Autocarros que partem da Zambézia em direção a outras províncias vão cada vez mais vazios. Alguns nem chegam a sair de Quelimane por falta de passageiros. Líder da RENAMO, Ossufo Momade, rejeita envolvimento nos ataques.
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10 pessoas morreram em ataques armados no centro de Moçambique deste agosto. E, sobretudo nas últimas três semanas, diminuiu o fluxo de passageiros no terminal de autocarros da Romoza, em Quelimane, o maior na província da Zambézia.
As pessoas não viajam porque têm medo de ser atacadas no caminho, segundo o motorista Adolfo Alexandre. "Com esta situação, isso está complicado. Saí de Chimoio ontem com 15 passageiros, hoje queria voltar mas não consegui, porque só tinha quatro passageiros", afirma.
Este não foi o único autocarro a ficar no terminal. "A situação está péssima. Esta semana, é difícil os autocarros saírem com 20 passageiros. Na semana passada, três autocarros não saíram para Maputo", acrescenta o bilheteiro Juma Gentil.
O responsável pelo terminal rodoviário da Romoza negou dar entrevista à DW sobre este caso. A DW tentou também contactar a Associação Provincial dos Transportadores da Zambézia, sem sucesso.
Momade nega envolvimento nos ataques
A polícia atribui a responsabilidade dos ataques no centro do país a homens armados da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). Mas, durante um comício no fim-de-semana, o líder do maior partido da oposição, Ossufo Momade, voltou a rejeitar qualquer envolvimento. E acusou o grupo de dissidentes liderado por Mariano Nhongo de realizar os ataques:
"Já não é da responsabilidade de Ossufo Momade. Quando Nhongo veio a público e disse que ia matar Ossufo Momade, todos se riram. E hoje é isso que está a acontecer. O Estado moçambicano tem a grande responsabilidade", afirmou Momade.
O líder da RENAMO jurou ainda que não vai fazer guerra depois das eleições gerais, que diz terem sido fraudulentas: "Aquilo que aconteceu no dia 15 de outubro foi um insulto para os moçambicanos, por isso não há razões de dividirmos Moçambique".
À imprensa, o líder da autoproclamada "Junta Militar" da RENAMO, Mariano Nhongo, também negou ser o responsável pelos ataques no centro de Moçambique.
Quelimane: Os mecânicos da capital do ciclismo de Moçambique
A bicicleta é o meio de transporte de eleição em Quelimane, capital da província da Zambézia. No centro, multiplicam-se oficinas e mecânicos prontos para prestar os seus serviços quando há uma avaria.
Foto: DW/M. Mueia
Modelos para todos os gostos
Na capital do ciclismo há dezenas de lojas, a maioria de cidadãos chineses, indianos e nigerianos, dedicadas à venda de bicicletas novas e usadas. Em cada um dos estabelecimentos, há no mínimo 500 veículos de todos os feitios e para todas as idades. O preço de uma bicicleta em segunda mão varia entre os 5 mil e os 10 mil meticais, cerca de 140 euros. Os estudantes são os principais compradores.
Foto: DW/M. Mueia
Estratégia de mercado
As oficinas do Mercado Central foram instaladas em locais estratégicos, como o próprio recinto do mercado e a avenida 25 de Junho. É aqui que muitos clientes procuram os serviços de reparação. Os preços variam em função do trabalho: reparar uma roda de bicicleta, por exemplo, pode custar 70 meticais - cerca de um euro. A manutenção completa de uma bicicleta nova ronda os 300 meticais.
Foto: DW/M. Mueia
Carga horária pesada
Muitos mecânicos têm de caminhar entre 10 a 15 quilómetros da zona de residência até ao mercado, onde se encontram as oficinas. O horário de trabalho não é fácil: as oficinas abrem de madrugada, entre as 4h00 e as 4h30, e fecham por volta das 17h30. Enquanto alguns regressam finalmente a casa, após um longo dia de trabalho, outros frequentam as aulas do regime noturno.
Foto: DW/M. Mueia
De bicicletas a motas
Fora do mercado central da cidade de Quelimane também há muitas oficinas. Muitos mecânicos oferecem serviço duplo: reparam não só bicicletas, mas também motorizadas. O arranjo de motas é mais rentável, duma vez que se trata de uma "máquina" mais complexa que uma bicicleta.
Foto: DW/M. Mueia
Clientes satisfeitos
Aiena Azevedo é uma das clientes assíduas destas oficinas. Hoje, traz novos pneus para substituir as rodas da sua motorizada. Nunca teve queixas sobre a qualidade dos serviços prestados pelos mecânicos no mercado central de Quelimane. Não se importa de pagar mais pela confiança: nunca deixaria a sua mota nas mãos de mecânicos fora do mercado.
Foto: DW/M. Mueia
Negócio gera negócio
A poucos metros das oficinas, há todo o tipo de peças para bicicletas e motorizadas à disposição de mecânicos e clientes. Em caso de danos maiores nos veículos, é preciso substituir várias componentes e o preço do arranjo aumenta.
Foto: DW/M. Mueia
Aprender o ofício
Todos os dias, as oficinas de Quelimane recebem novos aprendizes de mecânico de bicicletas. É o caso de Lucas Alilo Luís (à direita) que há seis meses trabalha com o mestre Fernando Mariano (à esquerda), os dois naturais de Inhassunge e residentes em Icidhua. Lucas não concluiu a 10ª classe por falta de condições e decidiu juntar-se aos mecânicos do centro.
Foto: DW/M. Mueia
Mecânicos a mais
O mecânico Lucas Casimiro, de 21 anos, do bairro Icidhua, queixa-se da falta de clientes. Diz que não há movimento devido ao excesso de mecânicos de bicicletas na cidade. A ausência de preços fixos também é um problema, na opinião de Lucas Casimiro: cada trabalhador estipula o seu valor e os clientes vão aos mecânicos de baixo custo.
Foto: DW/M. Mueia
Da agronomia à reparação de bicicletas
Em Quelimane, há quem tenha abandonado a sua profissão para se dedicar a este trabalho. Lerio Carlos, de 22 anos, formou-se em Agronomia. Há um ano, decidiu juntar-se aos mecânicos de bicicletas, por falta de emprego na sua área. Afirma que já está adaptado à nova realidade e que gosta do trabalho. Ganha cerca de 200 meticais (cerca de 3 euros) por dia.
Foto: DW/M. Mueia
Pagamento? Só no final!
É uma regra cumprida por todos nas oficinas: clientes e patrões concordam que o pagamento só se faz depois da conclusão do trabalho. Desta forma, evitam-se eventuais falhas na concertação da bicicleta.
Foto: DW/M. Mueia
Fruta para o almoço
Pelas oficinas, a alimentação não é a ideal. Baixon Casquero é um dos mecânicos de renome em Quelimane. Tal como muitos colegas, não tem tempo para ir a casa à hora do almoço. Ao meio-dia, faz uma pausa no arranjo de bicicletas e come duas mangas cozidas. Para variar, nalguns dias compra bolinhos. Nos dias em que ganha mais dinheiro, compra uma refeição preparada numa das barracas do mercado.
Foto: DW/M. Mueia
Profissionais realizados
Muitos mecânicos são jovens e chefes de família. À DW Àfrica, dizem sentir-se bem a exercer esta atividade. Ganham o suficiente para pagar as contas em casa, alimentar a família e comprar material para que os filhos possam ir à escola.