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Cabo Delgado: Províncias são “refúgio” de insurgentes

Lusa
11 de dezembro de 2021

As províncias moçambicanas de Niassa e Nampula, norte, e Zambézia, centro, oferecem condições para um “refúgio perfeito e expansão” dos grupos armados em fuga da província de Cabo Delgado, consideram analistas.

Feierlichkeiten zum Tag der Streitkräfte in Mosambik
Foto: Estácio Valoi/DW

Na semana passada, o presidente da assembleia provincial de Niassa, Artur Chitandale, alertou para a possibilidade de os insurgentes usarem a província como "refúgio” na sequência da fuga face à ofensiva das Forças Armadas de Moçambique (FDS), Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).

"Sejamos mais vigilantes, porque a situação dos insurgentes em Cabo Delgado não está boa. A todo o custo [os grupos armados] estão a procurar refúgios e um dos refúgios pode ser a província de Niassa”, ao lado de Cabo Delgado, alertou Chitandale, citado pela Rádio Moçambique.

Aquele dirigente falava na sequência de informações avançadas pela imprensa local de que um grupo de homens armados terá raptado uma centena de jovens  e incendiado construções tradicionais (lojas e residências) na localidade de Naulala, em Niassa, uma das quais pertencentes ao chefe da localidade.

"Refúgio perfeito"

João Feijó, pesquisador da organização não-governamental (ONG) Observatório do Meio Rural (OMR) e autor de trabalhos sobre a violência armada em Cabo Delgado, considerou a província de Niassa "um refúgio perfeito para a insurgência”, apontando como fatores de atração a vastidão do território, mata densa, existência de vários cursos de água, economia ilícita e uma juventude desempregada.

"A expansão da ação dos insurgentes para a província de Niassa é um desenvolvimento natural, tendo em conta a pressão militar que sofrem atualmente em Cabo Delgado”, enfatizou Feijó.

A presença de algumas escolas islâmicas com uma orientação radical no Niassa também favorece a instalação de grupos armados na província, prosseguiu.

Aperto do cerco em Cabo Delgado

FDS, tropas ruandesas e da SADC apertam o cerco contra terroristas em Cabo DelgadoFoto: Estácio Valoi/DW

Aquele pesquisador referiu que o cerco aos grupos armados pela ofensiva das Forças de Defesa e Segurança moçambicanas, do Ruanda e SADC obrigou-os a subdividirem-se em pequenas unidades e com maior mobilidade.

"Infelizmente, se se confirmar uma tendência de expansão da ação dos grupos armados, a guerra no norte poderá ser prolongada e não se vislumbra uma vitória instantânea”, alertou o pesquisador.

Nesse sentido, considerou que ganha mais força a necessidade de diálogo com elementos com influência no seio dos grupos armados, para que a solução política tenha peso igual ou superior à ação militar.

João Feijó assinalou que "a tática” dos grupos armados repete a estratégia que a guerrilha da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) usou para sobreviver à "Operação Nó Górdio”, conduzida pelo general português Kaúlza de Arriaga - para o aniquilamento dos combatentes que lutavam contra o colonialismo português.

"A 'Operação Nó Górdio' resultou na expansão da guerra colonial, porque a FRELIMO viu-se obrigada a dispersar os seus guerrilheiros por todo o norte de Moçambique e parte do centro”, observou João Feijó.

"Inevitável” a disseminação (…)

Mohamed Yassine, docente de Relações Internacionais na Universidade Joaquim Chissano, instituição estatal, também qualificou como "inevitável” a disseminação da ação dos grupos armados pela região norte do país.

Mohamed YassineFoto: privat

"Não é novidade nenhuma, se a guerra em Cabo Delgado estiver a atingir a província de Niassa e vier a atingir Nampula e Zambézia, porque a insurgência está sob pressão militar”, declarou Yassine, que elaborou várias análises sobre o extremismo violento.

Aquele académico avançou que depois de terem iniciado ataques no distrito de Mocímboa da Praia e conquistado território na província de Cabo Delgado, era expectável que os grupos armados entrassem numa fase de expansão, resultado da ofensiva militar de que estão a ser alvo.

"A resposta à ação dos grupos armados não se deve limitar à força bruta das armas, passa também pelo diálogo e, sobretudo, pela destruição da ideologia que lhes está subjacente”, afirmou Muhamad Yassine.

Promover a desmobilização de jovens

Yassine também defendeu que o Governo deve encontrar interlocutores à altura de promover a desmobilização de jovens recrutados pelos grupos armados e a implementação e identificação de políticas sociais e económicas em prol das comunidades.

Por outro lado, continuou, a fuga de insurgentes para outras partes do norte do país pode intensificar a radicalização de jovens da região, devido ao contacto com elementos doutrinados no extremismo islâmico e com experiência de combate adquirida em Cabo Delgado.

"O estudo e análise da violência extremista mostra que a maioria dos elementos usados para esta ação é constituída por jovens locais, que podem ter sido ideologicamente intoxicados por pessoas de fora das comunidades”, frisou Yassine.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, de acordo com as autoridades moçambicanas.

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