Autárquicas: Eneas Comiche é aposta da FRELIMO em Maputo
Leonel Matias (Maputo)
3 de agosto de 2018
A FRELIMO, partido no poder em Moçambique, já elegeu os cabeças de lista às autárquicas de outubro. Analista antevê eleições muito disputadas e acredita que ex-autarca Eneas Comiche tem hipóteses de vencer na capital.
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A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) elegeu esta sexta-feira (03.08) os seus candidatos a membros das Assembleias para as 53 autarquias e respectivos cabeças de lista nas eleições locais previstas para 10 de outubro. Os cabeças de lista vão concorrer ao cargo de presidente da autarquia, uma inovação no sistema eleitoral moçambicano.
O candidato para a capital do país, Maputo, será Eneas Comiche, atual Presidente da Comissão Parlamentar do Plano e Orçamento e membro da Comissão política do partido no poder.
Comiche já ocupou o cargo de presidente do município de Maputo pela FRELIMO, foi ministro das Finanças e governador do Banco de Moçambique.
"FRELIMO tinha de jogar forte"
O analista Alexandre Chiure acredita que Eneas Comiche tem hipóteses de sair vencedor nas eleições na capital do país, onde irá disputar o cargo com várias figuras como Venâncio Mondlane, candidato da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o maior partido da oposição.
"A FRELIMO tinha de jogar forte, porque a cidade de Maputo é bastante cobiçada pela oposição e a oposição está a armar-se para ver se consegue ficar com a cidade de Maputo. Estamos a falar sobretudo da RENAMO", explica.
Autárquicas: Eneias Comiche é aposta da FRELIMO para Maputo
Para o analista, Eneas Comiche "foi um dos melhores presidentes do município de Maputo nos últimos anos". Por isso, espera que o candidato "trabalhe com o mesmo espírito que caracterizou o seu único mandato."
Eneas Comiche foi eleito com 73.3% de votos, numa sessão que foi antecedida nas últimas semanas por um processo de escolha dos pré-candidatos, que foi manchado pela contestação de alguns candidatos como Samora Machel Júnior, filho do primeiro Presidente de Moçambique.
Alexandre Chire não acredita que este facto vá fragilizar a FRELIMO nas próximas eleições. "É um processo em que ganham uns e perdem outros. Quer dizer que há opções. O partido FRELIMO, tanto quanto sei, tem muitos quadros e escolheu aqueles quadros que achou que estavam em melhores condições do que os outros", afirma.
Beira: Augusta Maíta vs Manuel Bissopo
Na segunda cidade do país, a Beira, foi eleita como candidata a actual secretária permanente do Governo Provincial, Augusta Maíta. Terá pela frente, entre outros candidatos, o secretário-geral da RENAMO, Manuel Bissopo.
O Movimento Democrático de Moçambique (MDM), o terceiro maior partido, ainda não anunciou oficialmente o seu candidato, mas espera-se que venha a ser o actual presidente do município e líder do partido, Daviz Simango.
Alexandre Chiure antevê que Augusta Maíta não terá tarefa fácil nas eleições, mas destaca que é uma candidata "muito forte, com as suas convições, é uma senhora muito organizada e muito trabalhadora. Vamos ver que futuro ela terá na autarquia."
Sofala é uma província que tem votado muito na RENAMO, lembra ainda o analista, e já faz muito tempo que a cidade da Beira está nas mãos da oposição. "Quer-me parecer que a RENAMO vai entrar no jogo com muita força depois de ter estado ausente nas eleições anteriores", sublinha.
Quelimane e Nampula
Em Quelimane foi eleito Carlos Carneiro, que ocupa actualmente as funções de administrador do distrito com o mesmo nome. Vai disputar o cargo, entre outros candidatos, com Manuel de Araújo, atual presidente do município e que vai trocar o MDM pela RENAMO nas autárquicas.
Alexandre Chiure acredita que Carlos Carneiro não terá igualmente tarefa facilitada.
"Quelimane já está há muitos anos nas mãos da oposição e o actual edil vai novamente concorrer e é uma pessoa que granjeia muitas simpatias junto do eleitorado."
Ainda não foi divulgado oficialmente o cabeça de lista da terceira cidade do país, Nampula, mas a DW África apurou que se trata de Amisse Culolo, membro da Assembleia da cidade e candidato derrotado nas eleições intercalares para presidente do município.
O "boom económico" na cidade de Nampula
Com mais de 60 anos, a cidade de Nampula está em expansão: hotelaria, instituições públicas e melhores vias de comunicação são alguns dos exemplos. Mas há ainda muitos desafios para superar.
Foto: DW/S.Lutxeque
Cidade na rota do desenvolvimento
A cidade de Nampula completa 62 anos de elevação a cidade a 22 de agosto de 2018. Os últimos anos têm testemunhado uma constante em transformação. Novas infraestruturas, como hotéis, centros comerciais, edifícios de serviços públicos, estradas e vias férreas estão a fazer crescer a cidade.
