Ataques no norte: CPLP vai enviar delegação a Maputo
Lusa
2 de maio de 2021
Ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde, país que preside à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, disse que a organização decidiu enviar delegação a Moçambique, perante a crise em Cabo Delgado.
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"As autoridades moçambicanas já disseram claramente que agradecem e estão cientes daquilo que podem obter da comunidade internacional, especialmente dos países de língua portuguesa, da nossa comunidade, e chegámos a acordo sobre aquilo que eventualmente poderá ser feito", adiantou o chefe da diplomacia cabo-verdiana que preside ao Conselho de Ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Mas "isto vai exigir uma intervenção nossa, uma visita de uma delegação, ao nível que estamos a definir, para podermos responder às necessidades de Moçambique na matéria", revelou.
Num encontro de embaixadores "houve um "entendimento que, no momento oportuno, seria de termos uma delegação em Moçambique para avaliar aquilo que a CPLP pode fazer", concluiu.
Contudo, ainda não há "data exata", para a visita da delegação àquele país, por ter de ser articulada com as autoridades moçambicanas, que "avaliarão o melhor momento para se fazer", sublinhou Rui Figueiredo Soares.
Segundo o ministro, de acordo com a proposta feita na reunião de embaixadores, a visita da delegação deveria ocorrer até junho. "Mas estamos agora a avaliar com as autoridades moçambicanas da oportunidade e da melhor data", frisou.
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Indefinições
Por outro lado, a CPLP ainda está a definir que tipo de delegação enviará, se ao nível de ministros, de embaixadores, ou elementos do Secretariado Executivo, referiu.
Uma indefinição que está ligada também ao facto de Cabo Verde, o país que tem a presidência em exercício da organização e do Conselho de Ministro da CPLP ter tido eleições muito recentemente, a 18 de abril, e o novo Governo ainda não ter tomado posse, admitiu.
Mesmo assim, o chefe da diplomacia cabo-verdiana disse que a visita da delegação ocorrerá "certamente" ainda durante a presidência cabo-verdiana da CPLP, que termina em julho deste ano.
Pedro Figueiredo Soares sublinhou, porém, que a questão de Cabo Delgado, "tem a ver essencialmente e, em primeiro lugar, com Moçambique. Então é preciso que neste processo qualquer apoio, qualquer gesto, tenha de ser concertado com as autoridades moçambicanas".
"Todos nós, países amigos, especialmente os da comunidade, estaremos disponíveis para responder às necessidades do Governo moçambicano nesta matéria", frisou Rui Figueiredo. Mas a situação de Cabo Delgado é "delicada".
Situação em Cabo Delgado
Grupos armados aterrorizam a região de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED e 714.000 deslocados, de acordo com o Governo moçambicano.
Em março, ataque à vila de Palma provocou dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.
As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás natural, que tinha início de produção previsto para 2024, no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.
Integram a CPLP Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.