Angola diz ter em curso operação contra "rebelião"
rl | bn | Lusa
14 de setembro de 2022
Ativista Zola Álvaro foi detido em casa. Outras três pessoas foram detidas após serem entrevistados pela agência Lusa sobre um protesto. Serviço de Investigação Criminal confirma ter em curso operação contra "rebelião".
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O ativista Zola Álvaro, do movimento cívico Mudei, foi detido, na manhã desta quarta-feira (14.09), alegadamente por efetivos do Serviço de Investigação Criminal (SIC), na sua residência no distrito urbano do Kikolo, município de Cacuaco, província de Luanda.
A denúncia foi feita pela família do jovem, que afirma que as autoridades invadiram a sua casa sem mandado de prisão.
"Chegaram a casa, bateram à porta e perguntaram quem era o Zola Álvaro. Ele respondeu e eles mandaram-no levantar e ir com eles. Como somos vizinhos, ouvimos os gritos e saímos para saber o que se passava. Eles disseram que eram do SIC geral", contou um familiar de Zola Álvaro.
A detenção acontece depois do ativista ter sido ameaçado de morte por pessoas não identificadas, alegadamente por fazer parte de um grupo de cidadãos que trabalhou para a contagem paralela das eleições gerais de 24 de agosto.
Após a denúncia nas redes sociais da detenção de Zola Álvaro, surgiram gritos de socorro de outro jovem crítico da governação do MPLA. Xitu Milongo, membro da associação Plataforma Cazenga em Ação, escreveu a um colega a dar conta de que o tinham tentado sequestrar e que se encontrava "escondido".
Estas denúncias acontecem num momento que as autoridades preparam a investidura de João Lourenço, Presidente eleito nas eleições de agosto, cujos resultados são protestados pela oposição e por vários cidadãos.
Em declarações à DW África, o porta-voz do SIC, Manuel Halaiwa, diz não ter conhecimento da detenção de ativistas, mas confirma que está em curso uma operação que visa deter cidadãos que estejam a "incitar a rebelião".
"Várias pessoas estão detidas por incitação à violência. Não tenho como precisar o número agora, mas continuam a ser feitas várias detenções por incitação à violência, sobretudo no âmbito dos dados eleitorais".
Manuel Halaiwa esclarece que os cidadãos são livres de realizarem protestos, "o que não é permitido é a incitação à violência e atos de rebelião. Vandalismo, desordem pública e arruaça não são permitidos por lei. A própria lei penal sanciona este tipo de conduta", acrescenta.
Mais detenções em Luanda
Também, esta quarta-feira, em Luanda, a polícia impediu a realização de uma manifestação e procedeu à detenção de várias pessoas no local.
Especial DW: Tomada de posse e manifestações em Angola?
35:05
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O protesto, publicitado nas redes sociais, e que tinha como objetivo protestar contra a fraude eleitoral, deveria ter início no cemitério de Santa Ana. No entanto, e como contaram à Lusa várias testemunhas, as autoridades impediram a sua realização e detiveram vários manifestantes, três dos quais após terem sido entrevistados pela agência de notícias.
Benvinda Bango afirmou que, quando chegou, por voltas das 12h30 deparou-se já com "um grupo de jovens no carro da polícia".
"Parei para ver, mas um polícia intimidou-me a perguntar o que estava ali a fazer", disse. "Acredito que não fizeram absolutamente nada. Aqui em Angola não precisa de fazer nada, basta o Governo lourencista decidir, que eles [a polícia] fazem".
Guilherme Luciano foi também ao cemitério para se juntar à manifestação: "Desde que chegámos, vi jovens serem presos por motivos que nem se sabe, só porque vieram", contou o cidadão, que se deslocou da Huíla para denunciar "o roubo de votos e a fraude" e "dar força aos ativistas".
Várias pessoas foram também detidas quando passavam pelo cemitério, junto a uma das principais avenidas de acesso a Luanda e que, desprevenidas, tentaram fugir pela estrada, sendo perseguidas pela polícia.
Angola: As eleições em imagens
Esta quarta-feira é dia de Angola decidir quem será o próximo Presidente e os deputados da Assembleia Nacional. A DW compilou as imagens desta manhã de eleições, no dia em que 14 milhões de angolanos vão às urnas.
Foto: Adolfo Guerra/DW
Longas filas no dia de decidir
As mesas de voto só abriram às 07h00, mas as filas para votar nas eleições mais disputadas de sempre em Angola começaram a formar-se bem cedo. Cabe aos eleitores decidir se "a força do povo" continua do lado do MPLA, mantendo no poder o partido que governa o país desde a independência, ou se dizem "sim" ao apelo de mudança da oposição liderada pela UNITA.
Foto: John Wessels/AFP
Oito partidos na corrida
Além dos rivais Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), concorrem Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), Partido de Renovação Social (PRS), Aliança Patriótica Nacional (APN), Partido Nacionalista para a Justiça (P-NJANGO), Partido Humanista de Angola e a coligação Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE).
Foto: António Cascais/DW
Madrugar para votar
Aos 79 anos, Adélia Namalange exerce hoje o seu direito de voto pela quinta vez. A idosa chegou às 5h00 à assembleia de voto número 9658, no município do Lobito, em Benguela, e esperou duas horas pela abertura das urnas, no dia que 14 milhões de angolanos decidem o futuro político do país.
