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Ataques em Palma: Número de desaparecidos é incerto

Reuters | AFP | AP | DPA | Lusa | cvt
28 de março de 2021

Chegada de resgatados a Pemba, este domingo, na sequência de ataques a Palma, no norte de Moçambique, foi marcada por desespero das famílias. Grã-Bretanha também busca informações de seus cidadãos. EUA prometem apoio.

Hafen in Pemba Mosambik
Poto de Pemba (imagem ilustrativa)Foto: DW/E. Silvestre

Centenas de pessoas desembarcaram na cidade portuária de Pemba, capital de Cabo Delgado, este domingo (28.03).

O barco transportavam tanto cidadãos moçambicanos como estrangeiros, incluindo funcionários dos projetos de gás, disseram um trabalhador da ajuda e um diplomata à agência de notícias Reuters.

Todas as pessoas transportadas no navio estavam ainda ao início da tarde a ser transportadas a partir do porto em viaturas, sob escolta policial, para pavilhões nas imediações da capital provincial, para serem registados e acolhidos.

O aeroporto de Pemba serve depois de ponto de saída para todas as pessoas viajarem até ao destino.

Todo o movimento, em todas as zonas por onde circulam as pessoas resgatadas pelo navio decorria sob fortes medidas de segurança e as áreas estavam vedadas aos jornalistas pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS), segundo a Lusa.

Dezenas de desaparecidos

Entretanto, Martin Ewi, um investigador sénior do Instituto de Estudos de Segurança, baseado em Pretória, disse que "mais de 100" pessoas continuam desaparecidas".

"É isso que sabemos até agora, mas é tão confuso".

Também segundo a agência de notícias AP, dos 17 veículos da caravana de resgate que foi atacada após deixar o Hotel Amarula, na sexta-feira (26.03), apenas sete chegaram à praia e não se sabe o que aconteceu às pessoas que estavam nos outros dez veículos.

Várias outras pequenas embarcações cheias de deslocados ainda estavam a caminho de Pemba e espera-se que cheguem durante esta noite ou na manhã de segunda-feira (29.03), de acordo com as agências de ajuda humanitária.

Os funcionários do aeroporto de Pemba disseram à AFP que os voos de ajuda humanitária tinham sido suspensos para libertar espaço para operações militares.

Foto: DW/D. Anacleto

Segundo a agência de notícias AP, este domingo os insurgentes continuavam os combates para controlar completamente Palma.

O Governo ainda não restabeleceu o controlo de Palma, confirmaram o diplomata e a fonte de segurança diretamente envolvidos nas operações de segurança na vila, ouvidos pela Reuters.

Procura desesperada por parentes

"Ajudem-me a encontrar o meu filho", dizia, em lágrimas, José Abebe, que não sabe se o seu filho sobreviveu ao ataque de quarta-feira (24.03) à vila de Palma, e hoje de manhã estava no porto de Pemba na esperança de revê-lo.

Na mão, mantinha uma foto para mostrar a quem passava. 

José estava entre as dezenas de familiares que aguardavam pela chegada do navio Sea Star 1, com que a petrolífera Total retirou 1.300 pessoas (e não 1.800, como inicialmente anunciado) do recinto do projeto de gás na península de Afungi, no sábado (27.03).

Conta que é "deslocado". A família tinha já fugido aos ataques armados de Cabo Delgado, quando os grupos rebeldes atacaram Macomia, em maio de 2020, tomando a sede de distrito por alguns dias.

"Peço a vossa ajuda", repetia, com a foto na mão.

O filho trabalha no restaurante do hotel Amarula, em Palma.

Carlitos Adamo aguardava pelo primo, bancário em Palma, numa das instituições que vários testemunhos dão como destruídas pelos insurgentes.

"Tenho esperança de o ver nesse grupo", referia aos jornalistas que se juntavam à entrada do porto.

Patrício Amade vive em Palma, onde tem toda a família, e estava em Pemba a tratar do funeral de um familiar quando o ataque aconteceu.

"Vim aqui porque quero localizar a minha família. Desde quarta-feira que não tenho contacto", sublinhou, mantendo a esperança.

Os familiares não vieram no navio que chegou a Pemba. 

Reino Unido procura por seus cidadãos

Enquanto os média locais informaram que trabalhadores britânicos também podem ter sido apanhados no ataque, o Escritório de Relações Exteriores e da Commonwealth do Reino Unido disse que a sua embaixada em Maputo estava em "contacto direto com as autoridades em Cabo Delgado para procurar urgentemente mais informações sobre estes relatos".

"O Reino Unido condena de todo o coração a terrível violência em Cabo Delgado. Tem de parar", escreveu no Twitter o ministro para África, James Duddridge.

Os Estados Unidos, cujas tropas estão a ajudar a treinar tropas moçambicanas na luta contra a insurreição, disseram este domingo que "continua a acompanhar a horrível situação em Palma", acrescentando que um cidadão americano que se encontrava em Palma tinha sido evacuado em segurança.

No início deste mês, a embaixada dos EUA anunciou que militares norte-americanos irão passar dois meses a treinar soldados em Moçambique.

Terrorismo no topo da agenda Portugal-Moçambique

04:09

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Cidadão português ferido transferido para Joanesburgo

O português ferido no ataque se sexta-feira foi transferido para Joanesburgo, na África do Sul, para tratamento médico, confirmou hoje à agência Lusa fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

O gabinete de Augusto Santos Silva fez saber ainda que vai continuar "a acompanhar" a situação, sem adiantar para já outros pormenores.

O Presidente de Portugal já tinha aludido à retirada do português para a cidade sul-africana, numa nota a propósito de uma conversa que manteve com a mulher do ferido.

Numa nota divulgada na página da Internet da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa confirmou também a informação, que ele próprio veiculara, de que os ferimentos sofridos pelo português foram "menos graves do que o que se temia inicialmente", acrescenta o texto.

Negócios do gás em causa

O ataque a Palma põe em causa o destino do projeto de gás, um dos maiores investimentos privados de África. A Total pagou quase quatro mil milhões de dólares por uma participação de 26,5% no projeto em 2019, escreve a AP. O projeto sido tinha

planeado para iniciar os carregamentos de gás em 2024, mas a insegurança tornou esse objetivo improvável.

"O último ataque a Palma é um grande revés e levanta sérias questões sobre a sua [do Governo moçambicano] capacidade de garantir a segurança dos projetos de gás natural liquefeito (GNL), vitais para a estabilidade financeira do país a longo prazo ", avaliou Alexander Raymakers, analista sénior de África da Verisk Maplecro, da empresa de consultoria estratégica e de risco global com sede no Reino Unido.

Os insurgentes já detêm a cidade portuária de Mocímboa da Praia, 50 quilómetros a sul de Palma, que capturaram em agosto passado.

A violência em Cabo Delgado está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.

Algumas das incursões foram reivindicadas pelo Estado Islâmico (EI) entre junho de 2019 e novembro de 2020, mas a origem dos ataques continua sob debate.

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