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Protesto em Quelimane termina em confronto com polícia

DW (Deutsche Welle) | Lusa
14 de novembro de 2024

Polícia usa gás lacrimogêneo para dispersar marcha pacífica liderada pelo autarca Manuel de Araújo, que denuncia tentativa de silenciar protestos contra resultados eleitorais.

Manuel de Araújo durante protesto em Quelimane
Autarca de Quelimane confirma disparos de gás lacrimogéneo contra si e manifestantesFoto: Marcelino Mueia/DW

O autarca de Quelimane, Manuel de Araújo, quadro da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), confirmou hoje que a polícia disparou na quarta-feira gás lacrimogéneo contra si e a população com intenção de acabar com "marchas pacíficas" no município.

"Bloquearam-nos literalmente, lançaram gás lacrimogéneo à nossa frente, lançaram gás atrás de nós, à nossa esquerda e lançaram gás à nossa direita", disse o presidente do município de Quelimane, numa declaração enviada à Lusa.

As forças policiais moçambicanas dispersaram a população em Quelimane, na província da Zambézia (centro), com recurso a gás lacrimogéneo, após marchas convocadas para quarta-feira pela Renamo contra os resultados eleitorais de 09 de outubro, que culminariam com a receção do autarca de Quelimane no aeroporto local, após uma visita ao exterior.

Gás lacrimogêneo em protesto pacífico

Habitualmente, adiantou o autarca, quando regressa de uma viagem do exterior, a população local se faz ao aeroporto para a sua receção, altura em que faz o relatório aos munícipes sobre os resultados alcançados.

 "Quando começaram disparar gás nem tínhamos por onde ir, ficamos sufocados e foi aí que a população começou a defender-se, a queimar pneus, a ir à nossa direção para nos socorrer até à altura que consegui sair do local", descreveu o político.

"A polícia lançou gás lacrimogéneo sem necessidade", lamentou AraújoFoto: Marcelino Mueia/DW

"O meu sentimento é que existe alguém, no comando geral da polícia, que não gosta das marchas pacíficas da cidade de Quelimane, daí que ontem [quarta-feira] não permitiram uma prática que já dura há 14 anos e sempre que regresso do exterior, a população vem-me receber ao aeroporto", apontou.

O responsável disse ainda que entrou em contacto com vários membros do governo provincial e central visando explicar a situação, entretanto, sem sucesso, mas garantiu que as marchas realizadas naquela cidade "não interferem" na atividade económica.

"A polícia lançou gás lacrimogéneo sem necessidade", lamentou Araújo, que também cabeça-de-lista da Renamo para eleição de governador da província da Zambézia nas eleições de 09 de outubro, em que a Comissão Nacional de Eleições (CNE) declarou vencedor o candidato da Frelimo, Pio Matos.

Manifestações pelo país

Moçambique, e sobretudo Maputo, viveram paralisações de atividades e manifestações convocadas desde 21 de outubro pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados das eleições gerais, anunciados pela CNE e que dão vitória a Daniel Chapo e à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder).

Moçambique vive paralisações de atividades e manifestaçõesFoto: Siphiwe Sibeko/REUTERS

Mondlane pediu um novo período de manifestações nacionais em Moçambique, durante três dias, a partir de quarta-feira, em todas as capitais provinciais, incluindo Maputo, contestando o processo eleitoral.

Um protesto que Mondlane pediu para ser alargado aos portos e às fronteiras do país, e aos corredores de transporte que ligam estas infraestruturas, apelando à adesão dos camionistas: "Não obrigamos ninguém a aderir à manifestação. Passamos os valores da manifestação e quem quiser adere".

O comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM) Bernardino Rafael, disse na terça-feira que é preciso um "basta" às manifestações e paralisações, referindo que são "terrorismo urbano" com intenção de "alterar a ordem constitucional".

Na terça-feira, os empresários moçambicanos estimaram em 24,8 mil milhões de meticais (354 milhões de euros) os prejuízos causados em 10 dias de paralisações e manifestações, durante as quais 151 unidades empresariais foram vandalizadas.

O Ministério Público (MP) moçambicano já instaurou 208 processos-crime para responsabilizar os autores "morais e materiais" da violência nas manifestações pós-eleitorais, anunciou também na terça-feira a Procuradoria-Geral da República (PGR), responsabilizando o candidato presidencial Venâncio Mondlane.

A PGR referiu que, no "âmbito das suas competências constitucionais e legais", o MP "tem estado a instaurar processos judiciais, visando a responsabilização criminal" dos autores "morais e materiais", e "cúmplices destes atos".

Manuel de Araújo candidato a governador da Zambézia

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