Ataque contra aldeia no noroeste do país aconteceu na noite de sexta-feira (11.05), a cinco dias da realização de um referendo constitucional. "Terroristas" teriam vindo da RDC, disse ministro da Segurança Pública.
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Um grupo de homens armados atacou a comunidade de Ruhagarika, na província rural de Cibitoke, noroeste do país - situada na fronteira com a República Democrática do Congo (RDC).
Uma sobrevivente disse à agência de notícias Associated Press que os homens armados chegaram por volta das 22 horas (hora local) e "atacaram os lares e atearam fogo nas casas".
Algumas vítimas foram golpeadas com facões e outras baleadas ou queimadas vivas, disse a mulher que perdeu o marido e dois filhos.
O ministro da Segurança Pública do Burundi, Alain-Guillaume Bunyoni, que se encontra na região, confirmou que entre os 26 mortos há 11 menores de 14 anos e sete feridos, que foram transferidos para o hospital da capital, Bujumbura.
Bunyoni chamou o ataque de trabalho de um "grupo terrorista " que ele não identificou.
Os agressores chegaram da República Democrática do Congo, segundo o ministro, que anunciou que seu Governo está a conversar com o país vizinho para encontrar os "terroristas".
O ministro não deu mais detalhes sobre o ataque.
Referendo constitucional
O ataque acontece faltando cinco dias para a realização de um referendo para aprovar uma reforma constitucional no Burundi, que permitirá ao presidente Pierre Nkurunziza seguir no cargo até 2034.
Os perpetradores e seus motivos ainda não são conhecidos, mas moradores locais disseram que os atacantes cruzaram a fronteira para a RDC após o ataque.
Nas últimas semanas, o Governo enviou soldados para áreas fronteiriças, depois de acusar grupos de oposição exilados de tentarem impedir a votação.
No início deste mês, os Estados Unidos denunciaram "violência, intimidação e assédio "contra aqueles considerados opositores ao referendo e manifestou preocupação com o "processo não transparente"
de mudar a constituição.
A organização não governamental norte-americana, Human Rights Watch, notou "ampla impunidade" para as autoridades e seus aliados, incluindo a ala jovem do partido no poder, enquanto tentam que a votação favoreça o Presidente.
Onda de violência
O Burundi vive uma onda de violência política desde 2015, quando Nkurunziza anunciou que se apresentaria pela terceira vez às eleições - algo proibido pela atual Constituição e que ele tenta agora modificar no referendo, o que também viola os acordos que acabaram com uma longa guerra civil em 2005.
A repressão se concentrou primeiro nos manifestantes e opositores e, desde o golpe de Estado fracassado em maio de 2015, o Governo a recrudesceu. Estima-se que 1.200 pessoas morreram. Pelo menos 400 mil pessoas foram obrigadas a deixar seus lares, segundo dados das Nações Unidas, que acusam o Executivo de crimes de contra a humanidade.
Muitos no Burundi, um país pobre que ainda depende muito da ajuda externa, temem que uma nova rodada de derramamento de sangue aconteça após o referendo, independente dos resultados.
Burundi: uma cronologia da crise
Em julho de 2015, o Presidente Pierre Nkurunziza candidatou-se a um terceiro mandato, dando espaço a uma profunda instabilidade no país. Possível solução da crise, que já deixou milhares de mortos, não está à vista.
Foto: Getty Images/AFP/C. Ndegeya
Julho de 2015: eleições tensas
O anúncio em abril de que o Presidente do Burundi, Pierre Nkurunziza, concorreria a um terceiro mandato à revelia da Constituição, gerou um confronto amargo entre apoiantes e opositores do governo. Em três meses, mais de 80 pessoas foram mortas. Muitos dissidentes e jornalistas deixaram o país. As eleições em 21 de julho de 2015 foram boicotadas pela oposição.
Foto: Reuters/E. Benjamin
Julho de 2015: Agathon Rwasa – um perdedor?
Em 24 de julho, foi anunciado que o líder da oposição, Agathon Rwasa, perdera as eleições. Nkurunziza foi escolhido como novo Presidente com 69% dos votos. Dias depois, Rwasa foi nomeado vice-presidente da Assembleia Nacional. Antigos aliados apelidaram-no de "traidor".
