Aumenta número de deslocados internos em Moçambique
Bernardo Jequete (Chimoio)
24 de outubro de 2016
Mais de mil pessoas estão já no novo centro de acolhimento de Vanduzi, na província de Manica, onde falta água potável. Fogem do conflito entre as forças governamentais e os homens armados da RENAMO.
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Há cada vez mais deslocados no centro de Moçambique
Cerca de 6.000 pessoas estão alojadas em centenas de tendas distribuídas por quatro centros de acomodação do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INCG) nos distritos de Gondola, Vanduzi, Mossurize e Báruè.
Foto: DW/B. Jequete
Fugir à guerra
Mais de mil pessoas chegaram em setembro e outubro de 2016 ao novo centro de acolhimento de Vanduzi, na província de Manica, onde se avolumam as queixas. Fogem do conflito que opõe as forças governamentais aos homens armados da RENAMO, por medo de serem atingidas pelas hostilidades. Dezenas de cidadãos ficaram sem casa na sequência de incêncios provocados por grupos rebeldes.
Foto: DW/B. Jequete
Deslocados de todas as idades
As autoridades abriram o centro de acolhimento de Vanduzi recentemente face ao número crescente de ataques armados na região. Aqui, vivem adultos, idosos, jovens e crianças que foram obrigados a abandonar a escola. Feniasse Mateus está a faltar às aulas. "Viemos para aqui com a família, estou há um mês sem estudar", lamenta.
Foto: DW/B. Jequete
Sem água potável
Em Vanduzi, onde foi acolhida, Fátima Saíde queixa-se das fracas condições, nomeadamente pela inexistência de água potável. "Estamos a sofrer por causa da água, estamos a beber água suja, cheia de capim e de bichos. Têm-nos dado cloro para pormos na água e bebermos". Segundo esta deslocada, a água é retirada de furos tradicionais e charcos.
Foto: DW/B. Jequete
Risco de doenças
A falta de água própria para consumo a somar à falta de condições de higiene preocupa estes milhares de deslocados. Fátima Saíde, teme por exemplo, a eclosão de doenças como a cólera e os surtos de diarreia aguda. Por outro lado, a seca na região agrava as dificuldades.
Foto: DW/B. Jequete
Mais de uma centena de famílias deslocadas em Vanduzi
Os deslocados do novo centro de Vanduzi, criado no início de outubro inicialmente com 125 famílias, são provenientes de Nhamatema, Punguè Sul, Chiuala, Honde, Guta, Mucombedzi, Pina, cruzamento de Macossa, Mossurize, Dombe e Chemba, zonas críticas e agora despovoadas, onde são frequentes relatos de confrontos entre as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição.
Foto: DW/B. Jequete
Uma fuga pela defesa e segurança
Joaquim Abril Jeque condena o clima de terror no centro do país que, na sua opinião, é culpa dos homens armados da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana). "Achámos conveniente fugir à procura de defesa", conta este deslocado. Segundo ele, as ameaças da RENAMO são constantes. "Ameaçam-nos com armas, matam os nossos animais, levam a nossa comida, agridem as nossas mulheres", exemplifica.
Foto: DW/B. Jequete
"Toneladas" de bens de apoio a caminho
Cremildo Quembo, porta-voz do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), diz que as autoridades estão a ajudar como podem as famílias deslocadas, em Vanduzi. "De salientar que este processo de assistência às famílias é contínuo e já estão a entrar toneladas [de bens de apoio] para todos os distritos afetados", garante o responsável.
Foto: DW/B. Jequete
Falta de espaço
Devido à insuficiência de tendas, duas ou mais famílias são obrigadas a conviver na mesma barraca de seis metros quadrados. Rostos tristes e lábios rasgados denunciam a pobreza e a fome. A maioria destes deslocados dependem apenas da distribuição de alimentos do INGC, que definem no entanto como "irregular".
Foto: DW/B. Jequete
Faltar à escola
Para além do trauma e do medo constante, a escalada do conflito interno em Moçambique terá outras consequências no futuro das crianças do centro do país. Chinaira José é uma de várias centenas de estudantes que ao serem obrigados a sair da sua zona de residência têm de faltar às aulas, pondo em risco a sua formação escolar.
Foto: DW/B. Jequete
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Fátima Saíde acaba de chegar ao centro de deslocados de Vanduzi. Veio para aqui por causa da guerra na sua terra natal, no distrito de Báruè. Os sons dos tiros não paravam, conta Fátima.
"Vinham homens da RENAMO e queimavam casas, disparavam armas, isso tudo na nossa região”, descreve a deslocada. Perante esse cenário, “não conseguimos ficar lá, fugimos para esta zona", acrescenta Fátima Saíde.
Joaquim Abril Jeque também teve de fugir. Ele condena o clima de terror na sua região, que de igual modo atribuiu aos homens armados do maior partido da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana.
"Os homens armados da RENAMO têm vingado, ameaçado pessoas, usando armas de fogo, matando nossos animais, levam comida, agridem as nossas mulheres (...). Achámos conveniente fugirmos à procura de defesa por parte do Governo", conta Joaquim Abril Jeque.
Joaquim e Fátima são dois dos 1076 deslocados internos que encontraram abrigo no centro de acomodação de Vanduzi. As autoridades abriram este centro recentemente face ao número crescente de ataques armados na região. Estão aqui adultos, idosos, jovens e crianças que foram obrigadas a abandonar a escola.
Feniasse Mateus afirma que “estava a estudar na nona classe”, mas teve de deixar a escola devido ao conflito armado. “Viemos para aqui com a família, estou há um mês sem estudar”, lamenta o jovem.
Sem água potável
Cremildo Quembo, porta-voz do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), diz que as autoridades estão a ajudar como podem as famílias deslocadas, em Vanduzi. "De salientar que este processo de assistência às famílias é contínuo. E já estão a entrar toneladas [de bens de apoio] para todos os distritos afetados" explicou o porta-voz do INGC. Na província de Manica há outros três centros: em Mossorize, em Gondola e em Báruè.
Mas Fátima Saíde queixa-se das condições em Vanduzi, onde foi acolhida, nomeadamente da falta água potável. “Estamos a sofrer por causa de água, estamos a beber água suja, cheia de capim e de bichos. Têm-nos dado cloro para pormos nessa água e beber.”
Segundo ela, a água é tirada de furos tradicionais e charcos. Fátima teme a eclosão de doenças como cólera e diarreia agudas por causa do tempo quente.
Por isso, Fátima Saíde pede a intervenção das autoridades – não só para lhes dar melhores condições, mas também para parar com a guerra. "Pedimos aos mentores do conflito para resolverem a curto prazo."
A DW tentou contactar a RENAMO na província de Manica, sem sucesso.