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Autárquicas: "FRELIMO quer ganhar a todo o custo"

11 de outubro de 2023

Em entrevista à DW, Edson Cortez, presidente do consórcio Mais Integridade, diz que estas foram das piores eleições de sempre em Moçambique. E compara todo o processo ao filme "O Estranho Caso de Benjamin Button".

Eleições autárquicas em Moçambique
Foto: Amos Zacarias/DW

Os moçambicanos foram hoje a votos, mas o país está "cada vez pior" no processo de gestão de eleitoral. É a impressão de Edson Cortez, do consórcio Mais Integridade, que lidera um grupo de observadores da sociedade civil a partir de Nampula.

"Somos tão maus que nunca saímos de onde estamos", afirma Edson Cortez em declarações à DW África. Os problemas começaram logo na acreditação dos observadores, acrescenta.

DW África: Como decorreram estas eleições autárquicas em Moçambique?

Edson Cortez (EC): Este processo de eleições parece o célebre filme de Brad Pitt, "O Estranho Caso de Benjamin Button". No filme, o Benjamin Button nascia velho e morria jovem, tinha um ciclo de vida inverso à normalidade das pessoas – e Moçambique parece isso.

Estamos nas sextas eleições autárquicas e estamos cada vez piores no processo de gestão eleitoral. Ou então as redes sociais, os telemóveis e a capacidade de rápida comunicação e denúncia mostram-nos que nunca evoluímos. Somos tão maus que nunca saímos de onde estamos.

DW África: Que tipo de irregularidades observou?

EC: Para já, há uma dificuldade imensa em observar eleições em Moçambique. Nós solicitámos mais de 400 credenciais só para a cidade de Nampula, onde eu estou neste momento, e só ontem, por volta das 20h00, nos deram parte das credenciais. Isso coloca-nos imensas dificuldades de gestão e logística.

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Depois, quando os crachás de observadores chegam, alguns estão plastificados, mas outros não. E quando os observadores vão para os locais de votação, o presidente da mesa recusa-lhes a entrada, porque os crachás não estão plastificados.

DW África: Onde é que isso aconteceu?

EC: Em várias escolas da cidade de Nampula. Um terceiro ponto é que é exigida aos observadores a apresentação de credenciais. Ora, se o Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE) não consegue prover os crachás de observação a tempo e horas, como é possível obter também a credencial?

Portanto, dificultam a vida dos observadores e criam embaraços.

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Estivemos numa escola em que constatámos enchimento de urnas - delegados do partido FRELIMO estavam envolvidos. Isto num contexto em que a FRELIMO anunciou que vai ganhar tudo em Nampula e no resto do país. E isso é lógico. É claro que, usando estes artifícios, a FRELIMO vai ganhar em todas as autarquias.

DW África: Ou seja, as eleições em Nampula não foram justas nem transparentes?

EC: Pelo que estou a ver até agora, não me parece que seja um processo transparente. É um processo de "marteladas", em que se tem de ganhar a todo o custo.

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