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SociedadeCamarões

Ativistas camaronesas recebem Prémio Alemão para África 2023

Silja Fröhlich | Eyong Blaise
30 de novembro de 2023

O Prémio Alemão para África é este ano atribuído a ativistas da Primeira Convenção Nacional das Mulheres para a Paz nos Camarões. Marthe Wandou, Esther Omam e Sally Mboumien lutam há anos pelo fim da crise no país.

Da esquerda para a direita: Martha Wandou, Esther Omam e Sally Mboumien receberam o Prémio Alemão para África 2023 em Berlim (30.11.2023)
Da esquerda para a direita: Martha Wandou, Esther Omam e Sally Mboumien receberam o prémio em BerlimFoto: Isaac Mugabi/DW

Na aldeia de Makolo, no extremo norte dos Camarões, os alunos entram nas salas de aula. A advogada e ativista dos direitos das mulheres Marthe Wandou veio falar com eles.

"O meu sonho é que todas as raparigas e rapazes tenham a oportunidade de ir à escola até ao nível escolar que quiserem", disse.

Marthe Wandou, advogada e ativista dos direitos das mulheresFoto: Elisabeth Asen/DW

Wandou é membro da Primeira Convenção Nacional das Mulheres para a Paz nos Camarões, galardoada com o Prémio Alemão de África 2023. O grupo de 77 organizações luta pela mudança e pelo fim da crise nos Camarões.

Wandou e as suas colegas ativistas apelam a um cessar-fogo imediato nos Camarões, onde grupos separatistas lutam pela independência dos territórios anglófonos desde 2017.

O conflito já causou mais de 6 mil mortos e mais de 712 mil deslocados.

Lutar contra os preconceitos

Wandou está particularmente preocupada com as raparigas em idade escolar nos Camarões. Em Makolo, nem todos os pais permitem que as suas filhas frequentem a escola.

O casamento infantil é um problema grave. De acordo com a UNICEF, mais de 30% das raparigas nos Camarões casam antes de completarem 18 anos.

Wandou tenta persuadir as raparigas e as jovens a voltarem à escola ou a aprenderem uma profissão. Mas, primeiro, tem de convencer os pais.

"Por razões culturais, as pessoas dizem que uma rapariga que vai à escola não pode ser uma boa esposa", diz Wandou.

A ativista camaronesa lamenta que alguns preconceitos continuam a vigorar na sociedade.

"Ela não vai encontrar ninguém para casar com ela, só vai ficar grávida. Sinto-me mal, porque estes preconceitos ainda existem 40 anos depois. É terrível e é por isso que estamos a sensibilizar as famílias".

Uma em cada três raparigas nos Camarões é casada e deixou de ir à escolaFoto: picture-alliance/AP Photo/J. Delay

Apoio às mulheres visadas pelos militares

Nos Camarões, as raparigas e as mulheres são frequentemente atacadas, raptadas, escravizadas ou deslocadas pelos terroristas do Boko Haram.

Em 2016, Aisha e a sua família foram raptadas pelo Boko Haram e ela foi forçada a casar com um dos seus combatentes.

"As mulheres são espancadas sem motivo e constantemente violadas", disse Aisha, que tem agora 21 anos.

"Algumas casam para ter um mínimo de proteção, caso contrário não há nada que se assemelhe a um casamento no verdadeiro sentido da palavra. Todos os combatentes do Boko Haram têm o direito de ter relações sexuais com qualquer mulher do campo. As mulheres são violadas até ao ponto de não conseguirem andar. Se o marido morrer e elas não estiverem dispostas a casar com outro homem no prazo de 24 horas, são imediatamente decapitadas", comentou.

Aisha conseguiu fugir do campo do Boko Haram com o seu bebé. Marthe Wandou providenciou apoio psicossocial e financeiro para a jovem mãe, que agora gere o seu próprio negócio.

"É importante deixarmos as experiências difíceis para trás e ganharmos esperança e coragem para voltarmos a controlar as nossas vidas", afirmou.

Estudantes no norte dos Camarões temem ataques do Boko HaramFoto: KAZE/AFP/Getty Images

Prestação de cuidados médicos de emergência

Na aldeia pescatória de Debundscha, no sudoeste dos Camarões, Esther Omam criou uma clínica. A ONG "Reach Out Camarões oferece aconselhamento e medicação gratuita a milhares de pacientes por semana. Faz parte da Primeira Convenção Nacional de Mulheres para a Paz nos Camarões.

Os centros de saúde de Debundscha foram destruídos durante os combates entre os separatistas e o exército.

"O fornecimento de medicamentos para as pessoas que vivem com o VIH e a SIDA foi completamente destruído. "As pessoas não podem visitar facilmente um centro de saúde sem medo de serem visadas", afirmou.

Esther Omam, da ONG "Reach Out Camarões"Foto: Elisabeth Asen/DW

A "Reach Out Camarões" foi uma das primeiras organizações a oferecer ajuda às vítimas das inundações de março de 2023. O envolvimento de Omam na ajuda humanitária estende-se há mais de 20 anos.

"As mulheres falam-me da necessidade de acesso à água e a uma educação segura. Eu sofri das mesmas coisas. É por isso que é gratificante para mim saber que estamos a tocar e a mudar vidas", disse.

Omam está empenhada em ajudar as mulheres a criar pequenas empresas e diz que quer quebrar os ciclos de pobreza e opressão.

Promoção dos direitos à saúde reprodutiva

Na cidade de Bamenda, no noroeste dos Camarões, os serviços de Sally Mboumien e da sua equipa de mulheres são muito procurados.

Sally Mboumien, ativista dos direitos de saúde reprodutivaFoto: Elisabeth Asen/DW

A "Common Action for Gender Development" (Ação Comum para o Desenvolvimento do Género) oferece aconselhamento sobre saúde reprodutiva e ajuda sobreviventes de violência sexual. Faz parte da Primeira Convenção Nacional das Mulheres para a Paz nos Camarões.

Mboumien dá regularmente palestras a raparigas na região onde ela própria cresceu e compreende os desafios.

"Elas nem sequer têm um serviço de saúde para as ajudar. As mulheres sentem que estão a ser enganadas economicamente, que estão a ser enganadas no seu bem-estar, que não têm autonomia e que não têm qualquer papel de liderança. São vítimas de muitas formas de abuso e violência", afirmou.

Inspirar as mulheres mais jovens

Desde 2015, Mboumien tem trabalhado para formar mulheres jovens para se tornarem activas nas suas comunidades.

Dorin Kkwai, uma jovem ativista de Bamenda, diz que hoje em dia, "quase não se encontram raparigas em posições de liderança".

"Mesmo que alguém se candidate, eles dizem simplesmente: 'Não, não podemos contratar uma rapariga'. E porquê? Porque ela tem de entrar em licença de maternidade em breve, porque vai casar. É preciso garantir uma representação equilibrada: 50% de homens e 50% de mulheres", comentou.

Mboumien inspira-se nas jovens como Nkwai, que a admiram, e acredita que o facto de haver mulheres em cargos de liderança pode ajudar a trazer a paz aos Camarões.

Charlotte Maxeke e os direitos das mulheres na África do Sul

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