. Como vê o interesse da França de fazer investimentos na área dos recursos naturais em Moçambique?
PW: A França não só faz investimentos na área dos recursos naturais, mas está também a investir em muitas áreas, inclusive na área da tecnologia de informação, para além de manifestar interesse em muitos outros setores. Cada vez mais descobre-se em Moçambique outros recursos energéticos, principalmente o gás, que é uma das fraquezas da União Europeia (UE) no sentido de fornecimento de gás fiável, uma vez que atualmente vemos a fricção existente entre a UE e a Rússia, que é o maior fornecedor de gás.
A UE precisa de fontes alternativas de energia e isso está também no quadro das preocupações da França, como líder da UE juntamente com a Alemanha e o Reino Unido.
É justo que os europeus estejam interessados em investir na área dos recursos naturais que será uma alternativa, um balão de ar fresco para o fortalecimento da economia da UE e, ao mesmo tempo, a redução da dependência em relação à Rússia. Por outro lado, para Moçambique é uma oportunidade para a diversificação dos atores que vão interagir com o nosso país e para tirar mais proveito e aprender com os atores que estão há muito tempo no mercado energético internacional.
DW África: O último grande negócio que Moçambique fez com a França foi a compra de barcos para a empresa EMATUM. Esse negócio não será posto em causa deste assassinato?
PW: Não vejo nada disso, enquanto o Governo continuar a cooperar. Só se por alguma razão os dois países pararem de cooperar. Mas acredito que não há risco de o negócio parar por causa de um mau entendimento. Já ouvimos o Governo a pronunciar-se que os atores do assassinato terão de ser encontrados, já vimos o chefe da diplomacia moçambicana viajar para a França para também pedir a cooperação neste caso. Então, não se pode concluir que o assassinato vai afetar as relações enquanto não virmos o tal mau entendimento ou procedimentos que possam ser considerados riscos entre as partes.
A morte de cidadãos acontece em qualquer parte. A situação muda de figura se ficar provado que os atores que cometeram o crime são pessoas ligadas ao Governo. Caso contrário é preciso percebermos que o crime é transnacional e acontece por várias razões. Nesse sentido, acho que a cooperação que existe entre os dois Governos é fundamental e deve continuar assim para que os ânimos se levantem e para que, de facto, não ocorra cancelamento de investimentos e baixas no relacionamento existente entre os dois Estados.