Assembleia-Geral da ONU com líderes mundiais "em casa"
Lusa
15 de setembro de 2020
As Nações Unidas reúnem a partir de hoje a sua 75.ª Assembleia-Geral. Pela primeira vez, líderes mundiais ficam em casa e a reunião é quase exclusivamente virtual devido à Covid-19. Trump faz questão de estar presente.
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Este ano a reunião magna será diferente de qualquer outra realizada até hoje, uma vez que os líderes mundiais foram "convidados" a "ficar em casa" e a dirigir-se ao mundo através de discursos pré-gravados que serão transmitidos posteriormente ao longo dos vários dias do Debate Geral (entre 22 e 29 de setembro).
Apesar deste apelo feito aos dirigentes mundiais - para evitar as habituais concentrações de delegações na sede da organização em Nova Iorque (Estados Unidos) no âmbito das medidas de prevenção relacionadas com a atual crise pandémica -, as Nações Unidas relembraram esta semana que qualquer líder mundial tem o direito de comparecer pessoalmente.
Trump não quer ficar em casa
Entre os 193 Estados-membros da ONU, houve pelo menos um que já manifestou essa intenção: o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que planeia falar a partir da tribuna da Assembleia-Geral a menos de dois meses de disputar as presidenciais norte-americanas e tentar a reeleição.
"Pretendo deslocar-me diretamente às Nações Unidas para fazer o discurso", disse o chefe de Estado norte-americano, em declarações feitas em meados de agosto.
"Penso que representa melhor o país. Sinto-me meio obrigado, como Presidente dos Estados Unidos, a estar presente para fazer o que será um discurso importante", frisou então Trump, que desde que assumiu a liderança da administração norte-americana, em janeiro de 2017, tem lançado críticas ferozes ao sistema multilateral das Nações Unidas e às agências que o integram.
Redução de financiamento e processos de saída de algumas agências, como foi o caso da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), em 2019, e mais recentemente, da Organização Mundial de Saúde (OMS), são apenas alguns episódios da relação Trump-ONU.
Apesar de os corredores da sede da ONU ficarem mais silenciosos por estes dias, a organização liderada pelo secretário-geral, António Guterres, já fez saber que a 75.ª sessão da Assembleia-Geral terá um intenso programa, garantindo que a ausência física da maioria dos líderes mundiais (e a consequente não realização de centenas de reuniões bilaterais) e o formato virtual das diversas reuniões de alto nível previstas "não irá significar que as rodas da diplomacia global e do desenvolvimento sustentável não estarão a girar à velocidade habitual".
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ONU celebra 75 anos
Esta sessão da Assembleia-Geral teria um significado particular este ano, pois tencionava assinalar, ao mais alto nível, os 75 anos das Nações Unidas. Apesar dos constrangimentos, a efeméride será assinalada na mesma.
No dia 21 de setembro, um evento na sede da ONU, que terá direito a uma transmissão 'online', pretende "gerar um apoio renovado ao multilateralismo", segundo anunciou a organização, frisando que a iniciativa surge num momento "em que muitos acreditam [que este apoio] se tornou cada vez mais urgente à medida que o mundo enfrenta a pandemia da covid-19".
Espera-se que António Guterres intervenha, presencialmente, nesta reunião de alto nível. Neste mesmo evento, está previsto que os 193 Estados-membros adotem uma declaração conjunta sobre o 75.º aniversário da organização, que mencione os sucessos e os fracassos da ONU, mas que também assuma o compromisso de construir um mundo pós-pandémico mais equitativo, cooperante e protetor do planeta.
Aliás, o tema escolhido para o Debate Geral da 75.ª sessão da Assembleia-Geral também reflete esta abordagem: "O Futuro que queremos, as Nações Unidas que precisamos: Reafirmar o nosso compromisso coletivo com o multilateralismo -- enfrentar a covid-19 através de uma ação multilateral eficaz".
Vitórias e fracassos
Para assinalar os 75 anos da organização, a ONU lançou, como foi apelidado por António Guterres, o "maior diálogo global de sempre" sobre a cooperação mundial e o seu papel na construção do futuro, iniciativa que apelou à participação do "público global".
Numa entrevista publicada este verão pela Associated Press (AP), o secretário-geral avançou ter recebido cerca de 120.000 respostas de pessoas de 193 países.
Na mesma entrevista, o ex-primeiro-ministro português, que assumiu a liderança da ONU em janeiro de 2017, frisou que, em 75 anos, o maior feito da organização é o longo período, desde a II Guerra Mundial, durante o qual as grandes potências não lutaram entre si e uma guerra nuclear foi evitada.
Já o maior fracasso, referiu então António Guterres, foi a incapacidade da organização de evitar a proliferação de conflitos de média e pequena dimensão.
Missões de paz da ONU em África
Os capacetes azuis da Organização das Nações Unidas têm intervido em vários países africanos. A MONUSCO, missão de paz da ONU na República Democrática do Congo, é a maior e mais cara de todas. Mas há várias.
