Ativistas angolanos em liberdade: “Ler não é crime”
30 de junho de 2016 Desde as 17 horas desta quarta-feira (29.06) que 16 dos 17 ativistas presos no passado dia 28 de março se encontram em liberdade. À porta do Hospital Prisão de São Paulo, em Luanda, a euforia de familiares e amigos dos ativistas libertados era evidente.
Apenas Nito Alves continuará na prisão, pelo menos até dia 8 de agosto, pela condenação sumária de uma acusação de desrespeito ao tribunal.
Nuno Dala, que esteve recentemente 36 dias em greve de fome, pretende agora dar mais atenção à sua família, mas que irá continuar a lutar por um país melhor para os angolanos, com “os valores pelos quais temos vindo a debater desde 2011, assim como continuarmos nesta estrada, com novas responsabilidade, com o compromisso de sempre darmos o nosso contributo no sentido de construirmos um país diferente deste, um país para todos”, afirmou o ativista à saída da prisão.
O professor e advogado garante ainda que os ativistas querem um país onde “cada um tenha lugar, porque Angola é demasiado grande e nós somos poucos, não precisamos de estar permanentemente em conflito. Há espaço suficiente, há riqueza suficiente e, mais do que isso, há um projeto que precisamos de construir e que tem de ter a participação de todos”.
Libertação recebida com surpresa
No dia 20 de junho assinalou-se um ano depois detenção dos jovens ativistas, na Livraria Kiazaele, na Vila Alice, em Luanda. Reuniram-se ali para discutir as ideias do livro do professor universitário Domingos da Cruz “Ferramentas para destruir o ditador e evitar nova ditadura, filosofia da libertação de Angola”.
Acusados de crimes de atos preparatórios de rebelião e associação de malfeitores, os 17 ativistas passaram por um dos mais longos processos da história judicial angolana. Nito Alves acabou por se referir ao julgamento como uma “palhaçada”, acabando por ser condenado por desrespeito ao tribunal.
Aquando da libertação dos ativistas, imprensa, equipa de defesa e as suas famílias esperavam por eles à porta do Hospital Prisão de São Paulo. A decisão do Supremo Tribunal foi recebida com surpresa – nas últimas semanas, os familiares dos jovens foram tentar saber o porquê da demora na resposta ao pedido de "habeas corpus".
“#Angola: O momento em que os membros do clube de leitores foram libertados da prisão. Família e amigos gritam “liberdade, liberdade”, pode ler-se no tweet
“É um sentimento de alegria, apesar de este regime que temos nos tratar como se fôssemos estrangeiros no nosso próprio país”, diz Gertrudes Dala, irmã de Nuno Dala.
Apesar de se encontrarem em liberdade, estão “em liberdade provisória. Estão proibidos de sair do país e são obrigados a apresentarem-se no tribunal da causa uma vez por mês”, explica Luís Nascimento, um dos advogados da equipa de defesa, que considera a decisão justa, mas que peca por tardia.
Marcha pela liberdade de expressão
O grupo dos ativistas, ao lado dos seus familiares e de outros companheiros de luta, marcharam cerca de dois quilómetros, entre o Hospital Prisão de São Paulo e a União dos Escritores Angolanos. “Ler não é crime” era a palavra de ordem.José Gomes Hata, um dos membros dos 15+2, afirmou que a escolha do local foi motivada por terem sido presos por estarem a ler um livro e quererem mostrar que a leitura não é um crime. “É o símbolo de que ler não é crime. Aqui é a União dos Escritores Angolanos e nós fomos acusados por lermos um livro”, afirma.
“Ler não é um crime – a não ser que seja um ativista de um clube de leitores em #Angola”, escreve-se nas redes sociais
No local, os ativistas receberam abraços de vários cidadãos, que quiseram tirar fotos com eles. Nas redes sociais, a alegria pela libertação dos 17 ativistas é evidente. Tópicos como Angola e Democracia invadiram as publicações dos utilizadores do Twitter e do Facebook, com imagens dos ativistas à saída da prisão e partilha de notícias sobre o regresso à liberdade.