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SociedadeBrasil

Brasil: Protestos contra o racismo chegam ao quarto dia

24 de novembro de 2020

O assassinato de um homem negro na última semana dentro de um supermercado no Brasil continua a gerar protestos. Movimento "Black Lives Matter" solidariza-se e caso é comparado ao de George Floyd, ocorrido nos EUA.

Brasilien Unruhen nach dem gewaltsamen Tod eines Schwarzen in einem Carrefour Supermarkt
Foto: Diego Vara/Reuters

A morte de João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos, que ocorreu na última quinta-feira (19.11) dentro de um supermercado do grupo francês Carrefour na cidade de Porto Alegre, no sul do Brasil, está a gerar uma série de manifestações pelo país, que já contam o seu quarto dia.

João Alberto, também chamado por "Beto", foi espancado até à morte por dois seguranças do supermercado.

Na noite dessa segunda-feira (23.11), uma confrontação foi registada numa unidade Carrefour, entretando, noutra área da cidade.

Devido às manifestações, o supermercado teve de encerrar as atividades mais cedo e dispensou todos os seus funcionários.

Protestos contra racismo

O grupo de manifestantes entoava cânticos contra o racismo. Nas imediações do supermercado, fogo foi ateado em galhos de árvores e foram derrubadas grades de proteção que cercam a unidade. A polícia militar foi chamada para conter os manifestantes, reprimidos com balas de borracha.

Pessoas tentam conter incêndio numa unidade do grupo CarrefourFoto: Amanda Perobelli/Reuters

As manifestações que pedem justiça pela morte de Beto e contra o racismo no país iniciaram-se na sexta-feira (20.11), o dia em que, coincidentemente, celebra-se no Brasil o "Dia Nacional da Consciência Negra".

Além de Porto Alegre, protestos espalharam-se por várias cidades do país neste final de semana  - como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e Osasco.

No Rio de Janeiro, centenas de pessoas ocuparam a filial do Carrefour na Barra da Tijuca, uma zona nobre dessa cidade. Em protesto, os manifestantes gritavam: "Racistas não passarão" e "Carrefour assassino".

Em Belo Horizonte, populares revoltados entraram numa unidade do Carrefour. Em São Paulo, o interior de um supermercado da franquia francesa e produtos foram destruídos e incendiados. 

"Black Lives Matter" no Brasil

A morte brutal ocorrida no supermercado em Porto Alegre repercutiu na imprensa internacional e sensibilizou o movimento "Black Lives Matter".

"Nos levantamos pela nossa família na Nigéria, vamos fazer o mesmo pelos nossos irmãos negros no Brasil! #VidasNegrasImportam", segundo sua publicação na rede social Twitter.

Criado em 2013, o movimento luta contra o racismo nos Estados Unidos e ganhou notoriedade internacional após o assassinato do cidadão norte-americano George Floyd,em circunstâncias apontadas como semelhantes à morte de João Alberto, no Brasil.

Deivison Faustino, doutor em Sociologia na Universidade Federal de São Paulo,  salienta que "no Brasil, um jovem negro é assassinado a cada 23 minutos. Já nos EUA, não se chega - nem de perto - a esses números."

Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os negros no Brasil compõem cerca de 79% das vítimas de intervenções policiais que resultam em morte. Os números dizem respeito aos óbitos ocorridos em 2019, em todo o país - período que estatísticas apontavam cerca de 35 mil pessoas negras mortas.

O analista lembra que a violência contra pessoas negras no Brasil iniciou-se com a escravidão de negros africanos no país, abolida por lei no final do século XIX.

Protesto escrito em frente a um supermercado da rede francesaFoto: Luciano Nagel/DW

"O recente caso no [supermercado] Carrefour se torna um estopim. Num momento emblemático - o dia que antecede o Dia Consciência Negra - vemos mais um caso de uma pessoa negra morta desnecessariamente", lamentou o sociólogo.

Carrefour promete "Medidas cabíveis"

O grupo Carrefour, por sua vez, já informou que adotará "medidas cabíveis" para responsabilizar os envolvidos, e romperá seu contrato com a empresa que responde pelos seguranças que cometeram a agressão. 

Já a empresa de segurança, o "Grupo Vector", disse ter iniciado procedimentos para apuração interna e informou, atarvés do seu advogado, que lamenta profundamente os factos ocorridos, mas garante que os seus colaboradores recebem treinamento adequado.