ONG Amor à Vida pede mais apoios para albinos em Nampula
Sitoi Lutxeque (Nampula)
13 de junho de 2023
Na província de Nampula, ainda há muitas pessoas que não compreendem as dificuldades por que passam muitos cidadãos com albinismo. É um alerta da Associação Amor à Vida no Dia Mundial da Consciencialização do Albinismo.
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As temperaturas estão a subir em Nampula, norte de Moçambique. E o sol é um perigo para milhares de pessoas com albinismo, como é o caso de Janfar Chale, de 44 anos de idade, residente no populoso bairro de Namicopo.
"Vivemos num ambiente de muitas dificuldades, por causa do sol. Precisamos de protetores solares, óculos de sol e óculos graduados. Sem o protetor solar vivemos com dificuldades, porque não podemos permanecer muito tempo ao sol, por causa dos raios solares", explica.
Muitas pessoas com albinismo têm problemas de visão, principalmente no período do dia, e isso, segundo Janfar Chalé, influencia na aprendizagem. "Nós precisamos de fazer leituras e temos muitas dificuldades nas escolas. É difícil viver assim, enquanto não há apoio temos de nos articular", diz.
Discriminados e atacados
O albinismo é um distúrbio genético hereditário, caraterizado pela falta de pigmentação na pele, cabelo e olhos. E muitas vezes, as pessoas com albinismo são alvo de discriminação - chegam até a ser atacadas e raptadas.
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Melvin Ernesto, coordenador da Associação Amor à Vida, na província de Nampula, diz que o Dia Mundial da Consciencialização do Albinismo deve ser aproveitado para repudiar "a discriminação, o isolamento e a falta de emprego" para estas pessoas.
Além disso, as pessoas com albinismo requerem cuidados especiais, acrescenta Melvin Ernesto. "Nos distritos, a situação é mais grave, visto que a maior parte das pessoas lá são camponesas [e com dificuldades financeiras] e têm de ir à machamba; as crianças acompanham os seus pais e, com aquele sol intenso, são mais propensas a contrair doenças de pele", disse.
Ataques contra albinos em Moçambique
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Necessários mais apoios
Melvin Ernesto conta que Associação Amor à Vida tem apoiado as pessoas com albinismo fruto de parcerias com algumas organizações públicas e privadas, incluindo a Caritas, uma instituição religiosa, e o Hospital Central de Nampula.
"Para questões de saúde, temos o apoio do Hospital Central [de Nampula], que nos dá acesso a um dermatologista para acompanhar as nossas complicações com a pele", relata.
Ainda assim, há milhares de pessoas com albinismo a passar por dificuldades, e é preciso mais ajuda, diz Melvin Ernesto. É por isso que a Associação Amor à Vida está a organizar uma campanha de angariação de fundos.
"Nós criámos essa campanha, para que, com aquilo que a pessoa tem, nos apoie para comprarmos guarda-chuvas e protetores para distribuirmos às pessoas com albinismo."
Feitiço e preconceito: albinos em Moçambique
Em vários países africanos, os albinos sofrem preconceito, são perseguidos por curandeiros, rejeitados pelas famílias e têm dificuldade em encontrar trabalho. Há no entanto ativistas que lutam contra a discriminação.
Foto: Carlos Litulo
Sem preconceitos
Por causa de um distúrbio genético, a pele, os olhos e os cabelos de pessoas com albinismo têm falta de melanina, substância responsável pela pigmentação e pela proteção de raios solares ultravioletas. Na foto, Hilário Jorge Agostinho, o único skatista albino de Moçambique. Agostinho incentiva a integração da população albina para combater os preconceitos e a exclusão social dos albinos no país.
Foto: Carlos Litulo
Pele branca, magia negra
Hilário Jorge Agostinho nas proximidades da Rua da Sé, em Maputo. Em vários países africanos, albinos são perseguidos por curandeiros para realizar rituais com eles. Existem muitas crenças ligadas ao albinismo: por exemplo, a de que manter relações sexuais com albinos cura a SIDA, a de que tomar "poção de albino" traz riqueza, ou a de que o toque de mão de um albino traz má sorte.
Foto: Carlos Litulo
O preço da pele
Na Tanzânia, considerado o país com o maior número de albinos do continente africano, albinos são mortos e desmembrados devido a uma crença de que poções feitas com partes dos corpos dos albinos trazem sorte, fortuna e prosperidade. As partes dos corpos de albinos chegam a valer milhares de dólares. Na foto, o skatista albino Hilário Agostinho faz manobra diante da Catedral de Maputo.
Foto: Carlos Litulo
Luta solidária
A luta dos albinos por reconhecimento e inclusão não é solitária, embora na maior parte das vezes não encontre ouvidos atentos. Em 2008, as Nações Unidas declararam oficialmente os albinos como "pessoas com deficiência", depois de assassinatos massivos de pessoas com albinismo na Tanzânia, vizinha de Moçambique, no Burundi e em outros países do leste africano.
Foto: Carlos Litulo
Estigma
Em Moçambique, entre outros países, crianças ou até mesmo bebés chegariam a ser usados em rituais de magia, especialmente no norte do país, na fronteira com a Tanzânia. Os albinos sofrem preconceito em vários países africanos, têm dificuldade em encontrar trabalho e muitas vezes são rejeitados pelas famílias. Na foto, o músico albino Ali Faque ensaia em seu estúdio em Maputo, em janeiro de 2010.
Foto: Carlos Litulo
Proteção da pele e dos olhos
O músico Ali Faque tem sido o embaixador na luta contra a discriminação da população que sofre de albinismo em Moçambique. Na foto, Ali Faque lê partitura em seu estúdio. Por causa da falta de proteção da pele contra os raios solares, os albinos são mais vulneráveis a problemas nos olhos e ao cancro. Precisam de roupa protetora, óculos escuros e acesso aos raros cremes de proteção solar.
Foto: Carlos Litulo
Sem direitos
Artigo do jornal sul-africano "Mail & Guardian", publicado em setembro de 2012, diz que, apesar de o país ser signatário da Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, não haveria reconhecimento dos direitos de albinos neste país da Africa Austral. Em Moçambique, o músico Ali Faque também se empenha pelos direitos dos albinos.
Foto: Carlos Litulo
Mais albinos em África
O albinismo é uma condição que afeta etnias no mundo todo. Mundialmente há um albino em aproximadamente cada 20 mil pessoas. No continente africano, o número dispara para um em cada 4 mil, por ser uma condição hereditária e por mais albinos se relacionarem entre si.
Foto: Carlos Litulo
Vulneráveis
A ONU declarou os albinos "pessoas com deficiência", porque são vulneráveis ao cancro por causa da falta de proteção da pele contra os raios solares. Na Tanzânia, mais de 80 albinos terão morrido em rituais nos últimos anos, várias das pessoas com albinismo terão sido estupradas. O Governo da Tanzânia reconhece os albinos como "minoria ameaçada". Fotos: Carlos Litulo.