Foto: picture-alliance/AA/S. Mohamed
RD Congo: a maior missão da ONU
Desde 1999, que a Organização das Nações Unidas (ONU) tenta pacificar a região oriental da República Democrática do Congo (RDC). A missão conhecida como MONUSCO conta com cerca de 20 mil soldados e um orçamento anual de 1,4 mil milhões de euros. Ainda que esta seja a maior e mais cara missão da ONU, a violência no país persiste.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Darfur: impotente contra a violência
A UNAMID é uma missão conjunta da União Africana e da ONU na região de Darfur, no Sudão, considerada por alguns observadores um fracasso. “O Conselho de Segurança da ONU deve trabalhar mais arduamente para encontrar soluções políticas, em vez de gastar dinheiro no desdobramento militar a longo prazo”, afirmou o especialista em segurança, Thierry Vircoulon.
Foto: picture-alliance/dpa/A. G. Farran
Sul do Sudão: fechar os olhos ao conflito?
A guerra civil no Sul do Sudão já fez com que, desde 2013, mais de quatro milhões de pessoas abandonassem as suas casas. Alguns estão abrigadas em campos de ajuda da ONU. Mas, quando os confrontos entre as forças do Governo e os rebeldes começaram na capital Juba, em julho de 2016, os capacetes azuis não foram bem sucedidos na intervenção.
Foto: Getty Images/A.G.Farran
Mali: mais perigosa missão da ONU no mundo
As forças de paz da ONU no Mali têm estado a monitorizar o cumprimento do acordo de paz realizado entre o Governo e a aliança dos rebeldes liderada pelos tuaregues. No entanto, grupos terroristas como o AQMI continuam a levar a cabo ataques terroristas que fazem com que a Missão da ONU no Mali (MINUSA) seja uma das mais perigosas do mundo. A Alemanha cedeu mais de 700 militares e helicópteros.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
RCA: abusos sexuais fazem manchetes
A missão da ONU na República Centro-Africana (MINUSCA) não ajudou a melhorar a imagem das Nações Unidas no continente africano. As tropas francesas foram acusadas de abusar sexualmente de crianças pela campanha Código Azul. Três anos depois, as vitimas não têm ajuda da ONU. Desde 2014, 10 mill soldados e 1800 polícias foram destacados para o país. A violência diminuiu, mas a tensão mantém-se.
Foto: Sia Kambou/AFP/Getty Images
Saara Ocidental: Esperança numa paz duradoura
A missão da ONU no Saara Ocidental, conhecida por MINURSO, está ativa desde 1991. Cabe à MINURSO controlar o conflito existente entre Marrocos e a Frente Polisário que defende a independência do Saara Ocidental. Em 2016, Marrocos, que ocupa este território desde 1976, dispensou 84 funcionários da MINURSO após um discurso do secretário-geral da ONU que o país não aprovou.
Foto: Getty Images/AFP/A. Senna
Costa do Marfim: um final pacífico
A missão da ONU na Costa do Marfim cumpriu o seu objetivo a 30 de junho de 2016, após 14 anos. As tropas têm vindo a ser retiradas, gradualmente, o que, para o ex secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, significa “um ponto de viragem das Nações Unidas na Costa do Marfim”. No entanto, apenas depois da retirada total das forças e a longo prazo é que se saberá se a missão foi ou não bem sucedida.
Foto: Getty Images/AFP/I. Sanogo
Libéria: missão cumprida
A intervenção da ONU na Libéria chegou ao fim. Desde o fim da guerra civil, que durou 14 anos, que a Missão da ONU na Libéria (UNMIL) tem assegurado a estabilidade na Libéria e ajudado a construir um Estado funcional. O Governo do país quer agora garantir a segurança da Libéria. O país ainda está a lutar com as consequências de uma devastadora epidemia do Ébola que o assolou.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Sudão: Etiópia é promotora da paz?
Os soldados da Força de Segurança Interina da ONU para Abyei (UNISFA) patrulham esta região, rica em petróleo, e que, tanto o Sudão, como o Sudão do Sul, consideram ser sua. Mais de quatro mil capacetes azuis da Etiópia estão no terreno. A Etiópia é o segundo maior contribuinte para a manutenção da paz no mundo. No entanto, o seu exército é acusado de violações de direitos humanos no seu país.
Foto: Getty Images/AFP/A. G. Farran
Somália: Modelo futuro da União Africana?
As forças de paz da ONU na Somália estão a lutar sob a liderança da União Africana numa missão conhecida como AMISOM. Os soldados estão no país africano para combater os islamitas al-Shabaab e trazer estabilidade ao país devastado pela guerra. Etiópia, Burundi, Djibouti, Quénia, Uganda, Serra Leoa, Gana e Nigéria contribuem com as com suas tropas para a AMISOM.