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CriminalidadeAlemanha

Alemanha investiga autor de atropelamento mortal

nn | com agências
22 de dezembro de 2024

O Ministério Público de Magdeburgo investiga o ataque que matou cinco pessoas numa feira de Natal. O suspeito, Taleb A, terá planeado o ato, movido por descontentamento com políticas de refugiados.

Polícia percorre mercado de Natal de Magdeburgo, agora encerrado
Polícia percorre mercado de Natal de Magdeburgo, agora encerradoFoto: Sebastian Kahnert/dpa/picture alliance

O Ministério Público de Magdeburgo, no leste da Alemanha, continua a investigar o atropelamento múltiplo que tirou a vida a pelo menos cinco pessoas naquela cidade na última sexta-feira, enquanto surgem novos detalhes sobre a vida do alegado autor do ataque, o médico saudita Taleb A, e as suas possíveis motivações.

As vítimas mortais são um menino de 9 anos e quatro mulheres adultas. Entre os 200 feridos, alguns encontram-se em estado grave, e não se descarta a possibilidade de o número de mortes vir a aumentar.

No âmbito da investigação, a polícia e o Ministério Público de Magdeburgo conseguiram reconstruir as circunstâncias exactas do incidente.

Taleb A, ao volante de um BMW preto, entrou na feira de Natal da cidade por volta das 19h, aproveitando o único ponto onde não havia barreiras para impedir a passagem de veículos. Utilizou ainda a rota destinada a ambulâncias e veículos de emergência em caso de necessidade no local.

A polícia iniciou de imediato a perseguição e, pouco tempo depois, conseguiu deter Taleb A. Um agente envolvido na captura afirmou à imprensa alemã que o suspeito praticamente se entregou após destruir parte da feira de Natal e deixar o carro completamente inutilizado.

Autor vive na Alemanha desde 2006

A identidade do homem, ou pelo menos o seu primeiro nome, Taleb, foi posteriormente confirmada pelo Ministério Público. A imprensa alemã identificou-o como Taleb A, seguindo a prática de não divulgar nomes completos de arguidos em processos criminais.

Flores, velas e mensagens depositadas junto a uma igreja de Magdeburgo em memória das vítimasFoto: Michael Probst/AP/picture alliance

O homem nasceu em Hufuf, na Arábia Saudita, em 1974, e chegou legalmente à Alemanha em 2006, com passaporte e visto, para se especializar em psiquiatria após estudar medicina no seu país de origem.

Em 2013, foi condenado em Rostock, no leste da Alemanha, ao pagamento de uma multa por ter feito ameaças, depois de parte da sua formação médica obtida na Arábia Saudita não ter sido reconhecida.

Essa condenação, contudo, não foi um impedimento para que recebesse asilo na Alemanha em 2016. No seu pedido de asilo, alegou que, caso regressasse à Arábia Saudita, seria executado por se ter afastado do Islão, baseando a sua alegação num incidente com o adido cultural da embaixada saudita.

Durante os anos que viveu na Alemanha, trabalhou como psiquiatra num hospital em Bernburgo, a 45 quilómetros de Magdeburgo, e esteve envolvido na reabilitação de criminosos toxicodependentes.

Taleb A ganhou alguma notoriedade como crítico do Islão. Existem registos de duas entrevistas suas nos arquivos dos jornais Frankfurter Rundschau e Frankfurter Allgemeine, agora republicadas sem o seu apelido. Além disso, destacou-se como activista, ajudando mulheres sauditas a fugirem do seu país para pedir asilo na Alemanha.

A determinada altura, a sua rejeição ao Islão assumiu contornos extremistas, levando-o a manifestar publicamente simpatia pelo partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) e a juntar-se aos que acusam a ex-chanceler Angela Merkel de conspirar para islamizar a Europa.

"Como não há pena de morte na Alemanha, Angela Merkel deveria passar o resto da vida na prisão pelo seu projecto secreto de islamizar a Europa. Mas, se a pena de morte for reintroduzida, ela merece ser executada", escreveu Taleb A na rede social X a 5 de dezembro, numa mensagem citada pelo Der Spiegel, que foi posteriormente apagada.

Até agora, o Ministério Público manteve-se reservado sobre as motivações de Taleb A, confirmando apenas que estas parecem incluir descontentamento com o tratamento dado aos refugiados sauditas.

Outro incidente com a lei ocorreu em fevereiro de 2024, quando foi a uma esquadra em Berlim para apresentar uma queixa e ficou insatisfeito com o comportamento dos agentes. Na ocasião, ligou para os bombeiros a pedir aconselhamento jurídico, o que resultou numa nova multa por abuso do número de emergência.

Pessoas juntam-se no exterior da catedral de Magdeburgo em memória das vítimas do ataque de sexta-feira (20.12)Foto: Michael Probst/AP/picture alliance

Delírio persecutório

Nesta altura, Taleb A parecia ter desenvolvido um delírio persecutório alimentado por várias fontes, muitas delas de extrema-direita. Há indícios nas suas redes sociais de que tinha como referência figuras como Elon Musk, o agitador norte-americano Alex Jones ou o extremista britânico Tommy Robinson.

De acordo com relatos da revista Der Spiegel, há cerca de um ano os serviços secretos sauditas alertaram o Serviço de Inteligência Alemão (BND) sobre mensagens publicadas no X por Taleb A que poderiam conter ameaças.

O aviso foi encaminhado ao Departamento Criminal Regional (LKA) do estado da Saxónia-Anhalt, que avaliou não haver perigo concreto.

As autoridades estabeleceram que Taleb A viajou várias vezes entre Bernburgo e Magdeburgo nos meses de novembro e dezembro, ficando hospedado no Maritim Hotel. Suspeita-se que estas deslocações tinham como objectivo familiarizar-se com o local para planear o ataque.

Neste domingo, um pequeno partido de direita, Die Heimat (A Pátria), tentou capitalizar os acontecimentos, organizando uma manifestação em Magdeburgo com faixas onde se lia "Remigração", termo utilizado nos círculos extremistas para defender deportações em massa.

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