Governador da província pede ajuda à população depois de vinte mortes, segundo as autoridades, nos últimos sete meses. Crenças populares seriam o motivo por trás dos assassinatos.
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Gonçalves Vilanculos diz que teme pela sua vida após ouvir as notícias de assassinatos de pessoas, aparentemente, pelo fato de serem carecas. "Tenho muito medo, sou uma das pessoas calvas. E em uma situação como essa, em que outros estão a ser mortos, qualquer um não se sente à vontade", afirma Vilanculos. "Todos dias, ganho coragem e me arrisco a circular", diz o moçambicano.
Segundo as autoridades, 20 pessoas calvas foram mortas nos últimos sete meses na província da Zambézia. Além disso, há túmulos em cemitérios familiares que têm sido vandalizados para a retirada de ossadas — alegadamente usadas em rituais tradicionais.
Ataques a calvos aumentam na Zambézia, em Moçambique
O jornalista Jocas Achar critica a fraca prontidão da polícia, fala em um problema sério e pede uma maior intervenção do Estado. "Estamos a viver uma situação em que um homem caça o outro homem", sustenta o jornalista. Ao falar sobre a questão, Achar lamenta a "perda de valores sociais e humanos que o nosso país está a enfrentar."
Moisés Caetano, da Direção Provincial do Género e Ação Social da Zambézia, também está preocupado e pede mais patrulhamento. "Não sei o que se passa, mas estes crimes não são característicos da República de Moçambique, a polícia devia reforçar a patrulha", declara Caetano.
Cooperação com o Malawi
A polícia coopera desde maio com as autoridades do vizinho Malawi para combater este tipo de crime. Segundo o comandante provincial, Francisco Madiguida, o assunto é tratado com muita seriedade. "Temos efetivamente esta informação e já estamos a controlar ela", defende.
A polícia refere ainda que, quando a cooperação começou, os homicídios reduziram durante dois meses. Mas o número de ataques a pessoas calvas voltou a aumentar nos últimos tempos. Por isso, o governador da Zambézia, Abdul Razak, pede a ajuda da população. "Toda a sociedade deve trabalhar — não só o governo, não só as autoridades policiais —e estar atenta a estas situações, que são anormais na nossa província", diz o governador, que conclui: "Apelamos aos líderes religiosos e comunitários a denunciarem essas ações criminosas."
Homenagem fotográfica aos albinos moçambicanos
Da autoria do fotógrafo brasileiro Davy Alexandrisky, a mostra "Preto Branco" é composta por 45 fotos e abriu ao público no início de agosto no Centro Cultural Brasil-Moçambique, em Maputo. Uma celebração das diferenças.
Foto: D. Alexandrisky
Celebração das diferenças
As fotos foram recolhidas em Moçambique pelo fotógrafo e artista visual brasileiro Davy Alexandrisky. A exposição procura mostrar o quotidiano dos albinos no trabalho, nos momentos de lazer e na vida privada, e sensibilizar para a luta pelos seus direitos. "A exposição é a celebração da vida plena a partir das diferenças", afirma Alexandrisky.
Foto: L. C. Matias
"Somos todos iguais"
Segundo Milton Munjovo, vice-presidente da Associação Amor à Vida, parceira do projeto, a principal mensagem que se pretende transmitir é de igualdade entre todos, respeito pelos direitos e dignidade de cada um. Munjovo defende a implementação de medidas de proteção dos albinas, como o acesso à educação, saúde e emprego, para melhorar a condição destas pessoas.
Foto: L. C. Matias
Afetos sem fronteiras
O amor, o carinho e o afeto ao próximo são marcas dominantes nestas fotos. "Homens e mulheres, negros e negras, não deixam de o ser por falta de melanina no organismo", escreve o autor da exposição.
Foto: L. C. Matias
Sensibilizar para os direitos dos albinos
Visitantes posam ao lado das fotografias no Centro Cultural Brasil-Moçambique, num gesto de empatia e cumplicidade com a causa. Em alguns países africanos, há registo de raptos e assassinatos de pessoas albinas, praticados por indivíduos que acreditam que poções ou amuletos produzidos a partir de partes do seu corpo têm poderes mágicos.
Foto: L. C. Matias
Pele diferente, hábitos iguais
Em Maputo, o local da exposição, uma jovem albina recorre a um serviço ambulante de estética para envernizar as unhas. O objectivo da mostra é precisamente demonstrar que os albinos são iguais aos outros seres humanos, apesar de necessitarem de uma atenção especial para proteger a vista e a pele da radiação solar.
Foto: Davy Alexandrisky
Poses espontâneas
As 45 fotografias que compõem a exposição "Preto Branco" foram captadas espontaneamente. Cada um posou ao seu gosto, de acordo com o autor Davy Alexandrisky. Na imagem, um par de jovens - ela albina, ele não - distribui música e sorrisos.
Foto: D. Alexandrisky
Menos casos de raptos
Não tem havido raptos e assassinatos de albinos nos últimos tempos, contrariamente ao terror que se vivia nesta altura em 2016, afirma Milton Munjovo, vice-presidente da Associação Amor à Vida. Munjovo estima que se tenham registado 20 casos de raptos nos primeiros sete meses deste ano, contra cerca de 50 em igual período no ano passado.
Foto: D. Alexandrisky
Luta pelos direitos dos albinos
Moçambique tem cerca de 20 mil pessoas albinas, segundo dados oficiais. Estima-se que, deste número, 70% sejam crianças, adolescentes e jovens. A maior parte dos albinos vêm de famílias carenciadas e são vulneráveis. O país celebrou pela primeira vez o Dia Mundial de Consciencialização do Albinismo em 2016 e aprovou um plano para combater a violência contra a pessoa albina.
Foto: Davy Alexandrisky
"Delicadeza impressionante"
Mussagy Jeichande, um dos visitantes, diz que a exposição consegue sensibilizar para o drama que os albinos sofrem em pleno século XXI. Considera que o fotógrafo conseguiu trazer a grande realidade de que o albino é um ser humano como qualquer outro. "A exposição revela, com profundidade, a sensibilidade do albino, do ponto de vista estético, de harmonia e da sensibilidade humana", afirma.