Mocímboa da Praia: Autarquia "ameaça" fucionários fugitivos
Lusa
11 de maio de 2022
A organização não-governamental Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD) acusa o Conselho Municipal de Mocímboa da Praia de dar "10 dias para que os funcionários regressem", sob pena de sofrerem consequências.
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Numa nota distribuída à comunicação social, o CDD, que cita um despacho assinado pelo autarca de Mocímboa da Praia, Cheia Carlos Momba, refere que o conselho municipal deu um prazo de 10 dias para que todos os funcionários regressem ao município, sob pena de sofrerem medidas administrativas.
"Esta não é a primeira vez que as autoridades locais dos distritos afetados pela extrema violência no norte de Cabo Delgado convocam funcionários para se apresentarem às respetivas instituições, sob pena de serem sancionados", acrescenta-se na nota do CDD.
Ainda sem condições para o regresso
A organização não-governamental entende que a vila não dispõe ainda de condições de segurança para o regresso das comunidades, lembrando a ocorrência de ataques recentes confirmados pelas autoridades que ocorrem em distritos próximos, como Nangade e Macomia, que ficam a 143 quilómetros e 131 quilómetros da sede de Mocímboa da Praia, respetivamente.
O CDD critica ainda o regresso de cerca de 1.500 pessoas às suas casas na localidade de Auasse, também na vila da Mocímboa da Praia. Mocímboa da Praia está situada 70 quilómetros a sul da área de construção do projeto de exploração de gás natural, em Afungi, Palma, conduzido por várias petrolíferas internacionais e liderado pela Total. A Lusa tentou, sem sucesso, contactar o autarca.
Quase tudo por reconstruir
Após mais de um ano nas "mãos" de rebeldes, Mocímboa da Praia, uma das poucas zonas urbanas do norte da província de Cabo Delgado, foi saqueada e quase todas as infraestruturas públicas e privadas foram destruídas, bem como os sistemas de energia, água, comunicações e hospitais.
No total, cerca de 62 mil pessoas, quase a totalidade da população, abandonaram a vila costeira devido ao conflito nos últimos quatro anos, com destaque para as fugas em massa que ocorreram após a intensificação das ações rebeldes em junho de 2020.
Há 784 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
Desde julho de 2021, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), permitiu recuperar zonas onde havia presença de rebeldes, mas a fuga destes tem provocado novos ataques noutros distritos usados como passagem ou refúgio temporário.
O regresso da vida pós destruição em Cabo Delgado
Apesar da tendência de retorno das populações às zonas de origem, várias aldeias ainda continuam desertas e o cenário de destruição é visível nessas comunidades.
Foto: DW
Sensação de paz em Macomia
O distrito de Macomia já registou o regresso de grande parte da sua população que se havia evadido para outras zonas com a escalada da violência protagonizada pelos insurgentes, localmente conhecidos por "al-shababes". Na vila, atividades comerciais ganham terreno. Mas a população pede ainda a permanência do exército para lhes proteger. O desejo dos residentes é que a paz tenha vindo para ficar.
Foto: DW
Serviços públicos em Mocímboa da Praia
Após a recuperação do território, em agosto de 2021, as autoridades estão empenhadas no restabelecimento dos serviços públicos de modo a impulsionar o retorno da população que se refugiou em comunidades de Cabo Delgado. O Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos comprometeu-se em alocar escritórios moveis ao governo de Mocímboa da Praia para fazer face à escassez de infraestruturas.
Foto: DW
Local do massacre de Xitaxi
A 7 de abril de 2021, na aldeia de Xitaxi, no distrito de Muidumbe, os terroristas terão morto a sangue frio um grupo de 53 jovens num campo de futebol (ao fundo da imagem). Aparentemente, a causa da chacina foi a recusa desses jovens, que haviam sido raptados localmente e em aldeias já atacadas, em juntar-se ao movimento rebelde que devasta Cabo Delgado desde o ano de 2017.
Foto: DW
Forças Armadas na estrada
A estrada N380 liga o distrito de Ancuabe a Mocímboa da Praia. A via permaneceu intransitável com a escalada da violência terrorista em aldeias atravessadas pela rodovia. Com as ações terroristas enfraquecidas, a N380 voltou a ser transitável, embora de forma tímida. Veículos militares patrulham constantemente, para garantir que nenhuma situação de alteração da ordem venha a verificar-se.
Foto: DW
Destroços visíveis
Sucatas de veículos destruídos denunciam a quem por aqui passa, cenários de violência vividos na estrada principal que liga sul, centro e norte da província.
Foto: DW
Bens abandonados
Terroristas bloquearam durante um ano o acesso aos distritos no norte, com destaque para Mueda e Mocímboa da Praia, com o assalto ao posto de controlo policial no cruzamento de Awasse. Após o seu desalojamento pela força conjunta Moçambique-Ruanda, os terroristas abandonaram alguns dos seus bens, em caves que serviam de esconderijos.
Foto: DW
Ruínas
Casas abandonadas e em ruínas e zonas residenciais tomadas pelo capim são o retrato que se repete em diversas aldeias ao longo das estradas N380 e R698. Denunciam também a crueldade dos terroristas.