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Ativistas prevêem abstenção alta nas eleições angolanas

18 de agosto de 2017

Lisboa recebeu uma conferência sobre as eleições em Angola. Ativista Sedrick de Carvalho afirma que há uma "descrença total" nas eleições no país. Advogado Arão Bula Tempo alerta para clima de tensão em Cabinda.

Sedrick de Carvalho: "Há, cada vez mais, uma descrença total"Foto: DW/P. Ndomba

Sedrick de Carvalho, pertencente ao grupo dos chamados "15+2" ativistas angolanos, está reticente em relação às eleições gerais da próxima semana em Angola. Na sua perspetiva, os indicadores apontam para uma fraca participação dos eleitores.

"Há, cada vez mais, uma descrença total sobre os pleitos que se têm realizado em Angola. E esta abstenção tem números. Primeiramente vem o facto de que, em 2012, houve mais pessoas registadas e este ano há menos. Isto já é curioso. É estranho que haja essa diminuição quando o normal é que o número de pessoas com idade eleitoral aumente", afirma.

Conferência em Lisboa para "Pensar Angola em Tempo de Eleições"Foto: DW/J. Carlos

O jornalista e ativista aponta, por outro lado, para as notícias sobre eleitores que foram colocados em listas de assembleias de voto a muitos quilómetros de distância das suas residências, inclusive em províncias diferentes.

"Estes são elementos que apontam para o aumento da abstenção", conclui.

Sedrick de Carvalho considera ainda que em todo o processo eleitoral há um denominador comum: a falta de credibilidade, por ser fraudulento desde o seu início.

Presença de militares em Cabinda

O advogado e ativista de Cabinda Arão Bula Tempo considera, por seu lado, que a população do enclave não está preparada para votar, descrevendo um ambiente de intimidação neste território a norte de Angola.

​​​​​​​Arão Bula Tempo: "A repressão continua"Foto: DW/J. Carlos

"A repressão continua e não há a liberdade de as pessoas poderem votar. Há muita presença de militares e outras corporações na cidade, até no interior", afirma. "Visivelmente, o povo está coagido e apertado, de tal maneira que não podemos contar com a participação massiva da população de Cabinda."

Ainda em relação às eleições de 23 de agosto, Bula Tempo antevê que alguns eleitores votarão em partidos da oposição como a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) ou a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE) para que o partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), possa "perder o mercado" em Cabinda.

"O povo entende que, se o MPLA perder o monopólio no território de Cabinda, poderá reduzir um pouco aquela pressão e poderá haver a boa vontade de negociar um estatuto condigno para o enclave", diz.

O ativista, acusado de rebelião e sedição e entretanto ilibado há um ano, quer acreditar que o futuro político do enclave terá novos desenvolvimentos, dependendo dos resultados eleitorais. Se o MPLA vencer, admite, o futuro do território poderá conhecer contornos políticos mais difíceis, aumentando o sofrimento dos cabindas.

Ativistas prevêem abstenção alta nas eleições angolanas

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Manipulação?

Estes dois ativistas participaram, esta sexta-feira (18.08), numa conferência na capital portuguesa, convocada por elementos da sociedade civil angolana, com o objetivo de "Pensar Angola em Tempo de Eleições (passado, presente e futuro), na Dimensão Social, Política, Económica e Cultural". O debate foi lançado pela Plataforma de Reflexão encabeçada pelo sociólogo angolano, Manuel dos Santos.

Numa chamada de vídeo, via Skype, o académico angolano Domingos da Cruz debruçou-se sobre os efeitos perversos desejados com as supostas sondagens encomendas pelo partido no poder.

"A grande verdade é que - e existem muitas publicações sobre este assunto - o regime angolano, há muito tempo, disponibiliza rios de dinheiro para influenciar a agenda de órgãos de comunicação de grande influência no exterior. E diante de um regime que está a apagar, é normal que informações como uma sondagem que coloca o MPLA numa posição favorável fosse divulgada", disse o jovem, que também fez parte dos "15+2", detidos e condenados pela Justiça angolana.

Essa seria igualmente uma forma de influenciar o sentido do voto ou dos resultados, referiu Domingos da Cruz, que receia os indícios de manipulação dos resultados das eleições gerais de quarta-feira a favor do partido no poder. O ativista sublinhou que todos os regimes autoritários têm uma grande experiência e apetência pela manipulação eleitoral, e Angola não seria excepção.

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