Ataque conjunto a duas aldeias no Níger fez 100 mortos
Lusa | EFE
4 de janeiro de 2021
Um ataque terrorista simultâneo contra duas aldeias vizinhas deixou um rasto de 100 mortos no Níger, anunciou o autarca de Tondikiwindi, considerando que este é o pior massacre de civis por grupos armados no país.
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"Acabamos de regressar do local dos ataques, em Tchoma Bangou houve cerca de 70 mortos e em Zaroumadareye 30 vítimas mortais", disse o autarca de Tondikiwindi, a cidade que agrega as duas aldeias separadas por sete quilómetros, em declarações à agência de notícias francesa AFP, no domingo (03.01).
"Os terroristas entraram nas aldeias conduzindo uma centena de motas e houve também 25 feridos, alguns dos quais evacuados para Niamey e Ouallam", acrescentou Almou Hassane, notando que este foi o pior massacre de civis no país.
"Para atacar as duas aldeias, os terroristas dividiram-se em duas colunas, uma atacando Zaroumadareye, e a outra dirigindo-se para Tchoma Bangou", explicou o autarca.
Níger: país de trânsito
01:14
Os números agora divulgados atualizam as informações divulgadas no sábado (02.01), que apontavam para 50 mortos e cerca de 20 feridos.
As duas aldeias situam-se a 120 quilómetros a norte da capital, Niamey, na região de Tillabéri, na fronteira entre o Mali e o Burkina Faso, uma região que tem sido alvo frequente de ataques de grupos jihadistas há vários anos.
Ataque em dia de resultados eleitorais
Nenhum grupo reivindicou o ataque até o momento, mas a ação tem semelhanças com massacres cometidos por grupos jihadistas no Níger e em toda a região do Sahel. Segundo testemunhas ouvidas pela EFE, o grupo, equipado com diferentes tipos de armas, vinha do Mali.
O ataque aconteceu no mesmo dia da proclamação dos resultados das eleições presidenciais, que deram a vitória ao candidato do partido no poder, o antigo ministro do Interior Mohamed Bazoum, que prometeu durante a campanha reforçar o combate aos grupos jihadistas que operam na região.
Há vários anos que o Níger - tal como os vizinhos Mali e Burkina Faso - é atormentado por ataques jihadistas nas zonas oeste e sudeste, tendo já morrido centenas de pessoas no processo.
Em maio passado, 20 pessoas, incluindo crianças, foram mortas em duas aldeias em Anzourou (região de Tillabéri) e há cerca de duas semanas, pelo menos 34 pessoas foram mortas e 100 outras ficaram feridas em Toumour, na região de Diffa (sudeste), perto da Nigéria, por membros do grupo 'jihadista' Boko Haram, de acordo com as autoridades.
Milhares de migrantes atravessam Níger rumo à Europa
São jovens oriundos da África Ocidental e fazem tudo para chegar à Europa. Estão mesmo dispostos a arriscar a vida, atravessando o deserto, rumo ao Mediterrâneo. Mas nem todos são bem sucedidos.
Foto: DW/A. Cascais
Apoio aos "menos bem sucedidos"
Em Niamey existe um centro de acolhimento da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Aqui são acolhidos os jovens "revenants", que não conseguiram atravessar o deserto e se veem obrigados a regressar aos seus países de origem. A OIM, que faz parte do sistema das Nações Unidas, dá-lhes abrigo provisório, alimentação e apoio na obtenção de passaportes e outros documentos.
Foto: DW/
À espera do regresso a casa
Os jovens que procuram apoio no centro da OIM vêm dos mais diferentes países: Guiné-Conacri, Mali, Senegal, Gâmbia ou Guiné-Bissau, movidos sobretudo por objetivos económicos. Muitos tiraram cursos superiores, mas não arranjam trabalho. Muitas famílias apostam na emigração de pelo menos um filho. Caso esse filho seja bem sucedido poderá eventualmente apoiar economicamente o resto da família.
