Na província de Inhambane, sul de Moçambique, há mais madeireiros a operar clandestinamente, em conivência com líderes comunitários. Fiscais não têm meios suficientes para monitorizar zonas de abate nas florestas.
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Os operadores clandestinos conseguem entrar nas zonas florestaiscom a ajuda de alguns líderes comunitários. Os cortes de madeira ilegal acontecem principalmente nos distritos de Mabote, Funhalouro e Govuro, na província de Inhambane.
Recentemente, a empresa chinesa Sniper Marketing. Lda, que operava ilegalmente em Fulhalouro, foi multada pelo Estado em mais de três milhões de meticais (mais de 47 mil euros). Foram também aprendidos no local vários tratores, motosserras e outro material.
Aumenta exploração ilegal de madeira em Inhambane
"Só quando chegaram as autoridades é que pararam de trabalhar e puseram-se em fuga", conta o operador florestal Rassul Benjamim, que presenciou o corte de espécies proibidas - monzo, chacate preto e chafuta - para exportação praticado pela empresa chinesa, que entretanto já abandonou o distrito.
Outro operador florestal, que pediu não ser identificado por motivos de segurança, revelou que a violação da lei ambiental é bem visível porque os líderes comunitários facilitam a entrada dos operadores ilegais.
"Existem alguns exploradores florestais ilegais, que chegam a uma comunidade via líderes tradicionais para poderem conseguir entrar na zona e fazer essa exploração ilegal", relata.
Líderes comunitários aliciados
José Folige, administrador do distrito de Mabote, confirma que há líderes locais que recebem dinheiro para ceder espaços florestais para o corte da madeira, sem o conhecimento das autoridades.
"Sem nenhuma licença, cortam na clandestinidade. Aliciam líderes com valores irrisórios e acabam tendo autorização para se introduzirem nas matas e fazem o corte sem, no entanto, se apresentarem às autoridades", explica.
A DW África tentou, sem sucesso, ouvir os líderes comunitários sobre as acusações de cobranças ilícitas.
O principal problema neste momento é a falta dos meios de fiscalização, disse à DW África o porta-voz dos Serviços Provinciais de Floresta e Fauna Bravia em Inhambane, Afonso Almeida. Nem combustível há para as poucas viaturas que a instituição tem.
"Também nós não temos capacidade de manter a fiscalização de forma permanente, temos problemas de combustível. A razão pela qual só se faz fiscalização na via pública é a falta de capacidade", justifica.
Fora de controle, desmatamento na Guiné-Bissau é milionário
O fenômeno cresceu desde o golpe militar de abril de 2012. As comunidades das aldeias atingidas condenam, mas preferem se calar. Espalha-se o medo de represálias por parte de quem está por trás do crime ecológico.
Foto: DW/M. Pessoa
Impotência nas tabancas
Os moradores acreditam que o desmatamento causa a falta de chuvas. "Somos agricultores e um agricultor sem chuva não pode produzir", disse um agricultor de Bafatá. Ele levou a reportagem até uma área onde havia restos dos troncos que foram carregados em contentores dias antes. "Houve protestos, mas agora as pessoas estão sendo ameaçadas. Ninguém mais fala sobre isso", diz.
Foto: DW/M. Pessoa
A pressa das eleições
A reportagem da DW África apurou que as pessoas responsáveis pelo crime ambiental temiam que o novo Governo da Guiné-Bissau reforçasse à fiscalização. Por isso, havia pressa para cortar troncos antes da primeira volta do pleito. O movimento de caminhões era intenso nas principais rodovias. Na pressa, o motor deste caminhão fundiu quando voltava para o interior para buscar mais troncos.
Foto: DW/M. Pessoa
Os resíduos
Contentores também eram encontrados à beira das estradas, deixados por cortadores para serem carregados ou levados posteriormente. Apesar de motoristas em pequenas viaturas serem abordados constantemente por integrantes das forças de segurança nas estradas, eram comuns imagens como esta da pressa do corte de madeira antes das eleições.
Foto: DW/M. Pessoa
Para garantir o sustento?
Uma fonte da reportagem diz que a venda de dois contêineres de madeira garante o sustento de uma família por alguns meses. "Muitos que entraram no negócio irregular estão ricos", diz. Para ele, o corte ilegal está tão elevado devido ao momento que o país vive. "Não há controle, não há Estado. Só quem tem uma madeireira pode conseguir essa licença. Mas agora todo mundo está no mato", salienta.
Foto: DW/M. Pessoa
Caminhões esperam a vez
A DW África apurou que, em 2010, saíram 15 contentores com madeira do porto de Bissau, Em 2013, o número chegou a 409 – aumento de quase 30 vezes em três anos. O movimento de caminhões foi constante em Bissau durante o período pré-eleitoral, quando a DW África documentou o fenômeno. Ativistas escreveram um panfleto anônimo com dados sobre a exportação. A mídia local deixou de falar do assunto.
Foto: DW/M. Pessoa
Destinos variados
A DW África apurou que, em 2010, saíram 15 contentores de madeira do porto de Bissau. O número de carregamentos chegou a 409 – um aumento de quase 30 vezes em três anos. Ambientalistas dizem que o príncipal destino dos trocos de árvore é a China, mas há indícios de que a madeira esteja sendo comercializada com outros países também. Na foto, um dos contentores no porto de Bissau.
Foto: DW/M. Pessoa
As reações internacionais
O embaixador da China na Guiné-Bissau, Yan Banghua, disse que o país não faz negócios ilegais com o país africano, respeita as leis e mantém boa cooperação com o Governo local. O representante do secretário-geral da ONU, José Ramos-Horta, visitou um local onde as madeiras estão sendo cortadas. Ele disse acreditar que a comunidade internacional vá se levantar contra os crimes ambientais.