Em Moçambique, a RENAMO atribui às Forças de Defesa e Segurança a autoria de assassinatos em Cabo Delegado. Acusa também a FRELIMO, no poder, de inviabilizar as investigações sobre os ataques armados no país.
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Depois do líder da RENAMO, o maior partido da oposição, Ossufo Momade, ter recentemente suavizado o seu discurso em Quelimane sobre os ataques armados no centro e norte de Moçambique, esta quinta feira (17.09) José Manteigas, o porta-voz da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), convidou a Imprensa para dizer:
“Na República de Moçambique não há pena de morte. Assiste-se no país atos de violência caracterizado por torturas e assassinatos bárbaros, uma autêntica violação dos direitos humanos. Em defesa da vida humana apelamos às FDS (Forças de Defesa e Segurança) a assumir um comportamento que se compagine com a Constituição da República e demais lei.”
Manteigas revela ainda que “registaram-se assassinatos de cidadãos indefesos por parte das FDS. A RENAMO requereu a criação de uma comissão de inquérito com intuito de ir averiguar as graves violações que se registam na zona centro do país e na província de Cabo Delegado, [mas] a bancada maioritária rejeitou esta pertença”.
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Governo devia investigar mais?
Reagindo também aos relatos frequentes de assassinatos de civis com recurso a catanas e armas de fogo, o delegado do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) em Quelimane, o segundo maior partido da oposição, Listando Evaristo, disse:
"Aquilo é incrível, assistirmos uma situação daquelas. Nós como MDM condenamos o ato. O Governo tem a responsabilidade de poder analisar e investigar o ato que está a acontecer em Cabo Delegado. O partido no poder sabe da proveniência daquela situação de Cabo Delegado por que não é possível [não saber].“
E Evaristo sacrescenta que “aquilo começou duma forma mesquinha, hoje já é de uma dimensão grande. Não é só aquilo, há casos que acontecem em Cabo Delgado e que nós acompanhamos, mas como é um assunto que tem haver com o Estado nós não reclamamos. Não é só em Cabo Delgado, também em Manica”.
Bispo de Pemba: "Estou tranquilo"
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FRELIMO não responde
Devido aos pronunciamentos dos membros da RENAMO e do MDM, a DW tentou contactar o representante da FRELIMO, partido no poder, sem sucesso. Enquanto isso, o porta-voz da RENAMO, José Manteigas, exige:
“O sr. ministro que traga as pessoas indiciadas para serem responsabilizadas, mas nunca execute sumariamente um cidadão indefeso, desarmado, como aconteceu com o vídeo que está a circular.”
No entanto, muitas organizações da sociedade civil se manifestam indignadas e repudiam o assassinato da mulher com recurso a armas de fogo. O vídeo que está a ser partilhado nas redes sociais foi publicado por indivíduos trajando fardas das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique (FDS).
O Governo falou inicialmente em investigação e posterior responsabilização, mas nesta quarta-feira (16.09) já garantiu que os executores não pertencem ao exército.
O músico moçambicano que reinventa instrumentos tradicionais
Em Marracune, a 30 quilómetros de Maputo, Ivan Mucavele produz e reinventa instrumentos usados na música tradicional moçambicana. No seu ateliê, ele faz novas versões de instrumentos como timbila e xitende e batuque.
Foto: DW/R. da Silva
Ateliê do artista
No ateliê Mukhambira, encontramos o músico Ivan Mucavele. Aqui, ele fabrica instrumentos utilizados na música tradicional moçambicana. Neste espaço, no distrito de Marracuene, a 30 quilómetros de Maputo, o artista inventa e reinventa peças que hoje também podem ser vistas na música moderna de Moçambique.
Foto: DW/R. da Silva
Timbila
Este instrumento pode ser confundido com a timbila, mas o artista explica que é um xilofone que ele mesmo reinventou. Este instrumento foi adaptado de uma mbirra (outro instrumento que veremos mais adiante) para um xilofone.
Foto: DW/R. da Silva
Viola com coluna
Esta é outra reinvenção de Mucavele. Este instrumento que se parece a uma guitarra leva um captador que, por sua vez, coneta-se a um amplificador. Chama-se “mpankwe” e é um instrumento do norte de Moçambique, nomeadamente Cabo Delgado, Nampula e parte do Niassa.
Foto: DW/R. da Silva
Xitende
Este instrumento chama-se xitende. Tradicionalmente leva um pau e uma cabaça (esta “barriguinha” com uma perfuração). Geralmente ele tem um fios, mas aqui ele foi curiosamente reinventado e adaptado a dois fios e afinadores convencionais. Trata-se de uma nova proposta do artista para ser usada na produção musical. Esta nova versão de xitende foi rebatizada de “xitandambire”.
Foto: DW/R. da Silva
Piano
Esta é a “mbirra” que durante a colonização portuguesa foi banida, tal como outros instrumentos tradicionais. Mucavele recuperou o instrumento, reinventou e batizou com o nome de “dzavanyungue”, cuja origem é de Tete. E, como se pode ver, tem três teclados.
Foto: DW/R. da Silva
Caixa viola
Este é “contrabaixo” muito usado na produção musical do norte de Moçambique. Geralmente leva uma corda. Este instrumento evolui para aquelas guitarras convencionais produzidas com recurso a uma caixa de madeira. Com o “contrabaixo” toca-se qualquer música, segundo explicações do artista.
Foto: DW/R. da Silva
Som panela
Este instrumento é uma caixa de ressonância. Os teclados foram feitos numa peça que se confunde com uma panela. O som que sai é mais aberto, como se fosse de um fio muito fino de uma guitarra convencional.
Foto: DW/R. da Silva
Piano redondo
A principal diferença do piano redondo está na elevação das suas laterais. Com esta forma, o instrumento fica como uma espécie de roda, emite um som mais abafado, que se compara com um fio grosso de uma guitarra.
Foto: DW/R. da Silva
Conga
A conga também já é modernizada. Esta foto mostra o instrumento ainda na fase de construção. No ateliê Mukhambira, a conga é feita de madeira e com intervalos, para ter uma sonoridade diferente das congas modernas.
Foto: DW/R. da Silva
Batuque
É um instrumento muito usado em diversas manifestações culturais de Moçambique em particular. Já não é uma invenção do artista. O corpo do batuque é feito de madeira e, na parte de cima, a cobertura é de pele de animal - como boi ou cabrito.
Foto: DW/R. da Silva
Xizambi
É da família dos arcos tradicionais como xipendane e xitende. O som que se emite neste instrumento é praticamente o mesmo que sai do xitende, dependendo da colocação ou não de uma cabaça.
Foto: DW/R. da Silva
Viola
Este instrumento africano é chamado de arpa. A sua origem é queniana e ugandesa. O artista reinventou este instrumento com uma adaptação de na afinação. O seu objetivo foi produzir um outro som, diferente das arpas originais que se assemelham ao som da mbirra.
Foto: DW/R. da Silva
Artista na oficina
Aqui vê-se Mucavele em pleno trabalho de construção de instrumentos musicais. O músico usa martelo, chaves de fenda, alicates e outras ferramentas de carpintaria e serralharia para trabalhar a madeira e os metais a fim de inventar e reinventar instrumentos.