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Autárquicas em Moçambique: O gás silenciou a União Europeia?

24 de outubro de 2023

Em entrevista à DW África, Manuel de Araújo, membro da RENAMO, liga o silêncio da União Europeia perante a crise pós-eleitoral em Moçambique ao interesse no gás em Cabo Delgado.

Foto: Quelimane Municipality

Manuel de Araújo, destacado membro da RENAMO, o maior partido da oposição em Moçambique, diz que não tem dúvidas: o gás de Cabo Delgado silenciou a União Europeia (UE).

Até agora, os 27 não fizeram qualquer pronunciamento sobre as fraudes e violência no contexto das autárquicas de 11 de outubro em Moçambique.

A UE afirmou apenas, em comunicado, que está a acompanhar o caso "de perto", deixando entender que se deverá pronunciar só depois de 26 de outubro, altura em que deverão ser anunciados os resultados finais.

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Araújo também tece duras cíticas às equipas de observação europeia. A sua próxima paragem é o velho continente, mas por enquanto está nos EUA em busca de apoio no contexto da crise eleitoral.

DW África: Nesta batalha pós-eleitoral, a frente diplomática é uma das apostas da RENAMO. O que já conseguiu nos seus encontros com instituições norte-americanas?

Manuel de Araújo (MA): Em primeiro lugar, tínhamos objetivos bastante modestos. Primeiro, manter os vários atores informados sobre a gravidade da situação em Moçambique. Preveni-los sobre uma eventual erupção de violência pós-eleitoral que depois poderá degradar não só o ambiente de negócios, como também pode criar convulsões sociais e políticas que poderão alterar a ordem estabelecida. Portanto, Moçambique precisa de estabilidade para continuar a granjear a preferência dos investidores internacionais, mas também precisa de manter um ambiente pró-democracia para continuar a angariar recursos como aqueles que o Milleniumm Change Corporation disponibilizou para Moçambique, especialmente para a província da Zambézia. São mais de 500 milhões de dólares. E uma das condições básicas é que Moçambique respeite os preceitos democráticos. Portanto, estas eleições mostraram a todo o terreno que afinal de contas Moçambique não é assim tão democrático como deixava transparecer.

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DW África: E qual foi a reação das instituições com que se reuniu?

MA: Viemos deixar o nosso informe, alertando a essas instituições que se nas eleições locais tivemos este tipo de 'gangsterismo' de Estado, onde os elementos tem um contrato com o STAE [Secretariado Técnico de Administração Eleitoral], falo dos funcionários do STAE, a Polícia e a própria Comissão Distrital de Eleições. Trabalharam todos num conluio para subverter a vontade popular, naquilo que eu chamo literalmente de um autêntico golpe de Estado. Portanto, as instituições internacionais devem estar atentas a este tipo de manobras. E nós não gostaríamos que acontecesse o que aconteceu neste processo. Quase não tivemos observadores internacionais para o processo de recenseamento, os poucos chegaram em cima da hora e saíram antes da proclamação dos resultados, atitude não apropriada. Nós precisamos de missões de médio e longo prazo que estejam no terreno a ponto de perceberem os desafios e aquilo que são as realidades no terreno. Algumas missões, como a portuguesa em Quelimane, abandonaram o terreno um dia depois das eleições, exatamente na altura em que se cometiam as várias irregularidades. Portanto, isso mostra a má preparação dos observadores, ou por desconhecimento ou então por falta de vontade.

DW África: A União Europeia não manifestou até agora nenhuma posição sobre os conflitos pós-eleitorais?

MA: Por um lado, podemos dizer que é estranho. Por outro, é normal porque, porque os países da UE estão a atravessar uma crise devido à guerra da Ucrânia. Esta guerra criou uma disrupção no mercado do gás e eles agora dependem muito do gás dos Estados Unidos da América. E este é um dos motivos pelos quais iremos começar pelos EUA e só depois vamos para a Europa, porque eles subordinam-se às vontades dos EUA e a crise energética veio acentuar essa dependência. Daí que este silêncio não nos surpreenda. A Europa tem interesse no gás de Moçambique e pode ter achado não ser oportuno pronunciar-se agora, porque poderia perigar os seus interesses comerciais. A maior parte dos embaixadores acreditados em Maputo parecem mais adidos comerciais do que embaixadores.

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DW África: Então, estamos a dizer que o gás silenciou as vozes da União Europeia...

MA: Não tenho dúvidas. Achamos de muita coragem a atitude da embaixada dos EUA, que se pronunciou. Apesar de ter sido um pronunciamento muito ténue, podia ter sido mais contundente. Mas diplomacia é diplomacia e cada um sabe quais são os seus interesses. Nós sempre víamos o Ocidente como "beacon of hope" [chama da esperança], mas no últimos tempos têm-nos desiludido um pouco, uma vez que a própria democracia norte-americana está longe do que era.

DW África: Acha que a FRELIMO está consciente desta fragilidade da União Europeia e, por isso, terá abusado na fraude eleitoral este ano?

MA: Não tenho dúvidas.

DW África: Conta passar por Bruxelas nesta sua frente diplomática? Qual será a abordagem?

MA: Vou passar por vários países, mas neste momento não quero mencionar quais devido aos nossos adversários. O que lhe posso garantir é que a próxima etapa será a Europa e depois a América Latina.

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