Representante das ONG em Manica disse que ataque armado a viatura de organização de ajuda humanitária constitui "ameaça terrível". Embaixada dos EUA manifesta preocupação.
O representante do Fórum das Organizações Não-Governamentais Internacionais em Manica, Sérgio Pereira, disse que o ataque constitui uma ameaça terrível e sem contemplações para as organizações humanitárias:
"Trata-se de uma ameaça muito grande, na medida em que os homens armados atacam as organizações humanitárias".
"Não estamos a entender porque atacar parceiros do Governo, pois as organizações não levam consigo militares e são devidamente bem identificadas, daí que não há razões para o efeito", defendeu Pereira.
Na sequência do ataque, a Embaixada dos Estados Unidos da América emitiu um comunicado, na sexta-feira (27.11), a expressar "a sua forte preocupação com o manifesto ataque contra um transporte coletivo na província de Manica, que feriu três empregados, um dos quais gravemente, de uma organização que trabalha com a Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional".
Negociar e não atacar
A governadora da província de Manica, Francisca Domingos Tomás, lamentou e condenou o ataque, tendo responsabilizado a autoproclamada "Junta Militar" da RENAMO.
"A 'Junta Militar' da RENAMO continua a atacar e matar população indefesa," disse e acrescentou: "depois de tantos apelos feitos pela comunidade e pelo Presidente da República, a 'Junta Militar' não está a acatar as mensagens".
"Queremos que a 'Junta Militar' junte-se a nós, visando desenvolver a província e o país no geral. Mas a ‘Junta Militar' não tem estado a capitalizar esses apelos", afirmou Francisca Domingos Tomás.
"Repudiamos com veemência as ações macabras dos homens armados da RENAMO. Essas ações estão só a retardar cada vez mais o desenvolvimento do país. A 'Junta Militar' da RENAMO deve ir à mesa do diálogo para a solução do seu problema ou do que estão a reivindicar" - concluiu a governadora de Manica.
A Polícia da República de Moçambique (PRM) em Manica, prometeu falar sobre o ataque na próxima semana.
Exposição: "Cabo Delgado é Moçambique, Moçambique é Cabo Delgado"
A Galeria do Núcleo de Arte, em Maputo, inaugurou uma exposição coletiva de artes plásticas inspirada no conflito de Cabo Delgado. Metade do valor das obras será revertido para as vítimas dos ataques na província.
Foto: DW
Artistas plásticos aderiram à iniciativa
Os artistas que participaram nesta exposição procuraram se expressar através de obras de pintura, escultura ou cerâmica. A exposição inaugurada a 20 de novembro foi organizada pela "Nós Arte" e estará aberta ao público em geral até 10 de dezembro de 2020. Metade do valor das obras será revertido para as vítimas do conflito em Cabo Delgado.
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Apoio às vítimas de Cabo Delgado
"O nosso intuito é direcionar o que vamos render de cada obra, 50% vai para as necessidades que há em Cabo Delgado e as necessidades são muitas neste momento. Vamos tentar delinear as prioridades: máscaras, desinfetantes, material de higiene para as senhoras, fraldas para as crianças, capulanas, arroz e feijão", esclarece o artista plástico "Chicken", promotor da iniciativa.
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Sensibilização social
"Chicken", o coordenador do Projeto "Nós Arte", explicou que o propósito desta mostra é converter as estatísticas de mortes e refugiados em estética. A expetativa é atingir o âmago da sensibilidade social para que se questione a violência e se solidarize com os moçambicanos vítimas do terrorismo.
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Artistas de Cabo Delgado
"Quando ligamos os noticiários, vemos o que está a acontecer: é a pandemia [da Covid-19], a guerra, a cólera, a malária... Cabo Delgado está a ser afetado por essas coisas", alertou "Chicken" que, como os outros artistas, é de lá oriundo: "O meu sentimento é de muita tristeza porque infelizmente tenho visto amigos e familiares a viverem momentos dramáticos." Obra na foto de Júlia.
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"Esperança da Província" de João Paulo Qhea
"Eu preferi que cada um de nós representasse como se sente no momento no coração e como está de espírito. Não podemos também estar a representar a guerra enquanto queremos paz. Então, cada artista trouxe aquilo que tem e aquilo que sentiu e se inspirou para fazer a sua obra. Não é linear", explicou "Chicken".
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"Artimisia" de Sandra Pizura
Esta pintura de Sandra Pizura representa um grito de silêncio de qualquer coisa como fúria, vingança, inconsciência moral, guerra. André Macie, João Fornasini e Julia são outros dos artistas que participam na exposição "Cabo Delgado é Moçambique, Moçambique é Cabo Delgado".
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"O Jardim da vida" de Samuel Djive
Samuel Djive pretendeu trazer uma ideia daquilo que é o paraíso: "Se o paraíso é um espaço onde temos o bem estar, temos a paz, o amor, temos um progresso, temos uma construção positiva, então é isso que nós queremos para Moçambique. É o que eu quero para Moçambique, um país onde os meus netos e bisnetos se possam sentir orgulhosos de serem moçambicanos", comentou.
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Uma conclusão
Samuel Djive acrescentou que "a mensagem é tentar fazer com que as pessoas tenham a capacidade de dialogar sempre na busca de soluções. Nós, como artistas, faremos a nossa parte, mas existem entidades que são responsáveis por isso. Talvez possamos criar um movimento em que criemos também uma reflexão por parte das entidades responsáveis pela segurança e governação do país."