Foto: Reuters/M. Hutchings
Agosto de 2015: general é morto
Em 1 de agosto, o general Adolphe Nshimirimana, responsável pela segurança pessoal do Presidente, foi morto num atentado na capital Bujumbura. A União Europeia demonstra preocupação com a "perigosa escalada de violência" e pede "contenção" e retomada do diálogo. Em provável retaliação à morte do general, o ativista Pierre-Claver Mbonimpa foi alvo de uma tentativa de assassinato em 3 de agosto.
Novembro de 2015: tensões entre Burundi e o Ruanda
Desde o início da crise, milhares de cidadãos do Burundi refugiaram-se no Ruanda. Em 6 de novembro, o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, criticou a situação de violência e instabilidade no país vizinho. "Vocês devem tirar lições do que aconteceu no Ruanda", declarou em referência ao genocídio de 1994. Nkurunziza acusa o governo ruandês de recrutar burundeses para causar mais problemas.
Foto: picture-alliance/AP Photo/E. Kagire
Dezembro de 2015: escalada da violência
Em 12 de dezembro, mais de 100 pessoas foram mortas em confrontos. Os assassinatos de autoria desconhecida seriam uma resposta aos ataques coordenados contra três bases militares no dia anterior. "Quando um conflito irrompe em grande escala, não podemos fingir que nada aconteceu", afirmou Adama Dieng, relator especial das Nações Unidas sobre prevenção do genocídio.
Foto: Reuters/J.P. Aime Harerimana
Dezembro de 2015: novo movimento rebelde
Um dia antes do Natal, o ex-oficial do exército Edouard Nshimirimana proclamou a formação de um novo grupo rebelde. As "Forças Republicanas do Burundi" têm o objetivo de derrubar Nkurunziza. O militar acusou o Presidente de utilizar a força e de colocar a polícia e o exército um contra o outro.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Pfister
Dezembro de 2015: tentativas de mediação
O Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, inaugurou em 28 de dezembro negociações de paz entre a oposição e o governo do Burundi. A União Africana decidiu enviar oito mil soldados ao país. Nkurunziza recusa-se a dialogar com a CNARED, a coligação da oposição. A ONU anunciou a abertura de investigações para apurar alegadas violações de direitos humanos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Wandera
Abril de 2016: ONU denuncia tortura
O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, denunciou a prática de tortura rotineira nas prisões do Burundi. Desde o início do ano, foram 354 casos. O Governo do Burundi deve "acabar com as práticas inaceitáveis e ilegais imediatamente", afirmou Al Hussein.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Campardo
Maio de 2016: CNARED de fora
Em 21 de maio, começam as negociações de paz em Arusha, na Tanzânia. O ex-presidente tanzaniano, Benjamin Mkapa, atua como mediador. A coligação de grupos da oposição CNARED não é convidada, sob pena de o Governo do Burundi deixar as conversações.
Foto: Getty Images/AFP/T. Karumba
Junho de 2016: críticos pagam preço elevado
Em 3 de junho, onze estudantes da cidade de Muramvya foram presos por rabiscar uma foto de Nkurunziza num livro escolar. O caso gerou revolta entre ativistas de direitos humanos. Anteriormente, 300 alunos já tinham sido expulsos das aulas em Ruziba pelo mesmo motivo.
Foto: DW
Julho de 2016: ex-ministra é morta
A morte de Hafsa Mossi, ex-ministra e confidente do presidente Nkurunziza, em 13 de julho, cria ainda mais tensão no Burundi. A ex-jornalista era membro do partido no poder, CNDD-FDD, e trabalhou como assessora de comunicação para o chefe de Estado. Pela primeira vez, um político do alto escalão do governo é assassinado em Bujumbura.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Julho de 2016: um assento vazio em Kigali
A crise no Burundi foi um dos temas de discussão da 27ª Cimeira da União Africana, realizada em Kigali, no Ruanda. A delegação do Burundi não participou nas discussões, porque pediu licença pouco antes da reunião. Os chefes de governo e de Estado da União Africana não chegaram a um acordo sobre a imposição de sanções. Falta vontade de Nkurunziza para negociar a saída do impasse.