Aumentam internamentos de homens com tuberculose em Bissau
Iancuba Dansó (Bissau)
23 de agosto de 2019
Enquanto os casos de tuberculose em crianças e mulheres diminuem, aumenta o número de internamentos de homens com a doença no Hospital Raoul Follereau, na Guiné-Bissau. Relutância em ir ao médico é um problema.
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Entre as 86 pessoas internadas com tuberculose no Hospital Raoul Follereau, o único centro especializado para o tratamento da doença, na Guiné-Bissau, 46 são homens. O número tem aumentado nos últimos tempos, segundo a organização não-governamental italiana Ajuda à Saúde e Desenvolvimento (AHEAD), que gere o hospital.
"A taxa de internamento das mulheres e das crianças baixou um bocado. O que está a aumentar são os internamentos de homens. Tivemos que emprestar alguns quartos destinados a crianças", afirma Mama Saliu Sanhá, representante da AHEAD e responsável pelo centro de tratamento de tuberculose de Bissau.
Grande parte dos homens internados são jovens entre os 18 e os 35 anos. "É isso que nos preocupa bastante", afirma Saliu Sanhá.
O que está por trás do aumento?
A relutância em ir ao centro de saúde logo que aparecem os primeiros sintomas é apontada como causa para o aumento do número de internamentos.
"Há pacientes que, quando têm sintomas, mesmo com duas semanas, não vêm ao hospital e, por isso, os números são elevados", refere Moreira Mendes, diretor clínico do Hospital Raoul Follereau.
"É preciso sensibilizar as pessoas doentes para que venham ao centro. É a única forma de estancar o número elevado de doentes, não só nos homens", acrescenta.
Sob gestão da AHEAD, o Hospital Raoul Follereau garante consultas, internamentos e tramentos gratuitos a pacientes com tuberculose, que também recebem cinco refeições por dia. O Governo guineense assegura o fornecimento de energia elétrica e medicamentos específicos para a tuberculose, através do Fundo Global.
Carências do principal hospital de Bissau
O Hospital Nacional Simão Mendes é considerado a unidade hospitalar de referência na Guiné-Bissau. Mas falta quase tudo: pessoal especializado, medicamentos básicos, aparelhos de diagnóstico.
Foto: Gilberto Fontes
Crise política deixa hospital a meio gás
Com a instabilidade política agravaram-se as necessidades no principal hospital da Guiné-Bissau e caíram por terra as expectativas da equipa hospitalar que esperava mais atenção por parte das autoridades. A Cruz Vermelha e os Médicos Sem Fronteiras prestam apoio. Mas, mesmo assim, perdem-se muitas vidas por falta de condições básicas de assistência.
Foto: Gilberto Fontes
À espera da hemodiálise...
O país ainda não consegue tratar doentes com insuficiência renal. O hospital tem estas instalações novas para iniciar tratamentos. Só falta a máquina da hemodiálise. Curioso é que o equipamento está no hospital, fechado há anos numa sala, cuja chave está com o Ministério da Saúde, segundo fonte hospitalar. Um nefrologista e vários técnicos fizeram formação em diálise, que ainda não podem aplicar.
Foto: Gilberto Fontes
Enquanto isso a população sofre
Doentes, como esta senhora, só podem receber tratamentos de hemodiálise no Senegal. No entanto, cada sessão chega a custar 150 euros. O que é insustentável para muitos doentes que, normalmente, necessitam de várias sessões semanais. Quando a doença é detetada numa fase inicial, aciona-se a evacuação para Portugal. Mas o processo é moroso. Muitos doentes acabam por falecer por falta de tratamento.
Foto: Gilberto Fontes
Há equipamentos novos parados...
O técnico de radiologia Hécio Norberto Araújo lamenta que este aparelho novo de radiografias esteja praticamente parado. Só faz alguns exames, em casos de urgência. Também o equipamento de mamografia nunca funcionou devido à falta de acessórios, como o chassi e o aparelho de revelação. O hospital militar continua a ser o único no país a fazer mamografias e tomografias, que podem custar 100 euros.
Foto: Gilberto Fontes
E máquinas obsoletas em uso
Na falta de opções, este velho aparelho de raio x continua a ser muito requisitado. Ninguém sabe quantos anos tem o equipamento que funciona com arranjos improvisados de fita-cola. A pequena sala de diagnóstico está desprovida de qualquer proteção contra as radiações. O único avental de proteção está estragado. Os técnicos de radiologia estão diariamente expostos a radiações eletromagnéticas.
Foto: Gilberto Fontes
Sem mãos a medir na pediatria
Esta unidade costuma estar cheia, principalmente na época das chuvas, com o aumento de casos de malária ou paludismo e diarreia nas crianças. Neste serviço com 158 camas, há apenas nove médicos efetivos e quase 40 enfermeiros. Entre o pessoal médico, conta-se um único especializado em pediatria. A falta de um eletrocardiograma é responsável pelo diagnóstico tardio de cardiopatias entre os menores.
Foto: Gilberto Fontes
Nem medicamentos para emergências
Nos cuidados intensivos há apenas um cardiologista. A maioria do pessoal médico são clínicos gerais. Por vezes, em plena situação de paragem cardíaca, falta medicação de urgência que os familiares do doente têm de se apressar em providenciar. A equipa hospitalar quer mais investimento em formação e em condições de trabalho. Só assim pode salvar mais vidas e diminuir a evacuação para o exterior.
Foto: Gilberto Fontes
Faltam lençóis e comida
O Hospital Nacional Simão Mendes tem mais de 500 camas. Mas não tem lençóis que cheguem para fazer a cobertura de todas elas. Devido à falta de pijamas, muitos doentes ficam hospitalizados com a roupa que trazem no corpo. Além disso, não há como providenciar alimentação aos pacientes que, na maior parte das vezes, ficam dependentes da comida que os familiares conseguem fazer chegar.