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Fransual Dias: "Minha última declaração foi a gota d'água"

5 de maio de 2023

Após ter a sua residência e viatura vandalizadas nesta madrugada, o jurista guineense Fransual Dias disse à DW não ter dúvida de que "foi um ato intencional" e critica o Governo de Sissoco Embaló.

Guinea-Bissau Bissau | Attentat gegen Jurist Fransual Dias
Foto: privat

A residência e a viatura do jurista guineense Fransual Dias foram atacadas por homens armados durante a madrugada. O seu automóvel foi incendiado e no chão do exterior do edifício onde reside o também advogado e membro do Partido da Renovação Social (PRS) foram encontrados vários fragmentos de projétil. Fransual Dias estava em casa no momento do ataque, mas não sofreu ferimentos.

Dias antes, numa entrevista à DW, esta semana, Fransual Dias tinha alertado para sinais que "evidenciam que o Presidente da República [Umaro Sissoco Embaló] está interessado em governar sozinho a República da Guiné-Bissau". Hoje, numa nova entrevista, concedida após os ataques, o jurista voltou a criticar o Governo e disse sentir-se ameaçado. 

Mas ele não é único a ser alvo de ameaças e ataques. Em maio de 2022, o deputado da oposição guineense, Agnelo Regala, foi vítima de um ataque junto à sua residência em Bissau, tendo sofrido ferimentos numa perna na sequência de disparos feitos contra si. 

Também no ano passado, a residência do conhecido comentador político daRádio Capital FM, Rui Landim, foi atacada. E, em 2021, o advogado Luís Vaz Martins responsabilizou o Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, pelo atentado contra a sua vida, ocorrido na capital. O ataque à Fransual Dias, na madrugada de ontem, soma-se agora à uma série de outros atentados no país desde que Sissoco assumiu a presidência.

DW África: A sua residência e o seu carro foram atacados. O que aconteceu nesta madrugada?

Fransual Dias: "Nunca pensamos que poderia chegar a este ponto"

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Fransual Dias: Por volta das duas horas da madrugada [horário de Bissau], alguns homens aproximaram-se com carros que tinham as luzes semiacessas. Eles então pararam em pararlelo ao meu automóvel. De repente, saíram com uma botija de gasolina e atiraram-na contra o [meu] carro, incendiando-o. Neste momento, um guarda deu-se conta e começou a gritar, lançando tiros ao ar. Dirigiram tiros [contra] a minha casa que atingiram o portão e a parede. Ao seguirem, deixaram palavras de ordem – "aviso, aviso!" – duas vezes. Foi assim que aconteceu.

DW África: Estava na residência naquele altura?

FD: Sim, estava dentro de casa. Ouvi os tiros e saí. O meu sobrinho informou-me que o carro estava a arder. Mas logo pensei, isto aqui é coisa de alguém propositadamente. Chegamos ali e vimos que, verdadeiramente, foi um ato perpetrado. E, para sermos sinceros, não passam de pessoas que estão no regime e não se sentem à vontade com as declarações que fazemos.

DW África: Acha que isto poderá estar ligado com a sua última entrevista concedida à DW, em que fez uma "radiografia" da atual situação da Guiné-Bissau?

FD: Acho sim. Muitas pessoas ligadas ao próprio Presidente da República vieram a mim dizer que o mesmo andava a "tolerar e tolerar", mas que a minha última declaração foi "uma gota d'água". Portanto ontem, não fui a nenhum sítio, vim direto para casa. 

Segundo o jurista Fransual Dias, tiros foram lançados [contra] a sua casa, atingindo o portão e a parede. Foto: Privat

DW África: Sente que a sua vida está ameaçada, em risco, na Guiné-Bissau?

FD: Sim, sim, sim. Desde que Sissoco chegou [ao poder] com essa violência, e com o nosso posicionamento para esclarecer a verdade, sempre sentimos que, de uma forma ou outra…  Mas nunca pensamos que poderia chegar a este ponto. Seja como for, não passa de uma violência que o Presidente tem instalado no país desde que chegou ao poder.

Alterou completamente as regras do jogo democrático, elegendo a violência como única forma de atuar para intimidar as vozes incômodas. Não tenho dúvidas de que este ato está ligado à minha última declaração, porque as próprias pessoas ligadas ao Presidente ligaram-me, outras procuraram-me pessoalmente e outras até ligaram para os meus amigos.

DW África: As liberdades de imprensa e de expressão, as liberdades fundamentais, estão a morrer no país? Vais resguardar um pouco a sua forma de intervir publicamente?

FD: Eu sou político e também comentador político. Eu não procuro as rádios para falar. Tenho muito trabalho, sou advogado e consultor. Nós não falamos por falar. Mas, deixar de cuidar e de esclarecer ao povo é uma covardia sem limites. Eu não tenho coragem de abandonar esse amado povo.

DW África: Confias na Justiça, os responsáveis serão responsabilizados criminalmente?

FD: Não por agora, porque o próprio Sissoco dominou, portanto, o aparelho judicial. Penso que, com um novo Governo, todas essas situações terão que ser conduzidas eficazmente e julgadas conforme a lei para que as pessoas saibam que não se deve enveredar pela via da violência. Também penso que isto vai irritar o povo, para que dê um cartão vermelho a este regime que não tem poupado esforços em praticar atos de violência.

"Dirigiram tiros à minha casa", ralata Fransual Dias

02:05

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