Ataque à base da RENAMO é "declaração de guerra"
22 de outubro de 2013Fernando Mazanga, porta-voz da RENAMO, diz que o movimento decidiu unilateralmente pôr termo ao Acordo de Paz de 1992 porque as Forças Armadas de Moçambique estão em guerra contra o seu líder, Afonso Dhlakama. Numa altura em que se receia um regresso ao conflito armado em Moçambique, Mazanga deixa o futuro próximo em aberto.
DW África: O retorno à guerra já é uma realidade com o fim do Acordo Geral de Paz, anunciado pela RENAMO?
Fernando Mazanga (FM): O ataque à base do presidente Afonso Dhlakama é uma declaração de guerra. Quando se chega a usar o exército estamos perante uma guerra. Portanto, neste momento, o presidente Afonso Dhlakama, está a lutar pela sobrevivência, porque está a ser atacado pelo exército. O que significa que o exército está a fazer guerra contra o presidente da RENAMO. É por isso que viemos ao mundo afirmar a quebra do Acordo Geral da Paz. E o que se está a abrir é uma confrontação militar, de que nós, a todo o momento, sempre nos quisemos esquivar.
DW África: Face à tomada de Satunjira por parte do exército governamental, pode-se assumir que houve uma derrota da RENAMO ou foi apenas uma batalha perdida?
FM: A RENAMO continua e vai continuar a fazer a sua atividade política ao nível de todo o país e não há nada que nos vai meter medo, não há nada que nos vai fazer recuar. Nós continuaremos firmes no ideal de Afonso Dhlakama, no ideal de André Matsangaissa, que estávamos a celebrar.
Nós já havíamos abandonado questões militares quando assinámos o Acordo Geral de Paz. E por via disso é que o Presidente Afonso Dhlakama dizia ultimamente que as nossas armas não são para fazer a guerra. As armas que estão com os seguranças da RENAMO são para nos defendermos daqueles que, em pleno século XXI, ainda acreditam no seu uso para imporem questões ideológicas.
DW África: Disse que Afonso Dhlakama já não tem controlo sobre os seus homens. Confirma isso?
FM: Sim, porque quando alguém sai do local onde tinha o controlo da situação e de todos, então passa para uma situação de falta de controlo. Neste momento, não há ninguém que possa obedecer a seja qual for a ordem, mesmo que seja dada pelo presidente Afonso Dhlakama, justamente porque vão dizendo que, 'mesmo a ele, estão a procurar matá-lo. Como é que não nos hão de querer matar a nós?' A lei da sobrevivência faz com que as pessoas ajam pelo seu instinto de defesa.
DW África: A tomada de Satunjira realiza-se em simultâneo com a presidência aberta do Presidente Armando Guebuza a alguns distritos da província de Sofala. Para si, isso foi coincidência ou algo premeditado?
FM: Foi algo premeditado. E continuo a acreditar que o pecado do presidente Afonso Dhlakama para ser atacado desta forma foi o facto de, no dia 17 [de outubro], ter anunciado que desafiava o Presidente da República a deixar de colocar condicionalismos para se atravessar o troço Save-Muxungué. E ele, presidente Afonso Dhlakama, dizia que 'eu, a partir de segunda-feira, 21 de outubro, declaro que o troço Save-Muxungué está livre para circulação de pessoas e bens. A RENAMO jamais fará uma incursão militar'. E desafiava o Presidente da República a fazer o mesmo.
DW África: Qual é a situação agora na região de Satunjira, Gorongosa?
FM: Neste momento, o que sabemos é que a população está em pânico e em debandada, [devido ao clima de incerteza]. Neste momento, da nossa parte, não há nenhuma ação, por enquanto. O presidente Afonso Dhlakama garantiu-nos que ele, eventualmente, poderia não retaliar se efetivamente o Presidente da República mostrar interesse em resolver este assunto pacificamente. Agora, como dissemos, ele já não comanda as suas forças a 100%. Se calhar, elas poderão querer agir em retaliação ou em defesa própria.
Por isso, a situação em Satunjira é incaracterística. Reina uma paz aparente, uma vez que, por parte da RENAMO, não há nenhuma atividade militar que esteja a ser feita. Simplesmente quem está lá são as forças de defesa e segurança, que ocuparam e atacaram [a base em] Satunjira.