Dezenas de civis, incluindo sete pessoas que tentavam fugir de hotel de Palma, foram mortos pelo grupo armado que tem estado a atacar a vila desde a quarta-feira (24.03), disse hoje o Ministério da Defesa moçambicano.
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As Forças de Defesa e Segurança (FDS) estão a desdobrar-se para restabelecer a ordem e a segurança na vila sede do distrito de Palma, província nortenha de Cabo Delgado, disse na noite deste domingo (28.03) o porta-voz do Ministério da Defesa Nacional numa breve conferência de imprensa sem direito a perguntas, em Maputo.
Segundo Omar Saranga, dezenas de pessoas morreram vítimas dos ataques terroristas iniciados na passada quarta-feira (24.03).
"Um grupo de terroristas penetrou, dissimuladamente, na vila sede do distrito de Palma e desencadeou ações que culminaram com o assassinato cobarde de dezenas de pessoas indefesas e danos materiais em algumas infraestruturas do Governo", relatou.
O porta-voz do Ministério da Defesa afirmou que as FDS "continuam a trabalhar para que este desiderato sinistro dos terroristas seja alcançado".
O coronel Omar Saranga disse também que as Forças de Defesa e Segurança reforçaram a sua estratégia operacional para conter as investidas dos terroristas.
"Tendo, nos últimos três dias, executado ações operativas focalizadas, primeiro, no resgate de centenas de cidadãos internacionais e estrangeiros, neste momento, as FDS continuam emprenhadas em clarificar a vila de Palma por forma a garantir o regresso das populações", informou.
O porta-voz do Ministério da Defesa afirmou que as FDS criaram condições para socorrer a população naquela vila.
"As ações das FADS resultaram na evacuação de outras centenas de cidadãos nacionais e estrangeiros, tendo sido evitado também que infraestruturas fossem severamente vandalizadas e pilhadas", disse.
Sabotar a exploração do gás
O analista político do Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD), Dércio Alfazema, não tem dúvidas de que as ações dos terroristas são apenas para sabotagem.
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"Não no sentido de que eles querem e não me perece que eles tenham capacidade para exercer a exploração daqueles recursos. Mas chamo a atenção para eles terem contribuído para a paralisação naquela região", avalia.
Recorde-se que a multinacional francesa Total estava à beira de retomar os seus trabalhos na região, mas já disse que irá recuar.
Aos olhos de Alfazema, "há de haver a necessidade de se reforçar a segurança não somente tendo em conta os projetos da Total, mas sobretudo para a população daquela zona de Cabo Delgado".
Portanto, essa situação de ataques em Cabo Delgado continua a ser um TPC [trabalho para casa] permanente e é preciso que seja definitivamente resolvida para permitir a viabilização dos projetos daquela região que terão grande impacto na arrecadação de receitas", conclui.
Neste domingo, centenas de pessoas desembarcaram no porto capital provincial, Pemba, num barco que transportava trabalhadores da Total, cidadãos moçambicanos e estrangeiros.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.