Que impactos terá derrame de combustível na baía de Pemba?
DW (Deutsche Welle)
2 de agosto de 2021
Uma comissão multissetorial está desde domingo (01.08) na cidade de Pemba, capital da província moçambicana de Cabo Delgado, para investigar a origem do derrame de cerca de 10 mil litros de combustível no fim de semana.
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Ainda não é conhecido o tipo de combustível envolvido no incidente na baía de Pemba. Estimativas preliminares apontam que cerca de 10 mil litros de combustível espalharam-se pelo mar no sábado (31.07), nas proximidades do porto de Pemba.
A equipa central que trabalha no apuramento das causas promete explicar as razões do derrame esta terça-feira (03.08). "Pelo ambiente que se vive na zona e o tipo de máquinas que são abastecidas, a primeira impressão é que se trata de gasóleo, vulgo ‘diesel'. Porque essas máquinas, algumas delas não funcionam com gasolina. Grande parte delas usa combustíveis pesados e então só pode ser gasóleo", explica Moisés Paulino, diretor nacional de Hidrocarbonetos e Combustíveis; que integra a lista dos técnicos que investigam o incidente.
A baía onde se deu o incidente está nas proximidades dos armazéns de combustíveis da empresa Petróleos de Moçambique (Petromoc). No fim de semana, a empresa recebeu um navio transportando combustível para abastecer os reservatórios da empresa.
O diretor de operações da firma, Vicente Fringe, disse este domingo (01.08) que ainda não foi detectada qualquer ligação com o derrame registado. "O navio chegou e atracou após a ocorrência deste incidente. Portanto, está sendo feita neste momento a bombagem do produto do navio para as nossas instalações. Foi feito um trabalho de inspeção da linha mais que uma vez", disse.
Ainda de acordo com o responsável da Petromoc, "não está fechado o trabalho, a comissão que foi criada nem sequer terminou o seu trabalho e estes são os dados preliminares que existem."
Danos ambientais
Após o derrame do combustível, dezenas de populares retiraram restos do líquido inflamável já misturado com água salgada da baía de Pemba.
A Agência Nacional para o Controlo da Qualidade Ambiental (AQUA) alerta para danos ambientais e defende a responsabilização dos possíveis culpados pelo derrame do produto no mar. Mário Parina, representante da AQUA, também alerta para danos que podem ter sido causados pela população que retirou o líquido do mar.
"Podia ser indício de contaminação do mar e a presença de alguns microrganismos já mortos felizmente até ao momento não aconteceu. O único impacto negativo neste momento é a contaminação dos solos que foi provocada pela população que ia transportando combustível para os seus benefícios", explica.
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Mototaxistas preocupados
A presença e circulação de combustível misturado com a água do mar, extraído por populares no incidente de sábado, está a preocupar operadores do serviço de mototáxi. Estes receiam que o produto contaminado ou alterado possa estar a ser comercializado e coloque em perigo as suas motorizadas.
"Levar combustível que está misturado com água, as viaturas ou motas podem correr o risco [de se estragarem]. Porque nós comprávamos aquele combustível que se vende em galões nos bairros", afirma o mototaxista Chaual Manuel. "Sendo assim, não vamos poder comprar mais porque esse é um problema grave. A polícia deve investigar qualquer pessoa que apanhe a vender combustível", defende.
"Gastamos dinheiro para comprar motorizada, vamos comprar esse combustível para pôr nas nossas motas e ela vai gripar, não vai funcionar, logo o prejuízo é nosso", concorda outro mototaxista. Joaquim Arcanjo apela, por isso, aos colegas "para quando virem o combustível nos bairros vendido a menor preço, não vale a pena comprar."
A polícia ainda não se pronunciou sobre a circulação de combustível recolhido no mar pela população.
Ogoniland – O dia a dia após o derrame de petróleo
Apesar de gerar receitas, o petróleo também causa desilusão na região de Ogoniland, no Delta do Níger. A pesca tornou-se quase impossível nas águas contaminadas e o ar está poluído pelos gases tóxicos da queima de gás.
Foto: Katrin Gänsler
Pesca ineficaz
A aldeia de Bodo, na Nigéria, sempre viveu da pesca. Mas desde os derrames de petróleo no Delta do Níger, em 2008 e 2009, as redes dos pescadores estão vazias. Quem hoje em dia ainda pretende viver da pesca tem de ir para o mar, o que significa mais horas de trabalho e custos mais elevados.
