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PolíticaEtiópia

Aumentam os protestos contra o Ocidente na Etiópia

António Cascais | com agências
2 de junho de 2021

Milhares de etíopes têm-se manifestado nos últimos dias contra as sanções que os Estados Unidos da América (EUA) querem impor aos dirigentes do país. Estão previstas restrições de vistos devido ao conflito em Tigray.

Foto: Seyoum Getu/DW

Milhares de etíopes saíram à rua, no último fim de semana, para protestar contra as sanções anunciadas pelos EUA. A administração de Joe Biden vai impor restrições de visto a responsáveis da Etiópia, acusados por Washington de não terem tomado "medidas significativas para pôr fim às hostilidades" na região de Tigray.

Adnech Abebe, presidente da Câmara de Addis Abeba, contesta a medida. "A América e os seus aliados, sem compreenderem a situação, decidiram interferir nos nossos assuntos internos impondo sanções de viagem e pré-requisitos que não podem de forma alguma ser aceites. Deveriam parar e pensar bem sobre esta questão para a corrigir", afirma.

Os etíopes, na sua maioria jovens, manifestaram-se em várias cidades da Etiópia, mas também em Roma, na Itália, cidade que acolhe grande número de etíopes. Criticaram duramente o Presidente norte-americano, Joe Biden, e exibiram cartazes com frases de elogios ao líder russo Vladimir Putin, ao Presidente turco Recep Erdogan e ao líder chinês Xi Jinping.

"Somos um país soberano"

"Sou contra a ideia de países estrangeiros que tentam interferir nos nossos assuntos internos e tomar conta de nós. Somos um país soberano. Como país soberano, o nosso povo e o nosso governo decidem pelo nosso país", diz Abera Tesfaye, um dos manifestantes.

Worku Yakub, professor de antropologia social na Universidade de Wachemo, no sudoeste da Etiópia, está contra a posição destes manifestantes. "Os cartazes dos líderes desses países, por exemplo a Rússia e a China, na minha opinião, são contraproducentes. Não é inteligente tentar colocar estes países num cenário de concorrência."

Milhares de pessoas participaram nos protestosFoto: Seyoum Getu/DW

No entanto, acrescenta, "o que precisamos de compreender é que estes cartazes que foram exibido são a posição de apenas alguns indivíduos. Não reflete a opinião da maioria dos etíopes."

Os protestos foram convocados oficialmente pela organização juvenil do Partido da Prosperidade do primeiro-ministro etíope, Abie Ahmed, no poder.

Restrições em grande escala

Os Estados Unidos preveem também restrições "em grande escala" em matéria de assistência económica à Etiópia, sem prejuízo da manutenção da ajuda humanitária nas áreas da saúde, da alimentação e da educação. 

Washington condenou ainda "matanças, deslocamentos forçados, violência sexual sistemática e violações e abusos dos direitos humanos" na Etiópia. Medidas que não agradam a Mulu Solomon, embaixadora da Etiópia em Berlim, na Alemanha, que criticou a decisão dos Estados Unidos.

Mulu Solomon, embaixadora da Etiópia em BerlimFoto: DW/E. Fekade

"A Etiópia atribui grande importância à extraordinária e comprovada relação com os Estados Unidos, mas é lamentável que o Governo dos EUA tenha tomado esta decisão como certa e não tenha tomado em consideração a nossa relação de um século. O governo etíope acredita que não deve ser pressionado", declarou Mulu Solomon.

Em declarações à DW, Yelekal Getnet, dirigente do Partido Democrático da Etiópia, na oposição, diz que o Governo deveria preocupar-se em resolver o conflito que assola a região de Tigray e parar de queixar-se da ingerência estrangeira.

Yelekal acusa o Governo de tentar afastar o país do Ocidente: "Ele (Abyi Ahmed) tentou mudar o foco da cooperação do país para a Rússia, Turquia e China, mas não creio que esta seja uma estratégia sensata para o nosso país e para os interesses da nossa região."

Violações dos direitos humanos em Tigray

O conflito na região do Tigray começou em novembro de 2020, depois de o Governo da Etiópia ter lançado uma ofensiva militar contra a Frente Popular de Libertação do Tigray (FPLT) como retaliação a um ataque anterior destas forças a uma base do exército federal.

Desde então, as organizações de defesa dos direitos humanos têm denunciado saques e violações contra a população local cometidos por todas as partes, especialmente pelas forças eritreias destacadas para a região em apoio ao exército da Etiópia.

Perante os relatos de atrocidades cometidas contra civis, a comunidade internacional fez vários apelos ao Governo etíope, nos últimos meses, e a União Europeia suspendeu, em janeiro, o apoio orçamental ao país, de 88 milhões de euros, até ser garantido o acesso de organizações humanitárias à região de Tigray, algo que as autoridades etíopes têm impedido.

Desde o início do conflito no Tigray, mais de dois milhões de pessoas foram deslocadas à força dentro da região e pelo menos 75 mil fugiram para o vizinho Sudão, de acordo com números oficiais.

Tigray: Centenas de mulheres violadas por militares

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