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Cabo Delgado: Mais de mil pessoas deportadas pela Tanzânia

Lusa
18 de maio de 2021

Pelo menos 1.500 pessoas que fugiram de Palma para a Tanzânia após ataque de 24 de março àquela vila de Cabo Delgado foram deportadas neste mês, avançou o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

Mosambik | Vertriebene | Metuge
Foto de arquivo.Foto: DW

Os grupos são maioritariamente de crianças e mulheres e terão caminhado durante dias nas matas até chegarem à Tanzânia, de onde viriam a ser deportados para Negomane, uma vila de Cabo Delgado localizada na fronteira com a Tanzânia, na confluência entre os rios Rovuma e Lugenda, disse o porta-voz do ACNUR Boris Cheshirkov, durante uma conferência de imprensa em Genebra.

"O ACNUR está alarmado com relatos de que os moçambicanos foram deportados à força e impedidos de pedir asilo", declarou Boris Cheshirkov.

O grupo deportado foi acolhido num espaço com tendas de organizações das Nações Unidas em Negomane, situada no posto administrativo moçambicano de Mueda, a quase 147 quilómetros de Palma.

Ponte sobre o rio Rovumba, que liga Moçambique à Tanzânia.Foto: DW/Estácio Valoi

Caminhada durou dias

 "As pessoas disseram ao ACNUR que caminharam durante dias até ao rio Rovuma, cruzando-o de barco para chegar à Tanzânia, de onde foram devolvidos pelas autoridades", acrescenta a entidade, que avança ainda que os grupos terão sido "interrogados" por oficiais daquele país e aqueles que não ofereceram "provas" da nacionalidade tanzaniana foram deportados através de um ponto de fronteira diferente.

Segundo o ACNUR, as condições em Negomano são "terríveis" e há falta de alimentação, água e serviços de saúde, uma situação agravada pelo facto de a assistência humanitária estar a chegar de forma limitada à região.

"A situação é particularmente desesperante para as mães solteiras, que agora estão em Negomano sem o apoio da família", acrescentou Boris Cheshirkov, apelando aos dois governos para que seja respeitado o princípio da unidade familiar.

Ataques

A vila de Palma, a cerca de seis quilómetros do projeto de gás natural da multinacional Total, sofreu um ataque armado a 24 de março, que as autoridades moçambicanas dizem ter resultado na morte de dezenas de pessoas e na fuga de milhares.

As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás com início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.

Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e 714 mil deslocados, de acordo com o Governo moçambicano.

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