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Ataques colocam Moçambique em situação "indisfarçável"

António Cascais
11 de setembro de 2020

Jornalista em Cabo Delgado defende que os ataques armados no Norte do país estão assentes em interesses económicos e criminosos e diz que o Estado moçambicano deve pedir apoio externo perante situação "indisfarçável".

Foto ilustrativa do resultado dos ataques perpetrados por homens armados no Norte de Moçambique Foto: DW/A. Chissale

De acordo com as informações divulgadas esta quinta-feira (10.09) pela Carta de Moçambique, os homens armados atacaram na noite da última segunda-feira (07.09) a ilha de Vamisse, a cerca de 9 km da Península de Afungi, no distrito de Palma, local onde se está a construir um megaprojeto de gás. 

Fontes citadas por vários portais online, entre eles o Moz24horas, afirmam que deste ataque resultou pelo menos um morto, além da destruição de bens materiais da população daquela ilha. O grupo terá incendiado algumas embarcações, mas a população, de acordo com o portal, conseguiu fugir para o lado continental. 

Luís Nhachote, diretor editorial do Moz24horas e coordenador do Centro de Jornalismo de Investigação de MoçambiqueFoto: Luis Nhachote

A DW África falou com o diretor editorial do Moz24horas, Luís Nhachote, que é também coordenador do Centro de Jornalismo de Investigação de Moçambique.

DW África: O que é que os jornalistas de investigação em Moçambique conseguiram apurar sobre os últimos acontecimentos no nordeste de Cabo Delgado?

Luís Nhachote (LN): Desde que os terroristas tomaram o porto de Mocímboa da Praia, há intensos combates com vista à recuperação deste ponto estratégico em Cabo Delgado. Os terroristas continuam no porto e agora estão a ir para as ilhas.

DW África: Que ilhas são estas e qual o interesse nesses locais?

LN: Cabo Delgado tem muitas ilhas, são mais de 100 ilhas. São as pessoas que foram mandadas sair das ilhas que estão a fazer-nos esse relato. Nós fomos mandados sair das ilhas.

DW África: Trata-se do mesmo grupo de atacantes que está a ir para as ilhas?

LN: Tudo indica que seja o mesmo grupo, porque o "modus operandi" é o mesmo. Nada indica que sejam outros. O ministro do Interior [Amade Miquidade] tem dito que esses jihadistas têm tecnologia de ponta e usam drones. Estão a comprar informações e a pagar a locais. Parte destes jihadistas são miúdos que foram levados para estudar o islão na Arábia Saudita e Somália.

Presidente moçambicano pressionado a pedir ajuda externa por causa dos ataques em Cabo DelgadoFoto: DW

DW África: Disse que estes homens têm logística e dinheiro para pagar a jovens. Isso é indício de que há interesses económicos criminosos?

LN: Sim, muito provavelmente o tráfico de droga e de minerais está a alimentar esta guerra. Está nas notícias da África do Sul hoje de manhã que um camião que levava droga avaliada em mais de sete milhões de randes (cerca de 350 mil euros) entrou para as fronteiras de Moçambique. Cabo Delgado é muito grande. A própria baía de Pemba, que tem uma parte naval, foi reformulada para ter barcos capazes de fazer o patrulhamento da costa. Mas os barcos continuam parados.

DW África: As forças de segurança de Moçambique têm capacidade para controlar a situação ou será necessária intervenção estrangeira?

LN: Penso que a situação que se está a viver é indisfarçável e o Estado moçambicano precisa de pedir apoio aos seus vizinhos. A Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) tem um papel muito importante a desempenhar nesse assunto. Essa foi uma das coisas que se discutiu na cimeira da SADC, na qual o Presidente Filipe Nyusi tomou o lugar da presidência por um ano. Não saiu cá para fora o que foi discutido, mas há vários países na região, como Angola, com disponibilidade para apoiar caso o pedido seja feito formalmente.

Quem está a apoiar o exército moçambicano são os grupos privados de segurança. São mercenários estrangeiros que dão esse apoio. Se o Estado moçambicano faz contratos com estas entidades privadas que fazem segurança militar, podem pedir apoio formal e penso que em termos de custos até serão menores. Nós nem sabemos quanto é que o Estado está a pagar a essas forças privadas.

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