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Criminalidade

Autoridades condenam violência xenófoba na África do Sul

Milton Maluleque (Joanesburgo)
4 de setembro de 2019

Cinco mortos e quase 200 detidos é o último balanço da onda de ataques contra estrangeiros em Joanesburgo. Não há casos confirmados envolvendo moçambicanos e angolanos, mas representantes no país apelam à calma.

Unruhen in Südafrika
Foto: AFP/G. Sartorio

David Makhura, governador da província de Gauteng, que engloba as cidades de Joanesburgo e de Pretória, garante que a recente onda de violência contra estrangeiros, que já fez cinco vítimas mortais desde domingo (01.09), é obra do "crime organizado". As autoridades nacionais e internacionais mostram-se preocupadas. O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, já condenou a violência dirigida essencialmente a imigrantes, sobretudo africanos, que resultou na detenção de pelo menos 189 pessoas.

Também o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, condenou estes ataques, pedindo proteção para potenciais vítimas e suas propriedades no país. Num comunicado divulgado na página da União Africana, o presidente "solicita novas medidas imediatas para proteger as vidas das pessoas e as suas propriedades, assegurar que todos os perpetradores são responsabilizados pelos seus atos e que a justiça seja feita para aqueles que sofreram perdas".

No documento, Moussa Faki Mahamat declarou estar "incentivado pelas detenções" já realizadas pelas autoridades sul-africanas.

De igual forma, a secretária-executiva da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), Stergomena Tax, afirma que a organização "condena com a maior veemência possível" a violência contra cidadãos estrangeiros: "A SADC condena com a maior veemência possível a desumanidade e a violência contra colegas africanos na África do Sul]e as pilhagens e destruição de propriedades", escreveu Stergomena Tax na plataforma social Twitter. Na mensagem, Tax apelou ainda para uma "solução duradoura".

O chefe de Estado sul-africano adiantou que se irá reunir com ministros para "acompanhar o que está a acontecer" e para encontrar formas de acabar com a violência.

Comerciantes na mira dos atacantes

David Makhura, governador da Província de Gauteng, que visitou a região pobre de Alexandra, falou à imprensa de alguns "sindicatos criminosos bem organizados, porque se pode ver como invadem as lojas e o que procuram". 

Autoridades condenam violência xenófoba na África do Sul

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Repudiando a recente onda de violência contra estrangeiros, Makhura defendeu que estes actos "não podem ser justificados pelo desemprego ou por pessoas insatisfeitas". 

As comunidades moçambicana e angolana no país observam os últimos desenvolvimentos com alguma apreensão, embora não haja casos confirmados de vítimas de Moçambique e de Angola.

"Eu acredito que não haja problemas maiores com a comunidade angolana nesse sentido, porque a maior parte dos angolanos não vivem em zonas suburbanas, vivem nas zonas urbanas”, explica Nelo Panzo, Presidente dos Estudantes e da Comunidade Angolana na África do Sul. "Pelo que sei, muitos dos angolanos não são comerciantes, não tem grandes shops [lojas], então acredito que não afectou mesmo muito".

Entretanto, há registo de alianças entre as diferentes nacionalidades de imigrantes como forma de se proteger da fúria dos sul-africanos.

Valdo Machel, comerciante moçambicano em Joanesburgo, afirma que "no Grand Hotel, estão reunidos moçambicanos e nigerianos preparados para lutar com os sul-africanos para proteger o negócio que têm ali ao redor". "Dizem que ainda não sofreram moçambicanos, não sei fora da cidade", acrescenta.

Apelo à calma

Loja saqueada em Turffontein, em Joanesburgo.Foto: AFP/G. Sartorio

Também Abel Nuno, adido de segurança junto do Alto Comissariado de Moçambique na África do Sul, diz que "não consta ter sido atingido algum moçambicano". O responsável garante que a situação está a ser monitorizada.

A polícia escusou-se a revelar a nacionalidade dos detidos e o número de efetivos policiais destacados no combate à recente violência pública, pelo que Abel Nunu, responsável pela segurança junto do Alto Comissariado de Moçambique na África do Sul, deixa o apelo: "Acalmem-se e não se envolvam nessas pilhagens. Estejam apenas a observar nas suas residências. E a polícia sul-africana está garantindo a segurança a todos residentes na África do Sul".

Os ataques na Província de Gauteng terão começado há cerca de duas semanas no bairro histórico do Soweto, alastrando-se na última semana às cidades de Pretória, a capital, e no último final de semana, para Joanesburgo. 

Não é a primeira vez este ano que focos de violência contra estrangeiros emergem na África do Sul. A última vez foi em abril, quando sul-africanos atacaram cidadãos do Malawi, em três bairros de Durban. 

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