Marcha contra subida de preços na TAAG sem autorização
Lusa | mjp
3 de fevereiro de 2018
Protesto visava a subida dos preços nas rotas domésticas da TAAG, atualmente, a única via de ligação da província da Lunda Norte com o resto do país, tendo em conta o mau estado das estradas, segundo os organizadores.
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As autoridades provinciais da Lunda Norte recusaram a autorização para uma marcha no Dundo contra o aumento do preço dos bilhetes pela companhia aérea angolana, TAAG, prevista para este sábado (03.02).
O protesto organizado por um grupo de cidadãos da província angolana da Lunda Norte visava o aumento do preço dos bilhetes de passagem, atualmente, segundo os organizadores da marcha, a única via de ligação daquela circunscrição com o resto do país, tendo em conta o mau estado das estradas.
Como nota prévia, a carta do governo provincial da Lunda Norte refere que a problemática do aumento dos preços dos bilhetes de passagem aérea da TAAG foi já objeto de pronunciamento público dos responsáveis desta companhia, tendo ficado claro que vão ser desenvolvidos estudos de mercado com vista à sua revisão, como uma matéria de natureza conjuntural que se estende a todo o país.
Omissão da morada
Em declarações à agência Lusa, Roberto da Conceição, funcionário público e promotor da marcha, referiu que foi comunicada, na quarta-feira, ao governo da província a realização do ato, que deveria culminar com a entrega de uma petição de repúdio à TAAG pelos altos preços praticados pela companhia.
O governo da província da Lunda Norte apresenta ainda como razão a omissão por parte dos promotores da marcha dos dados referentes à sua morada, o que contraria o estipulado por lei.
"Assim, o Governo Provincial da Lunda-Norte vem por este meio informar aos subscritores que a petição não reúne os requisitos exigidos, pois não foram supridas as insuficiências constantes no artigo 6º, nº 3, da lei em referência, pelo que recomendamos a observância rigorosa do que nesta se contém", lê-se na carta a que a Lusa teve acesso. Roberto da Conceição informou que, em função dessas anomalias, uma nova carta será remetida na segunda-feira, com as devidas correções, ficando assim a marcha transferida para o sábado da próxima semana.
Entrave ao desenvolvimento
Segundo Roberto da Conceição, é bastante alto o preço agora estipulado para o bilhete de passagem, que mais do que duplicou, e não se coaduna com o nível de vida atual da população daquela província diamantífera angolana.
"De acordo com o estilo de vida que a população tem cá na província não ajuda muito essa subida dos preços, aliado ao facto de a empresa MACON (transportadora rodoviária) ter suspendido, temporariamente, as viagens para o leste do país, devido ao péssimo estado das vias. Isso dificultou de uma forma enorme o desenvolvimento da província", lamentou.
O promotor da marcha referiu ainda que não há alternativas para se verem ligados à capital do país. "Somente a TAAG é que tem ajudado a transitar da Lunda Norte para Luanda, em questões de tratamento, férias, formação, compras", referiu.
Acrescentou que a passagem, ida e volta, do Dundo para Luanda tem agora o custo de 84 mil kwanzas, contra os anteriores 34 mil kwanzas, apenas para uma viagem.
As passagens nas rotas domésticas da companhia registaram um aumento no princípio do ano, devido à depreciação da moeda nacional, tendo o kwanza sofrido uma queda de 28%, o que obrigou ao reajuste dos preços.
TAAG anuncia redução
Entretanto, este sábado, a transportadora aérea angolana anunciou a introdução de um mecanismo de gestão de tarifas nas rotas domésticas, prevendo a redução de até 20% do preço, medida que surge após protestos em várias províncias do interior.
Em comunicado, a transportadora aérea de bandeira esclarece ter realizado um "estudo profundo e imediato, nas políticas tarifarias" aplicadas na rede doméstica.
Além da marcha marcada para este sábado, no Dundo, contra as tarifas praticadas pela companhia estatal nas rotas domésticas, outros protestos semelhantes têm surgido em províncias do interior, que alegam que o preço de algumas ligações domésticas é mais caro do que alguns voos internacionais da própria TAAG, como São Tomé e Príncipe, Namíbia ou África do Sul.
Contudo, no comunicado deste sábado, é referido que o conselho de administração da TAAG "aprovou a introdução de um novo modelo tarifário", assente num mecanismo de gestão de tarifas variáveis na emissão de bilhetes de passagem da rede doméstica, que deverá arrancar "no prazo de até duas semanas".
"Este novo modelo de gestão de tarifário, permitirá aos nossos estimados clientes, que adquiram o seu bilhete de passagem, com a devida antecedência, beneficiar de uma redução que pode variar entre 10% a 20% abaixo do preço atual", esclarece a TAAG.
A transportadora aérea estatal refere que a medida vai aplicar-se a todas as rotas domésticas da TAAG, com exceção dos voos para Cabinda, que já beneficiam de uma tarifa especial, aprovada pelo Governo e que entrou em vigor em janeiro.
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
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Foto: DW/R. Krieger
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Foto: DW/R. Krieger
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Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
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…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
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Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
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Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
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O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".