Com a subida dos combustíveis, os preços dos produtos e dos transportes ficaram também mais caros. As queixas da população sobem de tom. Economista teme que o nível de vida piore.
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O Governo de Moçambique subiu o preço dos combustíveis há uma semana e os efeitos já se sentem. Alguns alimentos deixaram de estar à venda nos mercados de Quelimane, na província central da Zambézia, porque os transportes estão mais caros e os produtores recusam-se a levar os produtos do campo para a cidade.
Houve também subida do preço de outros alimentos. Um quilograma de farinha passou a custar quase 80 meticais (o equivalente a 1,10 euro), quando anteriormente custava 50 meticais. A batata reno custa agora 50 meticais o quilograma, em vez dos anteriores 40 meticais.
Situação pode piorar
"A subida do preço do combustível está a impedir a maioria das pessoas de trazer produtos para Quelimane. Não temos como. Os nossos filhos estudam com as receitas do negócio, há muita reclamação dos nossos clientes", nota Alberto Soares, comerciante.
Bonde Carlos também está preocupado com a falta de lucro. "Com esta subida de preços, nós, como comerciantes, nunca nos vamos desenvolver. Continuamos sempre em baixo", afirma o revendedor.
A situação pode levar a que o nível de vida da população piore, segundo o economista Horácio Mucuveia.
"Enquanto houver uma subida do combustível, os automobilistas também vão aumentar o valor dos transportes, daí que há dificuldade da população em ter acesso a produtos alimentares. A subida de combustível aumenta os custos de vida. Neste caso, quem sofre é a população o impacto e o económico para a população da Zambézia é negativo", considera o Mucuveia.
Apelos ao Governo
Em menos de seis meses, o preço do combustível em Moçambique já foi alterado por duas vezes. Em alguns locais, o litro de gasolina custa já 60 meticais (mais de 80 cêntimos de euro) - acima do preço indicado pelo Executivo moçambicano.
Face ao momento atual, o automobilista Francisco Morais deixa um apelo aos governantes: "devem baixar as despesas para as populações se poderem alimentar nas suas casas."
O economista Horácio Mucuveia está, no entanto, pouco otimista quanto a uma descida do preço dos combustíveis. "O combustível em Moçambique nunca vai descer. A tendência será de agravar mais os preços. Por causa da crise económica, o Governo sempre vai aumentando os preços para poder tentar recuperar a economia", afirma.
Aumento dos combustíveis encare vida em Moçambique
No mercado, o comerciante Alberto Soares espera dias melhores e deposita as suas esperanças no Executivo. "Queremos que o Governo resolva isso. Não há guerra, os carros estão a circular normalmente nas estradas. Queremos que a vida da população melhore."
Moçambique: centenas de pessoas marcham contra a situação política e económica
Centenas de moçambicanos marcharam no dia 18 de junho de 2016 em Maputo contra a situação política e económica do país. A manifestação foi convocada pela sociedade civil para exigir esclarecimentos ao Governo.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
Pela Avenida Eduardo Mondlane rumo à Praça da Independência
"Pelo direito à esperança" foi o mote da manifestação que reuniu centenas de pessoas no centro de Maputo, no sábado dia 18 de junho de 2016. Os manifestantes exigem o fim do conflito político-militar entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o esclarecimento da dívida pública e mais liberdade de expressão.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
"A intolerância política mata a democracia"
Em entrevista à DW África, Nzira de Deus, do Fórum Mulher, uma das organizações envolvidas, afirma que a liberdade dos moçambicanos tem sido muito limitada nos últimos meses. "É preciso deixar de intimidar as pessoas, deixarem as pessoas se expressarem de maneira diferente, porque eu acho que é isso que constrói o país. Não pode haver ameaças, não pode haver atentados", diz Nzira.
Foto: DW/L. Matias
De preto ou branco, manifestantes pedem paz
Com camisolas pretas e brancas e cartazes com mensagens de protesto, centenas de moçambicanos mostram o seu repúdio à guerra entre o Governo e a RENAMO, às dívidas ocultas e às valas comuns descobertas no centro do país. Num percurso de mais de dois quilómetros, entoaram cânticos pela liberdade e pela transparência.
Foto: DW/L. Matias
"Valas comuns são vergonha nacional"
Recentemente, foram descobertas valas comuns na zona central de Moçambique. Uma comissão parlamentar enviada ao local para averiguações nega a sua existência. Alguns dos corpos encontrados foram sepultados sem ter sido feita uma autópsia, o que dificulta o conhecimento das causas das suas mortes.
Foto: DW/L. Matias
"É necessário haver um diálogo político honesto e sincero"
Nzira de Deus considera que a crise política que Moçambique enfrenta prejudica a situação do país e defende que “haja um diálogo político honesto e sincero e que se digam quais são as questões que estão em causa". Para além da questão da dívida e da crise política, os manifestantes estão preocupados com as liberdades de expressão e imprensa.
Foto: DW/L. Matias
Ameaças não vão amedrontar o povo
No manifesto distribuído ao público e lido na estátua de Samora Machel, na Praça da Independência, as organizações da sociedade civil exigiram à Procuradoria-Geral da República uma auditoria forense à dívida pública. "Nós queremos que o ex-Presidente [Armando Guebuza] e o seu Governo respondam por estas dívidas", declarou Alice Mabota, acrescentando que as ameaças não vão "amedrontar o povo".
Foto: DW/L. Matias
Sociedade Civil presente
A manifestação foi convocada por onze organizações da sociedade civil moçambicana. Entre as ONGs que organizaram a marcha encontram-se a Liga dos Direitos Humanos (LDH), o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o Observatório do Meio Rural, o Fórum Mulher e a Rede HOPEM.