Atrito entre exércitos dificulta busca de líder rebelde Joseph Kony
25 de setembro de 2012 Ele é, provavelmente, o criminoso de guerra mais procurado em África: Joseph Kony, o líder da organização rebelde LRA, Lord's Resistance Army, em português Exército de Resistência do Senhor. Há anos que Kony se esconde algures entre o Sudão, a República Democrática do Congo e a República Central Africana. A Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta segunda-feira (23.09), irá debater os motivos pelos quais Kony ainda não foi detido embora sobre ele penda desde 2005 um mandado do TPI, o Tribunal Penal Internacional .
Em março deste ano, um vídeo deu a volta ao mundo: o vídeo da controversa da organização não governamental norte-americana Invisible Children (Crianças Invisíveis).
Nele, os ativistas denunciam as atrocidades de Joseph Kony, incluindo assassinatos, violações, recrutamento de crianças-soldado. "Apanhe Kony", era a mensagem do filme. Quase cem milhões de usuários viram o vídeo desde a sua colocação no site de compartilhamento de vídeos YouTube.
Encontrar Kony é agora a missão de uma força sob o comando da União Africana (UA), que conta com o apoio de tropas especiais norte-americanas. Os soldados são oriundos dos países que mais sofreram com o conflito com o LRA: Uganda e República Democrática do Congo (RDC), bem como o Sudão do Sul e República Central Africana. No total, esta força deverá contar com cinco mil soldados, mas até agora apenas metade está ativa.
"Vamos conseguir apanhá-lo"
"Nós vamos conseguir apanhá-lo, mas isso leva tempo, porque a área é muito grande é por isso que precisamos do equipamento necessário: aviões de vigilância, combustível, comida, também precisamos de apoio tecnológico", explica Felix Kulayigye, porta-voz do Exército do Uganda.
Estima-se que o LRA tenha apenas algumas centenas de combatentes. Mas a área onde se movimenta é do tamanho da França, tornado a busca muito difícil. No início de setembro, os rebeldes sequestram 55 pessoas na província da República Central Africana de Bangassou, uma das poucas pistas para os militares.
Mas, observadores receiam que Kony e o LRA estejam a caminho de Darfur, no Sudão. Lá ele pode contar com a proteção do governo sudanês. E também na RDC os militares têm as mãos atadas porque o Estado vizinho do Uganda não tolera tropas estrangeiras no seu solo. E a unidade congolesa que deveria combater o LRA no nordeste do país foi recentemente colocada no Kivu, no leste da RDC, para combater o novo movimento rebelde "M23".
Os rebeldes do LRA conhecem bem o terreno. Há mais de 25 anos que estão ativos na região. A sua criação foi o resultado de lutas internas pelo poder no Uganda. Em 1986, o atual presidente, Yoweri Museveni, lutou violentamente até chegar ao poder. Museveni, que é do sudoeste do Uganda, encenou sua luta como uma libertação da "ditadura" do norte. De lá era oriundo não apenas seu antecessor, Milton Obote, mas o exército era constituído quase exclusivamente por ugandeses do norte. Museveni e os seus soldados foram particularmente violentos mais contra os ugandeses do norte.
Foi na região norte que Joseph Kony fundou em 1986 o seu movimento de rebelde LRA, alegadamente porque o "Espírito Santo" lho ordenou. Os rebeldes foram apoiados durante anos pelo Sudão. O governo de Cartum usou o LRA como aliado na luta contra os inimigos internos.
Sem sucesso
Até agora a operação militar não tem tido sucesso. E as negociações com o LRA não são uma opção também por culpa do Exército ugandês, segundo explica Mareike Schomerus, da London School of Economics: "O Exército de Uganda tem sido claramente um dos atores do conflito. Durante anos, os militares ugandeses simplesmente agiram como o LRA, contra civis, usando o conflito como uma desculpa para enriquecer e para militarizar a região lentamente", afirma.
Enviar mais tropas para a RDC é, na perspectiva desta analista, o caminho errado para ultrapassar a crise. O Uganda e os países vizinhos deveriam, segundo Schomerus, antes de mais refletir sobre as causas subjacentes do conflito.
Sobretudo no norte do Uganda, a população tem sofrido com os confrontos entre o Exército e o LRA. Muitas pessoas aqui querem uma solução pacífica para o conflito. Lioba Lenhart, do Instituto de Estudos para a Paz e Estratégicos (IPSS), em Gulu, no norte do Uganda, diz: "Para as pessoas que ainda esperam pelo regresso de familiares raptados pelo LRA, a reconciliação é ainda um grande tema. São os filhos deles que estão em causa. Eles querem voltar a vê-los. Portanto, uma opção pacífica é o que a maioria aqui deseja", avalia.
Para conseguir isso, Uganda tem de incentivar os rebeldes a entregarem-se voluntariamente. Muitas pessoas no norte do país são a favor de uma amnistia para os rebeldes. Chegou mesmo a ser aprovada uma lei que a previa, mas que o governo suspendeu em maio deste ano.
Autor: Philipp Sandner/Helena Ferro de Gouveia
Edição: Renate Krieger/António Rocha