Número de jornalistas e trabalhadores dos media mortos em 2018 subiu para 94, mais 12 do que em 2017, segundo dados da Federação Internacional de Jornalistas divulgados nesta segunda feira (31.12).
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O aumento registado este ano surge após um declínio verificado nos últimos seis anos, segundo notícia da agência Associated Press com base no relatório anual da Federação Internacional de Jornalistas, que deverá ser divulgado nesta segunda-feira (31.12).
Os jornalistas e outros trabalhadores do setor dos media foram mortos em assassinatos seletivos, bombardeamentos e durante diversas situações de conflitos armados. Antes do declínio iniciado nos últimos seis anos, 121 pessoas que trabalhavam para organizações ligadas aos media foram mortas, e o pior ano foi em 2006, com 155 profissionais abatidos.
O país onde a mortalidade foi mais elevada para os jornalistas este ano foi o Afeganistão, com 16 pessoas, o México a seguir, com 11, o Iémen com nove e a Síria oito, contabilizou a Federação, que faz este relatório anual desde 1990.
Testemunhas
Para além da trágica perda de vidas, estes ataques afetam a busca de notícias em várias comunidades e países, sublinhou o presidente da entidade, Philippe Leruth. "Os jornalistas são um alvo porque eles são testemunhas. E o resultado disto é um aumento da autocensura", alertou.
O Iraque, onde 309 profissionais dos media foram mortos nos últimos 25 anos, tem estado há muito no topo da lista da federação. Este ano foi identificado um fotojornalista morto neste país.
Outros fatores estão a afetar a atividade dos jornalistas em busca de notícias, nomeadamente, segundo a entidade, o aumento da intolerância à informação independente, populismo, corrupção, crime, e o colapso da lei e da ordem nalguns territórios.
Jamal Khashoggi
Em outubro, um caso que correu o mundo, foi o do escritor e jornalista saudita Jamal Khashoggi, colaborador do The Washington Post, em autoimposto exílio nos Estados Unidos, que foi morto no consulado saudita em Istambul, na Turquia.
Os Estados Unidos da América ocupam o sexto lugar na lista, com cinco mortos. Em junho, um homem entrou na redação do jornal Capital Gazette, em Annapolis, Maryland, e abriu fogo sobre os jornalistas, matando quatro pessoas, e um outro trabalhador. O autor do ataque tinha perdido um processo na justiça sobre difamação.
"A estatística mais chocante é que nove em cada dez casos de mortes de jornalistas ficam impunes", disse Philippe Leruth, da Federação Internacional de Jornalistas.
A federação constitui uma rede de mais de 600 mil media de 187 organizações, em mais de 140 países, alguns deles com situações de conflito armado.
Países africanos que mais violam a liberdade de imprensa
Gana é o país africano mais bem classificado no "<i>Ranking</i> Mundial da Liberdade de Imprensa" dos Repórteres sem Fronteiras. A Eritreia é o pior em África e, a nível mundial, só é melhor que a Coreia do Norte.
Foto: Esdras Ndikumana/AFP/Getty Images
Eritreia - posição 179º lugar
A liberdade de imprensa é considerada "não existente". Em 2001, uma série de medidas repressivas contra <i>media</i> independentes levaram a uma onda de detenções. O Presidente Isaias Afeworki é visto como um “predador” da liberdade de imprensa e usa os meios de comunicação nacionais como seus porta-vozes. Escritores, locutores e artistas são censurados e a informação é escondida dos cidadãos.
Foto: picture-alliance
Sudão - 174º lugar
Na capital Cartum, pratica-se a chamada “censura pré-publicação". O Governo detém jornalistas arbitrariamente e interfere abertamente na produção de notícias. A "Lei da Liberdade de Informação de 2015" é vista como uma outra forma de exercer controlo governamental sobre a informação pública. Os jornalistas têm de passar por um teste e obter uma permissão para trabalhar.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Burundi - 159º lugar
Repressão estatal contra a liberdade de imprensa e intimidação de jornalistas é comum no país. <i>Media </i> controlados pelo Estado substituem cada vez mais estações de rádio independentes, depois de a maior parte delas ter sido forçada a fechar, após uma tentativa de golpe de estado há três anos. Centenas de jornalistas fugiram do país desde 2015. Na foto, protesto de jornalistas no país.
Foto: Esdras Ndikumana/AFP/Getty Images
República Democrática do Congo - 154º lugar
Defensores dos <i>media</i> falam em jornalistas mortos, agredidos, detidos e ameaçados desde que Joseph Kabila sucedeu ao pai na presidência do país em 2001. Orgãos de comunicação internacionais queixam-se que o Governo interfere nos sinais de rádio ou corta mesmo a transmissão. Protestos da oposição levaram as autoridades a interromper ou cortar o acesso à Internet.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Suazilândia - 152º lugar
Esta monarquia absoluta tem a reputação de obstruir o acesso à informação e impedir os jornalistas de fazerem o seu trabalho. Os <i>media</i> estão sujeitos a leis restritivas e repórteres são frequentemente chamados a tribunal pelo seu trabalho. Auto-censura é comum. Um editor saiu recentemente do país depois de fazer uma reportagem sobre negócios obscuros ligados ao Rei Mswati III (na foto).
Foto: picture-alliance/dpa
Etiópia - 150º lugar
O Governo tem uma mordaça sobre os órgãos de comunicação e os jornalistas trabalham sobre condições muito restritivas. Com a Eritreia, este país tem uma das mais altas taxas de jornalistas detidos na África subsariana. Na foto, o jornalista etíope Getachew Shiferaw, que foi condenado a 18 meses de prisão por ter falado com um dissidente.
Foto: Blue Party Ethiopia
Sudão do Sul - 144º lugar
Os jornalistas são obrigados pelo Governo a evitar fazer cobertura do conflito. Órgãos de comunicação internacionais denuciaram casos de assédio e foram banidos deste jovem país, onde pelo menos 10 jornalistas foram mortos desde 2011. Na foto, dois jornalistas do Uganda que tinham sido detidos por autoridades no Sudão do Sul.
Foto: Getty Images/AFP/W. Wudu
Camarões - 129º lugar
O Governo chamou às redes sociais uma “nova forma de terrorismo”, e bloqueia frequentemente o acesso às mesmas. Emissões de rádio e televisão foram bloqueadas duas semanas em março, durante o período eleitoral. Jornais que publicam conteúdos que desagradam políticos no poder são banidos e jornalistas e editores são detidos.
Foto: picture alliance/abaca/E. Blondet
Chade - 123º lugar
Os jornalistas arriscam-se a detenções arbitrárias, agressões e intimidações. Nos últimos meses, o Governo tem vindo a reprimir plataformas de <i>social media</i> e ciber-ativistas. A Internet tem estado bloqueada no país desde 28 de março, no seguimento de um “apagão” da Internet devido a manifestações da sociedade civil e protestos dos órgãos de comunicação num chamado “dia sem imprensa”.
Foto: UImago/Xinhua/C. Yichen
Tanzânia - 93º lugar
Críticos dizem que o Presidente John Magufuli tem vindo a atacar a liberdade de expressão deliberadamente, desde que tomou posse em 2015. Jornalistas foram presos ou dados como desaparecidos. Orgãos de comunicação social foram fechados ou impedidos de publicar durante longos períodos de tempo. Leis que podem ser usadas contra os <i>media</i> foram apertadas.