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Religião

Ativista exige responsabilização da IURD pelas mortes

Renate Krieger
9 de janeiro de 2013

A presidência angolana criou uma Comissão de Inquérito para apurar as causas da tragédia de 31 de dezembro no Estádio Nacional da Cidadela Desportiva em Luanda. Mas no país alguns depositam pouca confiança na Comissão.

Luanda, capital angolana
Luanda, capital angolanaFoto: DW/R. Krieger

Em causa está a cerimónia do "Dia do Fim", promovida pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), organização religiosa fundada no Brasil. Na véspera do Ano Novo, estima-se que 250 mil pessoas se reuniram no estádio, que no entanto tem capacidade para apenas 70 mil.

O culto da IURD terminou com aproximadamente 16 mortes e 120 feridos, segundo várias fontes. As vítimas fatais, entre as quais haveria três crianças, teriam morrido pisoteadas e asfixiadas pela multidão na entrada do estádio, que estava apenas com dois dos quatro portões abertos, de acordo com informações de agências de notícias.

A DW África conversou com o advogado David Mendes, que também é ativista cívico, sobre o caso:

Na imagem o lugar de culto da IURD em Tete, Moçambique. A igreja está bem presente nos PALOPFoto: DW/J.Beck

DW África: Concorda com as críticas da oposição angolana, que dizem que algumas das autoridades da Comissão de Inquérito são as mesmas que seriam responsáveis pela segurança do estádio?

David Mendes (DM): Não estou muito preocupado com a Comissão criada pelo Presidente da República, o que me preocupa é a responsabilização da igreja, ela tem de ser responsabilizada sob o ponto de vista civil pelas mortes. Está claro que houve negligência, a igreja devia ter previsto que isso ía acontecer, ela fez uma publicidade muito agressiva e deveria ter em mente que haveria de aparecer um número acima do que previam. E também houve meios que puseram à disposição, como autocarros, por exemplo, em todas as artérias da cidade de Luanda, incluindo algumas províncias. Por isso a igreja deveria ter criado condições, não só de acesso, mas também de segurança, como o corpo de bombeiros e a Cruz Vermelha, para que em caso de alguma fatalidade socorrerem as pessoas.

DW África: Acha que a IURD sairá fortalecida ou enfraquecida deste episódio?

DM: Na nossa análise a igreja foi irresponsável, na ânsia de ter dinheiro cria expetativas irrealizáveis. E para ter uma noção, muita gente que lá esteve, incluindo as pessoas que morreram não eram da IURD, eram de outras confissões. Mas pela propaganda enganosa as pessoas foram com o intuito de encontrarem uma solução para os seus problemas. Comercializam Deus, Deus passou a ser uma mercadoria.

DW África: Acha que a IURD está a ganhar mais influência em Angola?

DM: Todas as igrejas que prometem milagres aos pobres, as igrejas mercantilistas, cujo fim é ter dinheiro, onde as sociedades são pobres e o Estado não vela por elas, todos os que prometem o céu e a terra, as pessoas aderem. É o caso da Igreja Universal e da Mundial, que tem cobertura da imprensa, tem uma imprensa, rádio, conseguem ter muita influência social.

Em tempos a IURD ocupou as salas de cinema em Moçambique. Mas agora constrói templos enormesFoto: DW/J.Beck

DW África: Como o senhor vê a relação da IURD com o Governo angolano?

DM: É uma promiscuidade que existe entre o Governo e as Igrejas.

DW África: Pode explicar um pouco melhor?

DM: Todos sabemos quem são as pessoas que frequentam a IURD, e quais as pessoas ao nível de topo que estão lá, e todos sabemos que o Governo põe à disposição das igrejas e confissões religiosas meios e dinheiro.

DW África: E porque será que o Governo disponibiliza meios e dinheiro as igrejas?

DM: Para manipular a opinião pública eles precisam do voto das pessoas, e essas igrejas fazem o papel de ativistas políticos.

DW África: Foi o caso das eleições de 2012?

DM: Aquilo foi a pior vergonha que já passamos.

DW África: Porque?

DM: Houve promiscuidade entre o Estado e a igreja, as igrejas se converteram em templos para rezar pelos que estão no poder, para rezar para que a ditadura continue em Angola.

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