Foto: DW/A. Cascais
Frustrados por terem falhado a Europa
Muitos investiram todas as suas economias, pediram dinheiro a familiares e perderam tudo. Agora esperam pelo regresso aos seus países com a sensação de terem sofrido grandes derrotas pessoais. Os assistentes sociais falam de casos em que os jovens não se atrevem a voltar ao seio das suas famílias, "por sentirem vergonha". Precisam de apoio psicológico, mas esse apoio não existe.
Foto: DW/A. Cascais
Otimismo apesar das derrotas
Alguns dos migrantes sofrem lesões e contraem doenças durante a travessia do deserto, mas mesmo assim não perdem o ânimo. Em muitos casos, os jovens tentam várias vezes, ao longo da vida, atingir a terra prometida: a Europa. Muitos nunca o conseguem, mas não perdem o otimismo. Em 2016, a OIM prestou apoio a mais de 6 mil "revenants" - migrantes que não foram bem sucedidos no Níger.
Foto: DW/A. Cascais
Espancado na Líbia
Dumbya Mamadou, de 26 anos de idade, oriundo do Senegal, conseguiu atingir a Líbia, depois de uma "odisseia de 5 dias e 5 noites" pelo deserto do Níger. Mas na Líbia foi maltratado. "Os líbios apontaram-me armas e espancaram-me, não têm respeito pelo ser humano", afirma o jovem. Dumbya volta ao seu país de origem com um sentimento de derrota: "Queria estudar na Europa, agora não sei o que fazer".
Foto: DW/
Roubado no Burkina Faso
Mamadou Barry, de 21 anos, oriundo da Guiné-Conacri, tinha um sonho: aplicar em França os seus conhecimentos de marketing e os seus talentos musicais. Mas a viagem rumo à Europa correu-lhe mal. "Fui roubado no Burkina Faso, o primeiro país pelo qual passei", conta. Mesmo assim, Mamadou aprendeu uma grande lição para a vida: "coisas que nunca teria aprendido se nunca tivesse saído de Conacri".
Foto: DW/A. Cascais
Rap contra a frustração
Mamadou Barry tenta digerir as suas derrotas e decepções através da música. Há três anos que o jovem canta e interpreta temas de rap e hiphop de sua autoria. O seu último tema foi escrito em Niamey, capital do Níger, e tem a seguinte letra: "A migração arrasou-me / e ninguém me pode consolar / O Mar Mediterrâneo já matou muitos / e nós cá continuamos: sem comida, sem cama, sem saúde".
Foto: DW/
Central de autocarros de Niamey: uma placa giratória
É da estação de autocarros de Niamey que partem diariamente centenas de furgonetas, muitas delas repletas de jovens migrantes, em direção ao norte. Os migrantes tornaram-se um fator relevante para a economia do Níger. Há muita gente que ganha a sua vida prestando diversos serviços aos migrantes: viagens pelo deserto, alimentação e mesmo cuidados médicos.
Foto: DW/A. Cascais
Mais migrantes tentam atravessar deserto do Níger
O número de migrantes que viajam através dos vastos territórios desérticos do Níger para chegar ao norte da África e à Europa não pára de aumentar, tendo alcançado os 200 mil em 2016, segundo estimativas do escritório da Organização Internacional para as Migrações. Outras fontes falam de 10 mil migrantes que atravessam o Níger por semana. A situacão geográfica do Níger é o fator determinante.
Foto: DW/A. Cascais
Agadez, o "olho da agulha"
Agadez, cidade desértica no Níger, é um dos principais pontos de trânsito no Saara para os imigrantes em fuga de nações empobrecidas do oeste da África. As "máfias" do tráfico humano têm beneficiado do caos na Líbia para transportar dezenas de milhares de pessoas para o continente europeu em embarcações precárias. Os migrantes muitas vezes sofrem abusos dos passadores.