O continente africano regista o nível de endividamento mais alto desde 2001. No Gana, a dependência externa é de quase 70% do PIB. E as soluções para a crise não são fáceis de encontrar.
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O Gana é país que a princípio até goza de uma boa imagem no estrangeiro. Há alternância política, a democracia funciona minimamente e o Governo prioriza a independência da ajuda externa. Entretanto, a dependência do Gana do estrangeiro tem aumentado devido ao enorme endividamento externo, que é de quase 70% do produto interno bruto do país - muito acima dos 40% que o Fundo Monetário Internacional (FMI) considera aceitável.
Mas o Gana não é o único país nesta situação, afirma o diretor executivo do Banco Mundial, o alemão Jürgen Zattler, em entrevista à DW. "As coisas não estão a correr bem. O problema do endividamento voltou a agudizar-se nos últimos anos, depois de alguma evolução positiva, registada nos anos anteriores. 18 países africanos de baixos recursos voltaram a mergulhar em verdadeiras crises de endividamento ou estão muito perto dessa situação", diz.
"Situação difícil"
De facto, segundo a organização britânica de luta contra os efeitos da dívida nos países em desenvolvimento, Jubilee Debt Campaign, a situação é difícil. O endividamento poderá ameaçar sobretudo os mais necessitados no continente africano.
O analista da rede africana para a pesquisa da dívida, AFRODAD, Tirivangani Mutazu, diz que a principal razão que levou ao aumento do endividamento no continente africano foi "a queda dos preços das matérias primas nos mercados internacionais, ou mesmo as extremas flutuações dos preços. Isto terá afetado um grande número das economias africanas, contribuindo para o aumento do défice orçamental".
Outro motivo é o enorme aumento do investimento público na maior parte dos países africanos. Os Governos apostam na construção de estradas, linhas férreas ou portos. Mas essas infraestruturas, muitas delas necessárias, custam bastante dinheiro. O instituto sul-africano para as relações internacionais estima que em África cerca de 93 mil milhões de dólares são gastos anualmente em projetos públicos de construção.
Aumenta endividamento de países em África
China, novo "player"
Neste contexto, surge um novo "player" nos mercados de capitais com alguma disponibilidade de emprestar dinheiro aos países africanos, afirma o diretor executivo do Banco Mundial."Alguns países conseguiram ter acesso aos mercados de capitais depois de se terem desenvolvido positivamente. E isso contribuiu para que esses países tenham contraído dívidas a taxas de juros relativamente altas, sobretudo na China".
A facilidade de alguns Governos africanos em pedir dinheiro emprestado à China tem estimulado a tendência para o sobreendividamento. Mas isso pode constituir um risco para as economias, e sobretudo para as pessoas, no continente africano.
Dinheiro à custa de Deus
Com o mercado da fé a crescer, o Gana vê o surgimento de um novo grupo de líderes poderosos: os auto-denominados "profetas". Com promessas de riqueza e boa saúde aos fiéis, estão a encher os cofres com riquezas.
Foto: Tomaso Clavarino
Pregadores celebridades
Daniel Obinim tinha 40 anos quando criou um império com a Igreja Internacional Caminho de Deus. Numa entrevista recente, ele disse que Jesus deu-lhe 20 residências e 16 carros de luxo. Obinim construiu três das maiores igrejas do Gana. O pregador foi preso por agredir um jornalista e dois jovens que foram pegos a namorar na frente da uma das igrejas.
Foto: Tomaso Clavarino
Crescente número de fiéis
Em África, as igrejas evangélica, pentecostal e carismática estão a atrair muitos seguidores. De acordo com o instituto de pesquisa norte-americano Pew Research Center, havia mais de 3 milhões de evangélicos no Gana no ano 2000, e mais de cinco milhões em 2015. Pentecostais e carismáticos somavam 6,5 milhões em 2000 e cerca de 10 milhões em 2015.
Foto: Tomaso Clavarino
Visibilidade: a alma do negócio
As ruas do Gana estão repletas de cartazes e anúncios de igrejas. Muitas delas são atualmente administradas por apenas um profeta ou um pastor.
Foto: Tomaso Clavarino
A palavra transmitida em direto
Os líderes de igrejas no Gana são poderosos. Seus sermões viajam longe e não se limitam aos cultos de domingo e do meio da semana. Há canais de TV e na internet que alcançam um grande público, muito além das suas próprias congregações. Esta foto foi tirada nos bastidores de um show em direto na TV OB, do pastor Daniel Obinim.
Foto: Tomaso Clavarino
Sistema de som obrigatório
Cada igreja, da maior a menor, tem um enorme sistema de som. A música é tocada em volume alto e faz parte de todos os cultos, seja no domingo, seja durante as celebrações noturnas no meio da semana. O barulho pode ser insuportável para quem não está acostumado e para quem mora ou trabalha por perto.
Foto: Tomaso Clavarino
Um lugar para os jovens
A juventude é uma parte importante da igreja. As igrejas evangélicas, pentecostais ou carismáticas têm semelhanças: uma leitura literal da Bíblia, a ênfase na riqueza e no bem-estar, um forte compromisso de espalhar o Evangelho, a fé num poder divino para curar doenças e ferimentos, e uma crença em milagres.
Foto: Tomaso Clavarino
No ar ao amanhecer
O rádio é muito importante para os pastores e profetas. Há programas de rádio todos os dias em diferentes estações. Nesta foto, dois assistentes do profeta Nigel Gaise estão prestes a ir ao ar às quatro da manhã. Gaise administra uma igreja chamada Ministério Profético do Verdadeiro Fogo. Ele é conhecido por fazer previsões sobre política e dar notícias sobre celebridades.