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África do Sul: Ataques a camiões prejudicam Moçambique

Lusa | AFP
13 de julho de 2023

O alerta é da Confederação das Associações Económicas de Moçambique, que fala de prejuízos na economia do país. Pelo menos 21 camiões foram incendiados desde sábado na África do Sul.

Imagem ilustrativaFoto: picture-alliance/Zuma Press/Xinhua

A Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) alertou, esta quinta-feira (13.07), para prejuízos na economia do país devido à onda de ataques a camiões de transporte de mercadorias na África do Sul, defendendo o reforço da segurança nas rodovias. 

"A economia vai voltar para trás, porque as pessoas têm medo de investir, de pôr os camiões na rua, isto vai trazer muitos problemas, tanto para os operadores de transporte como para o comércio", disse à Lusa o vice-presidente da CTA para o pelouro do Transporte de Carga, Flávio Naiene.

Outros tantos transportadores com camiões de carga parquearam os seus veículos devido à violência nas estradas sul-africanas, avançou Flávio Naiene.

"Eu, em particular, tenho os camiões parados, porque tenho medo de ir para a África do Sul, eu dei emprego aos meus motoristas, não para os entregar às suas famílias num caixão", afirmou Naiene.

Presidente Cyril Ramaphosa fala de atos de "sabotagem económica"Foto: Grigory Sysoyev/Sputnik/AP/picture alliance

A África do Sul é a principal fonte de abastecimento em bens essenciais das regiões sul e centro de Moçambique e com a violência contra os transportadores "os preços vão disparar", acrescentou Flávio Naiene.

Só desde sábado passado, pelo menos 21 camiões foram incendiados, na África do Sul, numa série de ataques misteriosos que o Presidente Cyril Ramaphosa descreveu como atos de "sabotagem económica".

Camião de matrícula moçambicana

Segundo Flávio Naiene, um dos camiões incendiados na noite de terça para quarta-feira tinha matrícula moçambicana.

"Um colega nosso perdeu o camião" ao ser "queimado com mercadoria", na terça-feira, declarou Flávio Naiene.

Mas mais transportadores moçambicanos podem ter sido afetados, sem estarem contabilizados, porque os seus camiões têm matrícula sul-africana, notou Naiene.

Assinalou que a insegurança nas rodovias que ligam a África do Sul e Moçambique vai obrigar transportadores a falhar o pagamento de dívidas a bancos, porque os carros não estão a render, por estarem acantonados.

Quais as razões para os ataques?

"Eu penso que [os autores dos incêndios de camiões] querem transmitir um recado ao seu Governo [sul-africano] ou aos dois governos, porque a sua intenção não é roubar", enfatizou o vice-presidente da CTA para o pelouro do Transporte de Carga.

Pelo menos 21 camiões foram incendiados desde sábado na África do SulFoto: picture-alliance/dpa/G. Fischer

Para justificar esta perceção, Flávio Naiene apontou a existência de um vídeo em que desconhecidos ateiam fogo a um pesado, depois de obrigarem o motorista a descer do veículo, sem tirarem nenhum bem.

Defendeu que as autoridades moçambicanas devem persuadir a contraparte sul-africana a reforçar a segurança nos "pontos mais críticos" das rodovias, colocando mais polícias e equipamentos de vigilância.

Lamentou que os utentes das rodovias que ligam Moçambique e África do Sul tenham que pagar taxa de portagem, em estradas concessionadas, mas viajarem num ambiente de insegurança.

Objetivo é "sabotar o Estado"?

Em conferência de imprensa na quarta-feira (12.07), o ministro da Polícia sul-africana, Bheki Cele, avançou que a força de segurança está a investigar os incidentes, tendo identificado pelo menos 12 pessoas como sendo os responsáveis pelas ações armadas contra o setor do transporte de mercadorias pesadas.

"As evidências apontam para operações organizadas, coordenadas e sofisticadas que procuram afetar a economia do país e sabotar o Estado", salientou o ministro da Polícia.

Presidente Cyril Ramaphosa e ministro da Polícia sul-africana Bheki CeleFoto: Getty Images/AFP/R. Bosch

As províncias afetadas são Gauteng, onde se localiza Joanesburgo, e Pretória, a capital do país, KwaZulu-Natal, sudeste, Mpumalanga e Limpopo, na região norte.

Bheki Cele sublinhou que a maioria dos motoristas são sul-africanos e que os camiões pertencem a empresas sul-africanas, referindo que apenas três camiões estrangeiros foram visados nas recentes ações de violência armada, dois em Mpumalanga e um em KwaZulu-Natal.

"Também havia algo em comum entre os camiões visados -- a maioria transportava carvão e crómio", frisou.

Já esta quinta-feira (13.07), a Polícia da África do Sul anunciou a detenção de dois motoristas de veículos pesados na província de Mpumalanga, nordeste do país, que faz fronteira com Moçambique. 

Em comunicado, a polícia avançou que "dois homens, de 29 e 27 anos, foram presos no seu local de residência", durante a manhã, acrescentado que "ambos os suspeitos enfrentam uma acusação de dano malicioso à propriedade".

O comissário nacional da SAPS, Fannie Masemola, citado no comunicado, revelou que a força de segurança "está no encalço de mais suspeitos que envolvem os líderes desses incidentes esporádicos de criminalidade". 

O Governo sul-africano refutou alegações de que os recentes ataques incendiários estejam relacionados com a insurreição de julho de 2021, em pelo menos 337 pessoas morreram e mais de 3.400 foram detidas em resultado de tumultos e pilhagens que afetaram durante algumas semanas a África do Sul.

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