Foto: Katrin Gänsler
Dependentes da água
Bodo fica na região de Ogoniland, no Delta do Níger, no extremo sudeste do país. Aqui, quase todos os canais do Níger estão contaminados por petróleo. E as pessoas sempre viveram na e com a água. Ainda hoje muitos vilarejos só são acessíveis por barco.
Foto: Katrin Gänsler
Manchas de petróleo por toda a parte
O caso do derrame de petróleo em Bodo e noutras partes de Ogoniland também foi abordado pelo Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente (PNUMA). Num relatório publicado em agosto de 2011, o PNUMA recomendou que o governo e as petrolíferas disponibilizem mil milhões de dólares para trabalhos de limpeza. No entanto, as manchas de petróleo, que reluzem na água, continuam até agora.
Foto: Katrin Gänsler
O meio ambiente não tem interesse na Nigéria
Saint Emmah Pii, o chefe da aldeia de Bodo, está zangado. “Estamos todos a morrer aqui. Bebemos água contaminada. Inalamos fumos tóxicos. A culpa é do petróleo.” Fora de Bodo, no entanto, ninguém parece preocupado. “Até ao momento, nem o governo em Abuja nem mesmo as multinacionais se interessaram pelos nossos problemas”, lamenta o chefe da aldeia.
Foto: Katrin Gänsler
Nada funciona sem o ouro negro
Desde o início da produção de petróleo, em 1958, a Nigéria tornou-se no oitavo exportador de petróleo no mundo. O Estado depende fortemente do ouro negro, do qual advém 90% das receitas de exportação. Cerca de 80% dos impostos do país derivam da produção do crude. Oleodutos como estes no estado de Rivers têm, portanto, de ser tolerados.
Foto: Katrin Gänsler
Na sombra das chamas de gás
Em todo o Delta do Níger, chamas como estas aparecem de repente. E não importa se a aldeia mais próxima fica a poucas centenas de metros de distância. Aqui, a queima de gás é oficialmente proibida desde 1984. Porém, 28 anos depois, ninguém se preocupa com o cumprimento da lei.
Foto: Katrin Gänsler
Tão ricos, tão pobres
Furioso, Chukwuma Samuel mostra as chamas de metros de altura com as quais ele e toda a aldeia têm de viver perto da pequena cidade de Egbema. “Olhem para as pessoas aqui. Elas estão indignadas”, diz, apontando para o pequeno mercado em que se encontra. “Estamos a sofrer aqui. Temos de lutar. Para nós, não sobra nada da riqueza do petróleo.”
Foto: Katrin Gänsler
O povo deve decidir
As petrolíferas não gostam de ouvir que não se importam com as pessoas. Portanto, o Grupo Shell anunciou um programa chamado GMoU - "Memorando de Entendimento Global". Os municípios recebem o dinheiro e decidem eles mesmos o que fazer com ele. Na maior cidade do Delta do Níger, Port Harcourt, o Hospital de Obio Cottage foi renovado. Todos os pacientes elogiam o empenho da Shell.
Foto: Katrin Gänsler
Bodo sem qualquer apoio
Contudo, a Bodo não chegou qualquer apoio, critica Kentebe Ebiaridor da organização de defesa ambiental Environmental Rights Action (ERA). E a maior prova disso são as margens sujas de petróleo. "As pessoas estão desiludidas", diz.
Foto: Katrin Gänsler
Petróleo barato do governo
Que a Nigéria é um país produtor de petróleo, os nigerianos só o notam nos preços da gasolina subsidiados pelo Estado. Até o final de 2011, um litro de gasolina custava 65 nairas (32 cêntimos). No início de 2012, o governo acabou com uma parte dos subsídios. Isto causou uma onda de protestos. Atualmente o litro custa 97 nairas (50 cêntimos), bem menos do que em muitos outros países de África.
Foto: Katrin Gänsler
A sonhar com uma pequena loja
Franziska Zabbey nada sabe sobre os preços da gasolina barata. Vive da terra e raramente sai de Bodo. O dinheiro que ganha mal lhe chega para sobreviver. “Se a Shell nos pagar uma indemnização pelo derrame de petróleo, eu poderia abrir uma pequena loja”, espera. Tudo o resto teria pouco futuro em Bodo.
Foto: Katrin Gänsler
Pescadores para sempre
Apesar de ser quase impossível viver da pesca, os barcos de pesca de Bodo são bem preservados. Quando voltarão a poder ser usados como antigamente não se sabe bem. As Nações Unidas estimam que irá demorar entre 25 e 30 anos até Ogoniland ficar limpa do petróleo.