Recentes ataques terroristas no distrito de Memba, região costeira da província de Nampula que faz fronteira com a de Cabo Delgado, continuam a agitar e a criar medo nas populações locais.
Populares em Nampula estão em alerta Foto: Sitoi Lutxeque/DW
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Em Nampula, norte de Moçambique, terroristas mataram, na semana passada, uma pessoa e incendiaram mais de uma centena de casas, no distrito de Memba, segundo as últimas atualizações das autoridades governamentais.
Houve mais uma tentativa de ataques, mas foram frustradas e o governador da província visitou, nesta quinta-feira, as vítimas para solidarizar-se com apoios alimentares e anunciar o reforço de segurança.
Afonso Simão, residente no posto administrativo de Chipene, no distrito de Memba, lembra com tristeza o fatídico dia em que sofreu o ataque onde perdeu o teto da sua casa e os pertences.
"Era entre 20 horas a 21 horas, ouvimos que há terroristas no mato, e quando chegaram neste bairro não encontram ninguém [porque já tínhamos fugido] daí vimos fogo [nas nossas casas]. Levaram comida da população e queimaram comida]", lamentou.
Angélica Gabriel, outra moradora de Chipene, também viu os seus bens reduzidos a cinzas. "Nós fugimos para as matas e quando regressamos encontramos todas casas incendiadas", disse.
Muitas infraestruturas foram destruídas em MembaFoto: Sitoi Lutxeque/DW
"Situação continua preocupante"
Manuel Cintura, administrador do distrito de Memba, diz que a situação no terreno continua preocupante. Afirmou que parte da população está a abandonar a região e outra a regressar de forma tímida.
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"A situação continua agitada, a população está a regressar timidamente para as zonas de origem, mas uma parte continua a não dormir nas suas casas", disse.
Além de incendiarem casas, os terroristas também decapitaram um cidadão de 29 anos, na mesma incursão, e recentemente tentaram ensaiar mais um ataque.
O governador de Nampula, Eduardo Abdula, visitou os locais atacados, na quarta-feira e quinta-feira, onde lamentou a morte de uma pessoa.
Uma casa completamente destruída Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Violência
"Houve um caso de degolamento, por tanto alguém foi degolado, cujas famílias estão aqui. Entretanto, já houve algumas emboscadas, por parte dos terroristas, mas as nossas forças responderam prontamente e conseguiram afastá-los", disse.
Na sua visita a Memba, Abdula solidarizou-se com as vítimas, oferecendo cesta básicas, e anunciou o reforço das Forças de Defesa e Segurança e apelou à vigilância.
"É preciso reforçarmos mais [a segurança], mas também é preciso que as comunidades contribuam na vigilância e na denúncia de movimentos estranhos", exortou.
Entre 22 de setembro e 13 de outubro a "escalada de ataques e a insegurança provocada por grupos armados" levou a "novos deslocamentos" - num total de 92.792 pessoas, equivalente a 25.476 famílias.
Essencialmente, nos distritos de Balama, Mocímboa da Praia, Montepuez e Chiúre, Cabo Delgado, mas também em Memba, província de Nampula, de acordo com o mais recente relatório do terreno da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Um total de 5.960 famílias foram acolhidas no distrito de Mueda, em Cabo Delgado, após recentes ataques nos distritos de Mocímboa da Praia e Palma, no norte de Moçambique, disse ontem uma fonte oficial.
Nampula: "Terra prometida" não consegue albergar mais "peregrinos"
Nampula tornou-se, desde o início dos ataques terroristas em Cabo Delgado, uma das "terras prometidas" para os refugiados. Muitos deslocados querem agora fixar ali residência, mas há dificuldades por falta de espaço.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Dificuldades em acolher mais pessoas
Muitos deslocados querem fixar residência em Nampula, uma cidade desenvolvida e calma no norte de Moçambique. No entanto, sentem fortes dificuldades devido à falta de terras disponíveis. O Governo local tenta encontrar soluções, que muitas vezes não são as que os habitantes mais gostam.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Há novas construções em zonas de risco
O fluxo populacional que a cidade de Nampula está a conhecer nos últimos anos, principalmente desde os conflitos em Cabo Delgado, tem contribuído para o aumento da construção de habitações em locais de risco. Até 2017, a cidade contava com mais de 700 mil habitantes, mas atualmente, de acordo com fontes do município, estima-se que sejam cerca de 900 mil.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Vende-se terreno: uma violação da lei que é ignorada
Em Moçambique, de acordo com a lei, a terra não pode ser vendida. Os terrenos são propriedade do Estado e cabe ao mesmo atribuí-los aos cidadãos. No entanto, as vendas ocorrem com regularidade. Em Nampula, em todos os bairros, incluindo os que estão em expansão, os terrenos são vendidos com um olhar indiferente por parte das instituições que velam pela legalidade.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
“Conflito por terras” entre mortos e vivos
A procura de espaço para viver está a originar o aumento de conflitos. Na zona do Muthita, no bairro de Mutauanha, a população invadiu áreas de reserva para construção de diversas infraestruturas do município. Esta imagem mostra uma disputa de terra num cemitério comunitário, entre os mortos e os cidadãos que o invadiram, tirando o sossego dos defuntos.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Naphutha: um rio resistente
O Rio Naphuta é fundamental no abastecimento de água da população do bairro de Mutauanha. Contudo, a sua existência é cada vez mais difícil. O rio sofre uma forte pressão humana, devido às construções de moradias e alterações climáticas.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Moradores unem esforços e abrem estrada
Na Unidade Comunal Muthita, no bairro de Mutauanha, os moradores decidiram unir-se. Recorrendo a enxadas, ancinhos, entre outras ferramentas de trabalho agrícola, decidiram abrir estradas. Embora de dimensões reduzidas, estes caminhos em terra batida permitem a mobilidade de viaturas pequenas.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Terras “sem ninguém”
A cidade de Nampula é a maior do norte de Moçambique. Na sua área ainda permanecem vastas terras férteis e intactas. Contudo, muitos cidadãos preferem ignorá-las devido à falta de condições mínimas. Em algumas destas zonas não ocupadas têm sido feitas delimitações de terrenos, mas a distribuição dos mesmos não tem sido frequente.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Nem tudo é negativo
A lotação da cidade moçambicana de Nampula não está apenas a criar pesos negativos. Os bairros de expansão da cidade estão também a conhecer novas e melhores moradias. Há nestes bairros luz e água. No entanto, a oferta desta última, por parte do Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água (FIPAG), não dura as 24 horas do dia.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Fábricas consomem mais terras
O “boom” populacional na cidade não está a travar o desenvolvimento. Nos últimos anos, a cidade tem vindo a conhecer um aumento de novas infraestruturas económicas e vários investimentos que consomem extensas terras. Ao longo da Estrada Nacional número 1, desde a entrada até à saída da cidade, há novas construções de indústrias a surgirem.