Reintegração de Diodino Cambaza no Ministério dos Transportes e Comunicações de Moçambique representa um revés nos esforços da luta contra corrupção, falta de transparência e até nos esforços da justiça, diz o CIP.
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Em Moçambique, o ministério dos Transportes e Comunicações reintegrou o ex-PCA da empresa Aeroportos de Moçambique depois deste ter sido preso por desvios de fundos da empresa pública. Diodino Cambaza foi condenado a 12 anos de prisão em 2010, juntamente com outros altos funcionários da empresa. E seis anos depois foi libertado por bom comportamento, ganhando como prémio o cargo de assessor. A DW África entrevistou pesquisador do CIP (Centro de Integridade Pública) Anastácio Bibiano sobre o caso.
DW África: A reintegração de Diodino Cambaza não representa um revés nos esforços da luta contra a corrupção, falta de transparência e até dos esforços da justiça?
Anastácio Bibiane (AB): Penso que sim, representa um grande revés, na medida em que temos um infrator que volta a ser integrado no ministério onde ele mesmo cometeu as irregularidades. O que notamos é que o que deveria ter sido feito era também a empresa proceder disciplinarmente contra o infrator. Mas quer nos parecer que a empresa refugiou-se no silêncio, não instruiu o competente procedimento disciplinar para a aplicação das devidas funções. Penso que este foi o grande problema que se desencadeou aquando da detenção do arguido em sede do processo criminal que decorria na Procurador e no Ministério Público.
DW África: A reintegração do senhor Cambaza pode servir de incentivo a prática de crimes?
AB: É óbvio. Mas me parece que no país a lei não é igual para todos. Se fosse um trabalhador qualquer da [empresa] Aeroportos de Moçambique a própria empresa teria aberto um processo disciplinar e o teria despedido. Os factos que praticou o senhor Cambaza consubstanciam uma situação em que não há como o trabalhador voltar a empresa ou haver insistência desse contrato de trabalho, deveria ter havido um processo disciplinar. E o próprio ministério dos Transportes e Comunicações submeteu ao parecer do Ministério Público, mas o pedido não é de reintegração. E o parecer dado nos parece um pouco lacunoso, porque deveria ter orientado ao ministério [dos Transportes e Comunicações] a abertura do processo disciplinar contra o senhor Cambaza, uma vez que tal não foi feito em tempo oportuno. Mas penso que pelas leis de prescrição de procedimento disciplinar ainda favorecem, permitem que hoje seja aberto um processo contra o senhor Cambaza, porque os prazos de prescrição de infração disciplinar são longos, por exemplo são mais longos do que os prazos da área laboral.
DW África: Diodino Cambaza foi libertado depois de cumprimento de metade da pena, isto por bom comportamento. O facto é suficiente para que o Estado volte a integra-lo?
ONLINE CAMBAZA - MP3-Mono
AB: Havendo uma infração dessas ele deveria ser alvo de um processo disciplinar. Apenas esse processo é que poderia culminar com o despedimento do infrator. Mas parece-nos que não foi aberto o tal processo. Ainda assim, o que nos espanta como CIP é que o próprio fiscal da legalidade que recebeu o pedido de reintegração para o parecer não ter dado um aconselhamento necessário ao Ministério dos Transportes e Comunicações e aos Aeroportos de Moçambique para proceder definitivamente contra o senhor Cambaza. Ainda estamos dentro dos prazos, isso ainda pode ser feito. Havendo essa irregularidade penso que o Ministério Público devia ter aconselhado ao Ministério dos Transportes e Comunicações a proceder em conformidade.
DW África: É possível reverter essa reintegração sob o ponto de vista de lei?
AB: Sim, é possível, desde que haja um processo disciplinar no caso, porque o limite da sentença condenatória não ía até ao despedimento do infrator, só se limitava a condenar em multa e pena de prisão e ao pagamento da indemnização. Mas o processo disciplinar é independente do processo criminal.
Os ciclistas do carvão de Sofala
Produzem-se diariamente mais de 15 toneladas de carvão vegetal em Sofala. Este é transportado de bicicleta para os clientes, percorrendo longas distâncias. O abate descontrolado de madeira está a causar desertificação.