Foto: DW/S.Lutxeque
Mais oferta hoteleira
Nos últimos anos, o setor da hotelaria e turismo é um dos que mais se tem notabilizado, em crescimento e expansão das atividades na cidade de Nampula. Só nos últimos cinco anos, abriram dois grandes hotéis que dão emprego a milhares de moçambicanos. Na foto vê-se o Grand Plaza Hotel, totalmente de capitais moçambicanos e inaugurado em junho passado pelo Presidente da República.
Foto: DW/S.Lutxeque
Novo Palácio da Justiça em Nampula
A cidade recebeu um dos maiores empreendimentos do setor judiciário que acolhe várias instituições, nomeadamente, a Procuradoria, o Serviço Nacional de Investigação Criminal, o Tribunal Judicial, o Instituto de Patrocínio e Assistência Jurídica, e a Administração do próprio Palácio da Justiça. O empreendimento foi construído de raiz e ocupa uma área de mais de dois quilómetros quadrados.
Foto: DW/S.Lutxeque
Centros comerciais desenvolvem economia
Com a descoberta e exploração de vários recursos minerais e naturais na província, muitas empresas, na sua maioria de origem estrangeira, fixam-se em Nampula. Muitas arrendam escritórios em centros comerciais. Um dos exemplos é o Milénio Center, construído nos últimos anos. Fornece serviços de aluguer de escritórios, lojas, cafetarias, estabelecimentos bancários entre outros.
Foto: DW/S.Lutxeque
Proliferação de quiosques "take-away"
Não são só as grandes empresas que contribuem para desenvolver a cidade. Também há um aumento de quiosques que confecionam e vendem produtos na via pública. Desde 2016, só na cidade de Nampula, as autoridades já municipais já licenciaram centenas destes estabelecimentos para o exercício de atividades. Em quase todas ruas existem quiosques, vulgarmente conhecidos por "take-away".
Foto: DW/S.Lutxeque
Mais e melhores estradas na cidade
A reabilitação e construção de estradas, em vários pontos do centro da cidade foi um dos marcos dos últimos cinco anos. Boas estradas são uma necessidade para responder ao aumento do parque automóvel que se vem registando desde a independência do país, sobretudo nos últimos anos.
Foto: DW/S.Lutxeque
Grande investimento em ferrovias
A cidade de Nampula, está localizada ao longo do Corredor de Nacala, considerado o "pulmão" económico da província. É atravessada por uma linha férrea que liga ao distrito de Nacala-a-Velha a Moatize, com passagem pelo vizinho Malawi, numa extensão aproximada de 900 quilómetros. A linha representa um investimento de quase 4 mil milhões de euros.
Foto: DW/S.Lutxeque
Filial do Banco de Moçambique
Na foto vê-se a filial do banco de Moçambique em Nampula. O Banco Central investiu cerca de 240 milhões de dólares nas obras de construção da sua nova sede em Maputo e nas filiais de Nampula e Xai-Xai, bem como na reabilitação e ampliação das filiais de Chimoio e Beira.
Foto: DW/S.Lutxeque
Casas modernas em construção
"Modern Town-Nampula" é um grande projeto de construção que se prevê que resulte em 1800 casas construídas de raiz, no bairro de Mutauanha, numa zona de expansão. Este projeto projeto do Governo moçambicano, através do Fundo de Fomento de Habitação foi lançado em setembro do ano passado e prevê atribuir habitação aos jovens a título de crédito.
Foto: DW/S.Lutxeque
Mercado Municipal também mais moderno
O Mercado Municipal, vulgarmente conhecido por Mercado Central, é um dos mais antigos estabelecimentos comerciais que sobrevive até aos dias de hoje. Esta infraestrutura já passou por reabilitações e vai sobrevivendo aos maiores e atuais estabelecimentos comerciais. Antigamente, eram vendidos vestuários e diversos eletrodomésticos. Agora, limita-se a produtos de primeira necessidade.
Foto: DW/S.Lutxeque
Construção da estrada Nampula-Nametil
A estrada que liga a cidade de Nampula a Nametil, sede do distrito de Mogovolas, já está em construção. São mais de 70 quilómetros. Os cidadãos consideram que vai alavancar a economia, pois vai ligar, e assim, aproximar, uma zona de produção à cidade.
Foto: DW/S.Lutxeque
Bairros periféricos excluídos do "boom"
A cidade de Nampula conta com mais de um milhão de habitantes e dispõe de cerca de 18 bairros. Começam também a surgir zonas de expansão, onde muitos não beneficiam, na sua totalidade, do "boom" económico que a cidade ultrapassa. A degradação de estradas ou mesmo falta de vias de acesso, bem como a falta de corrente elétrica, água potável e lixo abundante são alguns dos problemas.