As aulas no ensino primário e secundário arrancaram esta semana em Moçambique. Mas na cidade de Nampula, no norte do país, muitas crianças têm faltado à escola por falta de material escolar.
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O ano escolar arrancou esta semana em todo o país, mas não para todas as crianças. Muitas não têm material escolar. Há cadernos e pastas escolares que custam agora o dobro do que há poucos meses atrás.
"Eu não vou à escola porque o papá não me comprou caderno, esferográfica, lápis de cor", diz Mohamed Carlos, de 12 anos.
Sónia Adelino tem três crianças a seu cargo: uma filha e duas sobrinhas. Mas só uma foi à escola esta semana já com todo o material necessário.
"Provavelmente, esta semana é só para apresentação dos alunos aos professores e as aulas não estão muito fortes", justifica.
Subida dos preços
Entretanto, a encarregada de educação já conseguiu dinheiro para comprar material escolar para que as restantes crianças possam ir à escola na próxima semana. Sónia Adelino está preocupada com a subida dos preços dos materiais escolares, particularmente este ano.
"Neste momento, há muitas bichas [nas livrarias] e não está fácil comprar; os preços também [estão altos]", diz. "Meia dúzia de cadernos está a 150 meticais [cerca de 2 euros], mas antes custava 120 meticais. Agora está complicado."
Os preços do material escolar costumam aumentar todos os anos na altura do regresso às aulas – mas este ano, face à situação económica no país, Sónia Adelino faz um apelo aos vendedores: "Eles poderiam vender normalmente e não aproveitar este momento em que as pessoas estão aflitas. Podiam reduzir os preços."
Aulas não começaram para todos em Moçambique
Mas os vendedores lembram que também estão a sofrer com a crise. Amisse Issufo vende sobretudo pastas escolares, importadas, e supõe que esta subida de preços resulte da depreciação da moeda nacional, o metical, face ao dólar.
"Este ano os preços das pastas estão muito elevados", explica Issufo. "No ano passado comprávamos [uma pasta] a 250 ou 480 meticais e este ano comprámos a 750 meticais. A situação está mal."
Neste ano letivo, a província moçambicana de Nampula terá mais de dois milhões de alunos, que deverão ser assistidos por mais de 26 mil professores.
A dor dos talibés
Entregues pelos pais para serem educados por líderes religiosos, os meninos são agredidos por professores e obrigados a mendigar nas ruas. Escolas corânicas no Senegal são ambiente de sofrimento e exploração infantil.
Foto: DW/K. Gomes
Infância perdida
Nas paredes desta escola corânica, no Senegal, rabiscos contornam figuras de bonecos e estrelas. Aqui, as fantasias de criança convivem com uma realidade amarga. Meninos conhecidos como talibés são separados da família para aprender o Corão.
Foto: DW/K. Gomes
Sem portas nem janelas
Afastada do centro da cidade de Rufisque, no oeste do Senegal, fica esta estrutura abandonada, sem portas nem janelas. Esta madrassa, como é chamada a escola corânica, abriga cerca de 20 crianças entre três e 15 anos de idade. A falta de infraestrutura torna a rotina dos talibés ainda mais penosa.
Foto: Karina Gomes
Desprotegidos
Este é um dos quartos onde os talibés dormem. Não há camas, nem cobertores. E também faltam travesseiros. Os meninos deitam-se sobre sacos plásticos, no chão de areia. Nos dias frios, a maioria fica doente e não recebe tratamento médico adequado.
Foto: Karina Gomes
Aulas sobre o Corão
As crianças são entregues pelos pais aos marabus – poderosos líderes religiosos do país – para terem aulas sobre o Corão. Os professores têm uma reputação social elevada e é a eles que muitas famílias pobres do Senegal e da vizinha Guiné-Bissau confiam a educação dos filhos.
Foto: DW/K. Gomes
Entre livros
Tábuas com palavras em árabe e exemplares do livro sagrado estão espalhados pela madrassa. Os talibés acordam diariamente por volta das cinco da manhã para aprender o Corão. Em coro, recitam repetidamente trechos do livro sagrado.
Foto: DW/K. Gomes
Mendigos
Depois das orações, os meninos são obrigados a pedir dinheiro nas ruas e a conseguir algo para comer. Cada professor estipula uma quantia diária. Se os meninos não conseguem cumprir, são espancados. "Tínhamos de levar dinheiro para sustentar o marabu e a sua família, porque ele vivia disso. Eu sofri muito. Uma vez fui espancado porque cheguei atrasado", conta o ex-talibé Soibou Sall.
Foto: DW/K. Gomes
Amigos de rua
Os talibés vestem-se com roupas velhas e rasgadas e a maioria anda descalça. Chegam a mendigar sete horas por dia pelas ruas de Rufisque. Eles também pedem esmolas perto da estrada que liga a cidade à capital, Dakar. Curiosos, estes dois amigos aproximam-se e pedem para ser fotografados. E sorriem, apesar da rotina dolorosa.
Foto: DW/K. Gomes
Hora da refeição
Sentados no chão de areia, os talibés juntam-se para comer o que conseguiram nas ruas. Hoje têm arroz, vegetais e alguns pedaços de frango para dividir. Há restos de comida espalhados pelo plástico preto. "Gosto de viver aqui. Eu tenho paz", diz Aliou, de 8 anos.
Foto: DW/K. Gomes
Condições degradantes
Nesse espaço comum fica uma espécie de casa-de-banho e há muito lixo no chão. Os meninos andam descalços sobre objetos cortantes. Há chinelos e roupas velhas por toda a parte. Os meninos são constantemente vigiados por adolescentes que foram talibés na infância e auxiliam os professores. Agressões são constantes.
Foto: DW/K. Gomes
Exploração
As escolas alcorânicas surgiram nas zonas rurais do Senegal. Os meninos trabalhavam na lavoura e tinham aulas sobre o Alcorão. Com as constantes secas, os marabus foram forçados a aproximar-se das grandes cidades, como Dakar. Com dificuldades financeiras para sustentar todas as crianças, o incentivo à mendicância infantil tornou-se uma atividade rentável.
Foto: DW/K. Gomes
Sem os pais
Por chegarem muito pequenos às daaras, muitos meninos desconhecem o motivo de terem saído da casa dos pais. Bala, de 11 anos, não vê a mãe há sete anos. "A minha mãe está viva e tenho saudades dela. Estou aqui em Rufisque desde muito pequenino. Depois da escola, eu vou pedir dinheiro", diz. "Preferia viver com os meus pais."