Foto: Gerald Henzinger
Um ciclista de carvão
De distâncias que perfazem até cem quilómetros é transportado carvão de madeira, do interior, para segunda maior cidade moçambicana, a Beira. Este ciclista transporta cerca de 120 quilos de carvão que poderá vender por 650 Meticais (20 Euros).
Foto: Gerald Henzinger
A caminho
Os cerca de meio milhão de habitantes da Beira queimam diariamente 15 toneladas de carvão de madeira. O carvão vegetal é produzido no interior da província de Sofala e transportado de bicicleta até os clientes, o que representa um enorme esforço físico.
Foto: Gerald Henzinger
Bicicletas sobrecarregadas
Normalmente as bicicletas não oferecem lugar para mais de três sacos, se se quiser pedalar. Este transportador colocou seis sacos, ou seja cerca de 300 quilos de carvão, e empurra a bicicleta por detrás, guiando-a com duas cordas amarradas ao volante.
Foto: Gerald Henzinger
Pequenas reparações
As bicicletas usadas em Moçambique vêm habitualmente da Índia e têm uma qualidade duvidosa. Sob o peso do carvão as varetas das rodas partem com facilidade. As distâncias são muitas vezes tão grandes que dificilmente se fazem num dia, os ciclistas dormem por isso na berma da estrada.
Foto: Gerald Henzinger
Paisagem devastada
Não existe um verdadeiro controlo do desmatamento. No interior da Beira já quase não existem árvores. Quase todas elas foram abatidas e transformadas em carvão vegetal. O Governo, em colaboração com as autarquias, tenta travar a destruição ambiental. Agora cada aldeia tem uma cooperativa que distribui concessões aos produtores.
Foto: Gerald Henzinger
Desmatamento avança
Poucos produtores respeitam no entanto as normas. A erosão dos solos e a desertificação são as consequências do abate descontrolado.Torna-se cada vez mais difícil obter madeira para a produção. Não apenas devido aos pequenos produtores do negócio do carvão. Grandes empresas nacionais e internacionais, sobretudo chinesas, derrubam árvores e exportam os troncos.
Foto: Gerald Henzinger
Padre Emílio em Chissunguwe
O padre brasileiro Emílio Moreira defende os interesses dos produtores de carvão vegetal. A sua paróquia abrange as comunidades de Chissunguwe, Njangulo, Nhangau e Casa Partida. Estas comunidades situam-se entre 30 a 40 quilómetros da Beira. A imagem mostra uma visita do sacerdote à comunidade de Chissunguwe, na qual ele procura introduzir a plantação de legumes como alternativa ao carvão.
Foto: Gerald Henzinger
Lenha para carvão
Em lugares como Chissunguwe produz-se o carvão utilizado na Beira. Este monte de lenha arde já há alguns dias e deverá produzir três a quatro sacos de carvão, pesando 50 quilos. A lenha é recolhida a grande distância porque em Chissunguwe há anos que deixou de existir.
Foto: Gerald Henzinger
Nando - Produtor de carvão
Na localidade vizinha Njangulo ainda existe um pouco de floresta. Ali Nando produz o seu carvão vegetal. Desta pilha de lenha poderão resultar cerca de dez sacos de carvão.
Foto: Gerald Henzinger
Pilhas de lenha ardidas
Estas pilhas já arderam na totalidade e o proprietário aperta o último saco de carvão, que de imediato transportará de bicicleta para a Beira. A capital da província de Sofala é a maior cidade do centro de Moçambique e o maior mercado regional para o carvão vegetal.
Foto: Gerald Henzinger
A caminho dos clientes
Fontes de energia alternativas como gás ou electricidade não são acessíveis à maioria dos moçambicanos e, por isso, os produtores de carvão continuam a ter muita procura. Botijas de gás para cozinhar têm de ser importadas da África do Sul, isto apesar de Moçambique exportar gás para o país vizinho.
Foto: Gerald Henzinger
Pilhas de lenha nas serrarias chinesas
Desde o escândalo em torno da exportação de troncos inteiros por empresas chinesas, as mesmas começaram a trabalhar a matéria-prima em Moçambique. Desta forma, podem continuar a abater árvores e a exportar madeira. Os restos das serrarias são aproveitados pelos locais para a produção de carvão.