Foto: Daniel Vasconcelos/DW
João Lourenço apela ao voto: "É Angola que ganha"
"Acabámos de exercer o nosso direito de voto, é rápido e é simples", disse João Lourenço, na assembleia de voto n.º 105, em Luanda, convidando os eleitores a fazerem o mesmo. No meio de uma enorme confusão de jornalistas que queriam registar o momento, o candidato do MPLA salientou que todos saem a ganhar: "É a democracia que ganha, é Angola que ganha."
Foto: AP Photo/picture alliance
Adalberto Costa Júnior critica processo
O líder da UNITA votou no bairro 28 de Agosto, em Luanda, onde foi fortemente aplaudido pelos eleitores presentes. "Fiquei satisfeito e votei no meio do meu povo e constatei que a votação está a ser feita sem cadernos eleitorais aos fiscais, apenas um caderno eleitoral na mesa", afirmou Adalberto Costa Júnior, que defendeu mais uma vez a afixação dos resultados nas assembleias de voto.
Foto: John Wessels/AFP
Manuel Fernandes "plenamente" confiante na vitória
Manuel Fernandes, o candidato da coligação Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), votou esta manhã no Bairro Militar, em Talatona, Luanda. Depois de votar, manifestou "plena confiança" no resultado eleitoral do atual terceiro partido com mais assentos no parlamento angolano.
Foto: Borralho Ndomba/DW
"Grande expetativa" de Nimi Ya Simbi é ganhar eleições
Nimi Ya Simbi, candidato da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), votou em Viana, um dos mais populosos municípios de Luanda. Minutos depois, Nimi disse que a sua "grande expetativa é ganhar as eleições." O líder da FNLA acredita que o seu partido "vai vencer" as eleições, "porque quem vai para o combate não vai para perder", tendo enaltecido o cumprimento do seu dever cívico.
Foto: Nelson Francisco Sul/DW
Benedito Daniel exorta à afixação das atas
O candidato do Partido de Renovação Social (PRS) exerceu o seu direito de voto no Instituto Superior Politécnico do Bita, em Luanda. Após votar, Benedito Daniel manifestou um "sentimento de alegria e de dever cumprido", exortando à afixação das atas sínteses nas assembleias. Disse também esperar que a CNE possa corresponder às expetativas dos eleitores.
Foto: DW/M. Luamba
Bela Malaquias insite em "humanizar" Angola
A líder do Partido Humanista de Angola (PHA), Florbela Malaquias, manifestou um "sentimento de realização" após votar e reiterou a promessa de humanizar Angola, "que se encontra completamente desumanizada em todos os sentidos", sublinhou a única mulher a liderar um partido político em Angola, depois de votar no bairro do Maculusso, distrito urbano da Ingombota, em Luanda.
Quintino Moreira, líder da Aliança Patriótica Nacional (APN), sem assento no Parlamento angolano, manifestou-se "otimista" em relação à obtenção de uma "bancada parlamentar vasta", para que não haja maiorias absolutas na "casa das leis", afirmou esta manhã, depois de depositar o seu voto numa assembleia de voto, em Talatona, perto da capital angolana.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Dinho Chingunji contra "Votou, Sentou"
O candidato do Partido Nacional para a Justiça em Angola (P-Njango) considerou hoje as eleições como "ocasião soberana" para escolha dos governantes e exortou os eleitores a esperarem os resultados em casa, contrariando o movimento "Votou, Sentou". Chingunji, que votou no município do Kilamba Kiaxi, em Luanda, exortou "os cidadãos a regressarem para as suas casas e a esperar pelos resultados".
Foto: Borralho Ndomba/DW
CNE diz que está tudo a funcionar
A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) anunciou que as 13.238 assembleias de voto espalhadas pelos 164 municípios angolanos "estão abertas e em perfeito funcionamento" e "não há registo de qualquer incidente" que possa beliscar a votação. Também foram constituídas 45 mesas de voto no estrangeiro, para as quais foram recrutados 105.952 membros.
Foto: António Cascais/DW
UNITA denuncia irregularidades no Bengo
No Bengo, a UNITA chamou os jornalistas para denunciar supostas irregularidades na votação. De acordo com o partido do "galo negro", a CNE local está a proibir que os delegados de lista suplentes exerçam o direito de voto nas assembleias para as quais estão destacados, contrariando, desta forma, uma circular da própria Comissão Nacional de Eleições.
Foto: António Ambrósio/DW
Queixas de eleitores em Cabinda
A votação em Cabinda está a decorrer com alguma normalidade, mas com várias queixas por parte dos eleitores que dizem desconhecer as suas mesas de voto. Os cidadãos são obrigados a percorrer longas distâncias para votar, já que foram colocados em pontos longínquos da província e da capital. E há delegados de lista de partidos que não foram credenciados.
Foto: Simão Lelo/DW
Delegados monitorizam processo
Delegados de lista dos partidos políticos controlam o processo de votação no Bairro da Cuca, em Luanda, a capital. Durante a campanha eleitoral, o polémico movimento "Votou, Sentou", propalado por alguns partidos e membros da sociedade civil, também pediu aos eleitores para permanecerem nas imediações das assembleias de voto.
Foto: Manuel Luamba/DW
O voto da diáspora em Portugal
O ator Daniel Martinho, a viver há cerca de 40 anos em Portugal, foi ao Consulado Geral de Angola em Lisboa votar, feliz por ser a primeira vez que foi dada à comunidade radicada no exterior a possibilidade de exercer o direito de voto. "Era uma aspiração que nos incomodava", contou à DW. "É uma forma de contribuirmos para um país melhor, porque nós na diáspora também fazemos Angola", precisou.